No poupar é que está o ganho
Os portugueses estão nos últimos anos a desvalorizar o conceito da poupança e a sua importância, mesmo aqueles que a poderia fazer. É preciso voltar a poupar.
Em termos muito simples, poupança ou aforro é o dinheiro que temos e que não gastamos. De forma mais ampla, poder-se-á dizer que poupança se refere a toda a receita não destinada ao consumo imediato. Se a poupança é difícil e mesmo impossível para quem tem ou recebe rendimentos de valor baixo, já para quem aufere rendimentos médios ou elevados é natural que esse aforro seja uma prática corrente e continuada.
Porém, os últimos dados que se conhecem sobre a taxa de poupança dos particulares em Portugal dão-nos uma ideia sobre como o conceito de poupança deixou de ter significado mesmo para aqueles que, à partida, teriam reunidas todas as condições para aforrarem.
Segundo os dados do Banco de Portugal de setembro de 2017, a taxa de poupança da Zona Euro era naquela data de 12 %, enquanto em Portugal se situava em 4,40 %. E isto mostra bem o que atrás referimos, evidenciando um aumento do consumo, fruto da retoma de confiança e de melhorias no emprego que os portugueses sentiram no período pós-troika. Claro que a baixa atratividade das taxas de juro também incentivou o consumo. E, segundo o INE, é expectável que os níveis de poupança se mantenham baixos pois não é expectável também um aumento significativo de rendimentos.
Caso a política do BCE seja revertida, disparando as taxas de juro, o cenário descrito poderá alterar-se.
Muito tenho referenciado, desde há anos, a necessidade e a vantagem de criar poupança. Porém, a envolvente geral não é de todo propícia a incentivar o aforro e as medidas incentivadoras para tal tardam a chegar.
Será indispensável não só medidas explicativas da vantagem da poupança nas escolas e junto daqueles que estão a aprender, a crescer e serão os trabalhadores de amanhã, mas também campanhas nacionais sobre porque deveremos poupar, como se relaciona tão intimamente com o investimento, quais podem ser as aplicações dessa poupança e mesmo concedendo vantagens fiscais àqueles que, de forma continuada, o fazem.
Ligada à prudência, a poupança evita ainda os desperdícios e as extravagâncias, ensinando a ser-se económico nas nossas formas de consumir. Há países com diferentes evoluções políticas e que têm uma longa tradição de poupança. É o caso da Itália, com tanta instabilidade e variedade de governos ou do Japão, onde uma recessão de vários anos se instalou e que apresentaram sempre altas taxas de poupança. E isto tem influência importante na própria dívida pública desses países. Embora, nomeadamente no caso da Itália, essa dívida atinja valores elevados relativamente ao respetivo PIB, essa dívida é essencialmente interna, fruto das aplicações da poupança dos seus habitantes.
E no caso da China, a importância da poupança representa já hoje 30 % da poupança mundial. Em 2002, esse valor era apenas de 8 %, mas a expectativa no horizonte temporal dos próximos dez anos é de 50%.
Por enquanto, com o controlo das saídas de capital por parte das autoridades chinesas, esse montante importante de poupança não traz qualquer perturbação à economia, mas com a evolução natural chegará decerto uma altura em que deixará de haver controlo de capitais. A partir desse momento, poderão verificar-se fortes saídas de capitais da China e movimentos dos mercados financeiros causados por escolhas de investimento dos agentes económicos privados desse país.
Em Portugal, a distribuição da poupança pelos vários escalões etários tem maior expressão na faixa dos 45 anos aos 64 anos, mas a faixa etária com maior crescimento de poupança é a que tem mais de 75 anos. Tendo em conta as alterações demográficas que no futuro ocorrerão, é natural que a taxa de poupança geral aumente.
Portugal e os portugueses só terão a lucrar com um crescimento sustentado da taxa de poupança. Temos insistido desde há vários anos nesta ideia porque estamos convictos que esse é o caminho certo. Há que nos consciencializarmos desta realidade, porque no poupar é que está o ganho.
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