Portugal paga mais para emitir dívida a 21 anos

O IGCP emitiu 750 milhões de euros em dois leilões de obrigações do Tesouro com maturidades a sete e 21 anos, num contexto de degradação da perceção do risco face à dívida lusa.

O Tesouro português regressou esta quarta-feira ao mercado para emitir dívida, através de dois leilões de obrigações do Tesouro (OT) a sete e 21 anos. A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) colocou um montante global de 750 milhões de euros, a margem mínima do intervalo previsto que ia até mil milhões. Apesar da elevada procura, os custos de financiamento ficaram acima das anteriores emissões.

O instituto liderado por Cristina Casalinho levantou no mercado 500 milhões de euros em OT, com maturidade em outubro de 2023, a uma taxa de 2,817%. Este valor supera os 2,355% pagos na emissão anterior realizada em julho, com maturidade em 2022 (oito anos), de acordo com dados da Bloomberg.

Já na linha com prazo mais longo – maturidade em abril de 2037 – o Tesouro conseguiu captar 250 milhões de euros, com uma yield de 4,04%, uma taxa acima dos 3,2336% da emissão de OT com vencimento em 2037 levada a cabo em outubro de 2014.

Apesar do agravamento dos custos de financiamento, estas duas emissões beneficiaram de uma elevada procura. No caso da emissão a sete anos a procura superou a oferta em 1,68 vezes, o que compara com o rácio de procura/oferta de 1,46 vezes na operação anterior. Já na emissão a 21 anos, o rácio foi de 2,63 vezes, também acima das 1,85 registadas na emissão anterior.

A degradação das condições de financiamento verificada nestas duas emissões coincide com um período de agravamento das yields nacionais no mercado de dívida. A taxa de juro de referência a 10 anos disparou nas últimas sessões, depois de o Banco central Europeu (BCE) ter decidido manter inalterado o seu programa de estímulos. “Nos últimos dias, toda a dívida europeia viu os prémios de risco a aumentar. A dívida portuguesa seguiu essa tendência e, com a economia nacional numa posição mais frágil, o risco agrava-se”, explica de Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa.

O mesmo especialista desvaloriza, contudo, a degradação das condições conseguidas por Portugal no leilão que se realizou esta manhã. “A procura foi boa e o facto de termos emitido um montante no limite mínimo desejado, quando costuma ser junto ao máximo pode dizer apenas que o IGCP não quis colocar mais dívida. Apesar da subida da taxa, são níveis baixos face ao histórico da dívida portuguesa, salienta Filipe Silva.

Naquilo que considerou ser o primeiro teste à confiança dos investidores na economia portuguesa, depois de Mario Draghi ter considerado adequado o nível de compra de obrigações soberana, Pedro Ricardo Santos, gestor da XTB Portugal, salienta o “excelente rácio de bid/cover” conseguido nesta operação. O mesmo especialista acrescenta ainda que “se é verdade que existe uma clara deterioração das condições de financiamento por comparação a 2015, as taxas verificadas são bastante inferiores àquelas que seriam observadas caso o programa do BCE já tivesse sido extinto”.

“O mercado continua a considerar interessante este tipo de investimento, tendo em conta as reduzidas rentabilidades de investimentos com risco semelhante, evidenciando alguma convicção na alteração futura das características do programa de QE por parte do BCE”, conclui o responsável da XTB.

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