A importância dos fundos de fundos

  • Paulo Bandeira
  • 7 Maio 2018

Na Europa não faltam ideias, boas empresas ou excelentes empreendedores. Falta investimento para um crescimento muito mais acelerado. Parte da solução passa pela capacitação de fundos de fundos.

Um dos desafios mais importantes que os sistemas de empreendedorismo na Europa enfrentam é a incapacidade para realizarem rondas de financiamento B, C, D, por aí fora.

Portugal é um exemplo claro desta incapacidade, podendo as startups portuguesas contar com seed capital e com rondas A até um valor máximo de três milhões de euros, mas em que não há já capacidade nos fundos de capital de risco nacionais para realizar uma ronda B. Não é, contudo, um problema exclusivo do nosso país, é antes um problema à medida da nossa dimensão. Noutros ecossistemas como Berlim ou Barcelona as startups conseguem financiar-se numa ronda B com fundos domésticos (abordei aqui este problema neste artigo sobre Berlim – https://eco.pt/opiniao/o-que-pode-lisboa-aprender-com-berlim/), mas uma ronda C exige já um road-show por fundos estrangeiros.

Na Europa, a exceção a esta regra é o Reino Unido onde a maior capacidade dos fundos de capital de risco assegura essa liquidez e oportunidade às startups.

Este é um problema que afeta de forma relevante o crescimento das startups na Europa, por contraponto com a substancialmente maior disponibilidade de fundos existente nos Estados Unidos da América.

A consequência associada a esta situação é a inevitável substancial diferença na rapidez de acesso ao mercado e crescimento por parte das startups de um e de outro lado do Atlântico. Basta olhar para os números. É que os 26 unicórnios europeus de 2017 comparam com 109 norte-americanos e 59 chineses.

Na Europa não faltam ideias, boas empresas ou excelentes empreendedores. Nalguns casos falta mercado (existem aqui muitas assimetrias), mas, sobretudo, falta investimento para um crescimento muito mais acelerado.

Parte da solução para este tema passa pela capacitação de fundos de fundos à escala europeia.

Estes fundos ao invés de investirem diretamente nas empresas contarão no seu portofólio com investimento noutros fundos de capital de risco locais. Será esta capacitação dos fundos domésticos, invistam eles em early stage ou em scale ups, que permitirá aos mesmos alcançar uma mais robusta capacidade financeira que alavancará investimentos de maior escala em startups.

Esta é uma estratégia da União Europeia que aprovou recentemente o Venture EU destinando mais de 400 milhões de euros para alavancar fundos de fundos que investirão em cascata os montantes que terão por destino final as startups europeias.

Mas este deveria ser também um desiderato nacional. É que estes investimentos acabam por ter um efeito multiplicador e a capacitação da indústria de capital de risco em Portugal é absolutamente necessária. Os nossos fundos de capital de risco são pequenos e têm uma limitada capacidade de investimento. A adoção de políticas que privilegiem a estruturação de uma indústria de capital de risco efetiva e robusta devem ser uma prioridade do Governo português.

É dando músculo aos fundos de capital de risco portugueses que conseguiremos que as startups portuguesas atinjam um estado de maturação e sucesso nos mercados internacionais mais depressa e, dessa forma, conseguiremos (talvez) produzir um maior número de unicórnios.

  • Paulo Bandeira
  • Sócio da SRS Advogados

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