O mecanismo de Manuel Pinho

Manuel Pinho continua a fazer “corninhos”, agora para a Justiça e para todos os portugueses. Ao fim e ao cabo, ele serviu-se de nós mas nunca nos respeitou.

Durante os últimos dias, Manuel Pinho tem sido o saco de pancada preferido de comentadores e redes sociais. Reconheço que, ao contrário de outro farsante desmascarado, tem mérito académico, é “visiting scholar”, mesmo e não só de currículo, de diversas universidades, e teve um papel de destaque no Plano Tecnológico. É bom que sejamos honestos ao escrever sobre as pessoas e outros esqueceram-se disso. Agora, quanto a ser o saco de pancada nos últimos tempos, tenho muita pena mas tem todos os motivos para o ser.

Manuel Pinho é só mais um de entre tantos exemplos de um pião das nicas criado no interior do BES. Ali exerceu o cargo de administrador entre 1994 e 2004, saltando então para o Governo após ter sido cabeça-de-lista do PS por Aveiro em 2005. Também já muitos se esqueceram deste pequeníssimo pormenor. Ora, como mencionei, não será caso único. Muitos foram os cargos de topo nados e criados no ninho do antigo Dono Disto Tudo, que depois circularam entre o Governo e universo empresarial do Estado onde, naturalmente, tomaram muitas decisões que deviam ter algum pudor em tomar face às ligações do passado, criando um mecanismo pastoso onde os interesses se tornavam opacos.

No entanto, devemos sempre dar o benefício da dúvida e acreditar na bondade dos actos de quem os pratica, bem como na presunção da inocência até qualquer sentença transitar em julgado. A Justiça investiga 1,2 mil milhões de euros que terão sido dados à EDP e também 1 milhão de euros que o então ministro recebeu do GES, metade desse valor recebido em tranches mensais aquando do Governo liderado por José Sócrates. É uma história do arco-da-velha e única na nossa democracia de 44 anos.

Um dos grandes méritos de Pinho era ter o condão de descobrir um bom boneco para os media. Quando em Agosto de 2008 se conseguiu enfiar na mesma piscina do hotel onde estava o super campeão Michael Phelps, só para aparecer a sorrir como se por um processo de osmose se tornasse também um medalhado olímpico, provou a sua aura de criador de factos. Os “corninhos” para Bernardino Soares em pleno Parlamento foram só o clímax de um desastre comunicacional anunciado.

Antes anunciou que a crise tinha acabado; numa visita à China apontou «uma das cinco razões para os empresários chineses investirem no nosso país é a mão-de-obra barata”; em Milão, «eu vinha cá comprar sapatos italianos, mas fiquei tão impressionado com a qualidade dos sapatos portugueses que vou levar sapatos portugueses. Vinha comprar sapatos italianos porque têm um óptimo nome em termos de design»; e ainda mandou Paulo Rangel ir comer papas Maizena.

Depois disso andou por aí como um ex-ministro salta-pocinhas que já se tinha orientado. Com apartamento em Nova Iorque e com a soberba de ter estragado a casa de Almeida Garret que adquiriu e que, felizmente, muitos denunciaram nas redes socias tal a visibilidade de tão grave crime lesa património. Mas para mim, o que torna tudo ainda mais repugnante é Manuel Pinho ter mandado os seus advogados informar que estava disponível para prestar todos os esclarecimentos – era o que faltava se não os desse – «desde que avisado com antecedência razoável», pois Sua Excelência está na China. Não sei se já perceberam que Manuel Pinho continua a fazer “corninhos”, agora para a Justiça e para todos os portugueses. Ao fim e ao cabo, ele serviu-se de nós mas nunca nos respeitou.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

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