Luxo. Os dias de pessimismo da indústria

  • Bloomberg
  • 15 Setembro 2016

A crise da indústria de produtos de luxo agravou-se depois de a Hermès ter abandonado uma projeção mantida há muito tempo e de a Richemont ter projetado uma queda nos lucros "inaceitável".

A Richemont, fabricante das jóias Cartier, revelou que o lucro operacional do primeiro semestre vai provavelmente cair cerca de 45%, uma queda que o presidente do conselho da empresa, Johann Rupert, considerou “inaceitável”, e alertou que pode ter de aprofundar os cortes de custos. A Hermès, fabricante das bolsas Kelly, que normalmente está entre as empresas mais resilientes do setor, abandonou a meta de crescimento anual de 8% das vendas, substituindo-a pelo que descreveu como “uma meta ambígua”.

O setor lida com mais um ano de queda da procura porque, à campanha da China contra os gastos excessivos, somou-se a queda do turismo após os ataques terroristas na França e na Bélgica, uma situação que Rupert caracterizou como um “fiasco”. A receita da Richemont caiu 13%, excluindo variações cambiais, no período de cinco meses até agosto, abaixo das estimativas dos analistas.

“Os alertas mostram que as incertezas macro e geopolíticas colocam em dúvida o crescimento do volume a curto prazo”, referiu Zuzanna Pusz, analista da Berenberg. “Os desafios enfrentados pela indústria do luxo ainda não acabaram”.

As ações da Hermès caíram 7,7% em Paris, declínio mais agudo em quase três meses, mesmo que o lucro do primeiro semestre tenha superado as estimativas. Até quarta-feira, a ação havia subido 24% neste ano, enquanto outras ações do setor de luxo estagnaram ou caíram. A Richemont caiu 4,6% em Zurique, e a Swatch Group caiu 3,5%.

‘Menos flexíveis’

A Hermès prevê que os lucros serão menores no segundo semestre do que no primeiro, anunciou o CEO Axel Dumas.

“Temos de ser francos e transparentes, tivemos resultados melhores do que esperávamos no primeiro semestre mas há muita incerteza um pouco por todo o mundo e devido à rigidez do guidance estamos menos flexíveis”, disse.

Os ganhos antes de juros e impostos no primeiro semestre subiram para 826,8 milhões de euros, informou a Hermès. Os analistas previam 818,5 milhões de euros, segundo a mediana de 12 estimativas.

Despesas de reestruturação

A Richemont informou que o declínio do lucro operacional no período de seis meses até setembro inclui cerca de 65 milhões de euros em despesas pontuais de reestruturação, mas não as explicou. Os analistas projetavam uma queda de 41%, segundo estimativas compiladas pela Bloomberg.

A empresa com sede em Genebra, que está a cortar empregos na produção de relógios de marcas como Vacheron Constantin, precisa diminuir o ritmo para se ajustar à produra reduzida, disse Rupert na reunião. Fechar lojas e recomprar aos comerciantes os stocks de relógios não vendidos “não bastam”, disse ele.

“Temos de emagrecer até chegar ao nível da procura real do mercado”, sublinhou Rupert. “Atualmente, o mundo tem excesso de todo tipo de produto manufaturado”.

As condições comerciais difíceis deverão continuar no restante do mês, disse a Richemont. “Temos a visão de que o ambiente negativo atual como um todo provavelmente não se reverterá a curto prazo”, afirmou a empresa.

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