Hillary e Trump no Planeta dos Macacos

Nesta eleição, o mundo só tem despojos de guerra para se agarrar, e está aterrorizado e desesperado como se a Estátua da Liberdade estivesse enterrada numa América dominada por macacos.

Julgo que todos se recordam do momento de terror e desespero que Charlton Heston vive no momento final do “Planet of the Apes” (“O homem que veio do futuro”, em português), quando descobre a Estátua da Liberdade enterrada no planeta dominado por símios.

Todos estão assim perante o triste espetáculo dado por uma das democracias mais poderosas do mundo nesta corrida presidencial. Há pânico e muita estupefação perante o ressurgimento de Donald Trump nas sondagens e a derrapagem de Hillary Clinton. Mas como aconteceu isto nas barbas do próprio mundo?

Os media americanos são os primeiros responsáveis. Sem filtrarem nada, foram os verdadeiros aríetes da campanha do empresário. Agarraram no seu mediatismo, promoveram-lhe as graçolas, projetaram a sua vacuidade, deram brilho à sua ausência de substância, como se de uma estrela em “stand-up comedy” se tratasse.

Trump, astuto, e cilindrando peça a peça os seus adversários – muito fracos, diga-se – nas primárias Republicanas, gizou uma estratégia de comunicação política centrada no seu ego. A sua mensagem é ele próprio, como se de uma personagem de um “reality show” se tratasse.

Ainda esta semana, o escritor Tom Wolfe dizia que Trump «se tornou a pessoa mais conhecida dos EUA». O candidato tem apenas uma ideia para vender: ele é uma celebridade, um homem de sucesso promovido por ele próprio. Ponto. De resto, o seu programa é vago em tudo, a sua misoginia e os insultos a torto e a direito tornaram-se a espuma de uma mensagem nula, violenta, agressiva, de divisão e sem esperança.

Do lado contrário, apenas um mal menor. Porque Hillary Clinton, a quem foi o caminho facilitado pelo “establishment” Democrata, nunca conseguiu encantar nem entusiasmar. Podemos dizer hoje, sem hesitação, que a melhor campanha destas presidenciais teve por rosto um homem honesto, Bernie Sanders, mas que tinha um muro difícil de ultrapassar: o seu próprio partido que o bloqueou por diversas vezes.

Muitas vezes esquecemos que o mundo não vota nesta eleição, são apenas os americanos. E, estes, nunca gostaram de Hillary Clinton. Essa rutura nos afetos com deu-se durante o caso Monica Lewinsky, onde todos perceberam que a sua frieza era alimentada pelo gosto pelo poder, como se de uma Lady Macbeth se tratasse.

A sua campanha é um desastre. Por muito que abra a boca sorrindo forçadamente como lhe mandaram fazer para conquistar a empatia dos eleitores, ela nunca estará no coração dos americanos. Pode estar bem preparada, mas ninguém se lembra de uma ideia que ela tivesse lançado nesta disputa.

De toda esta cansativa corrida eleitoral, restam uma série de técnicas para engrossar o espólio de campanhas negras. Muito barulho, muita irracionalidade, pouco otimismo e sensatez. Um dos pioneiros do cinema, Cecil B. DeMille, dizia que o segredo do sucesso de um filme era: «comecem por um terramoto e depois construam um clímax». Aqui, nesta eleição, o mundo só tem despojos de guerra para se agarrar, e está aterrorizado e desesperado como se a Estátua da Liberdade estivesse enterrada numa América dominada por macacos.

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