Marques Mendes: “Ciclo para fazer acordos terminou. Falta agora o da oposição”

Rio está há 100 dias à frente do PSD. Prometeu recentrar o partido, fazer oposição firme e arrumar a casa. O ECO falou com um ex-líder do partido e um politólogo para perceber que balanço fazem.

Quando venceu as eleições diretas a 13 de janeiro, Rui Rio prometeu fazer “oposição firme” ao Governo e avisou que o partido “não foi fundado para ser um clube de amigos”. Passados 100 dias, o presidente laranja ainda não tem a casa arrumada.

Rio ainda não apresentou uma estratégia económica“, diz ao ECO o antigo presidente do PSD Luís Marques Mendes, explicando que também noutras áreas Rio “devia ser mais claro”. “O líder quando se candidata para o cargo já tem de ter a estratégia na cabeça” e o que está a acontecer é que Rui Rio “faz o diagnóstico, mas não apresenta a terapia”, justifica o conselheiro de Estado.

Marques Mendes dá um exemplo: o PSD tem dito que a carga fiscal está muito elevada. Tudo isto é “diagnóstico e crítica”. “Se fosse Governo o que faria?”, pergunta o também comentador político. Rio não tem de concretizar já “em quanto baixaria o imposto” mas tem de apontar um caminho — uma coisa são as medidas em concreto, outra coisa são as diretrizes. “Tem de dizer, por exemplo, que a sua orientação é a de reduzir a despesa do Estado em x e a carga fiscal em y e que vai dar prioridade a este ou aquele imposto”, explica.

O antigo líder dos laranjas diz que Rio corre dois riscos:

  1. Esta forma de liderar “torna qualquer oposição mais fraca“; e
  2. “Quando vier a ter as alternativas consolidadas pode ser tarde demais”.

O recém-nomeado Conselho Estratégico Nacional reuniu-se este sábado em Coimbra. Neste primeiro encontro, os 32 coordenadores e porta-vozes para as 16 áreas identificadas vão começar a definir uma estratégia para apresentar a Rui Rio. É deste órgão que sairão as bases para o programa eleitoral para as legislativas de 2019.

Marques Mendes acredita que, “no início do próximo ano, as tendências políticas já estão identificadas” e, por enquanto, o líder do PSD anda a “visitar escolas, hospitais e o interior sem ter uma alternativa para avançar”. “A mensagem até agora é curta”, conclui.

Rio anda a visitar escolas, hospitais e o interior sem ter uma alternativa para avançar. A mensagem até agora é curta.

Luís Marques Mendes

Apesar disso, o ex-presidente social-democrata valoriza os acordos políticos assinados na semana passada com o Governo, sobre a descentralização e os fundos comunitários. “Os entendimentos de regime são positivos. O ciclo para fazer acordos terminou. Falta fazer agora o da oposição”, afirmou Marques Mendes ao ECO.

O politólogo António Costa Pinto destaca que nestes 100 dias Rio fez aquilo que disse que faria. “A tentativa de recentrar o partido confirmou-se”, disse ao ECO, justificando que “parece ser claro que está agir de uma forma menos liberal do que Passos Coelho”.

Costa Pinto dá exemplos de posições assumidas por Rui Rio que sustentam esta aproximação ao centro.

  1. A recuperação do efeito da inflação nos salários da Função Pública; e
  2. O modelo de denúncia pública dos grandes devedores à banca quando os contribuintes tiveram de suportar as ajudas ao sistema financeiro.
  3. O acordo sobre os fundos comunitários com o Governo que, “não é uma grande novidade”, mas que a “novidade está na maior publicitação dos acordos”.

Para o investigador do Instituto de Ciência Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, “a ideia de ter um discurso próximo do centro pretende encostar o PS à esquerda”.

A ideia de ter um discurso próximo do centro pretende encostar o PS à esquerda.

António Costa Pinto

A estratégia está já a surtir algum efeito. O primeiro-ministro, António Costa, foi obrigado e lembrar medidas acordadas com Bloco, PCP e Verdes — como fez nas garantias sobre o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) para 2019 — e a assegurar que a estratégia orçamental não vai sacrificar as medidas negociadas e aprovadas para 2018.

Esta estratégia tem, no entanto, um “problema”, já que “vai dando o flanco a críticas internas“.

Além disso, Costa Pinto assinala ainda que, nos primeiros 100 dias, Rio teve dificuldades em se afirmar internamente, já que continua a haver “notáveis com impacto mediático a demarcar-se” da estratégia do líder.

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