Descodificador: Já se perdeu na guerra dos professores? Nós explicamos
- Marta Moitinho Oliveira
- 8 Junho 2018
O descongelamento das carreiras dos professores tem originado uma guerra de argumentos e números entre o Governo e os sindicatos. Mas afinal o que significa cada um dos números? O ECO tenta explicar.
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Os professores vão ter a carreira descongelada já este ano?
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Mas se a contagem do tempo esteve parada para os professores, como é possível que este ano já haja docentes a progredir na carreira?
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Quantos professores vão conseguir este ano progredir na carreira?
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E quanto custam estas progressões?
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Então se há progressões para os professores o que estiveram a negociar com o Governo?
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Afinal qual é a proposta dos sindicatos?
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E o Governo tem alguma proposta para a contagem do tempo de serviço que esteve congelado?
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Por que motivo as negociações foram interrompidas?
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O Governo retirou então a sua proposta?
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Quais os argumentos do Governo para não ceder mais?
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E quais os argumentos dos professores para não baixar a exigências?
Descodificador: Já se perdeu na guerra dos professores? Nós explicamos
- Marta Moitinho Oliveira
- 8 Junho 2018
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Os professores vão ter a carreira descongelada já este ano?
Sim. O Governo descongelou as progressões na Função Pública a partir de 1 de janeiro deste ano, permitindo a todos os funcionários que reunirem as condições para isso avançar já na carreira. Entre os que vão progredir este ano estão dois grupos de trabalhadores: os que acumularam pontos da avaliação durante os anos do congelamento (2011 a 2017) mas que não viram esses pontos refletir-se no seu salário — e aqui estão os trabalhadores das carreiras gerais –; e os que têm carreiras que avançam essencialmente de acordo com a contagem do tempo, que esteve parada nos anos do congelamento. Este último grupo é habitualmente designado como sendo das carreiras especiais e é aqui que estão os professores.
Proxima Pergunta: Mas se a contagem do tempo esteve parada para os professores, como é possível que este ano já haja docentes a progredir na carreira?
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Mas se a contagem do tempo esteve parada para os professores, como é possível que este ano já haja docentes a progredir na carreira?
Imaginemos um professor que no dia 31 de dezembro de 2010 (antes do congelamento arrancar) estava num determinado escalão da sua carreira há três anos, 11 meses e 30 dias. Faltava-lhe um dia para chegar aos quatro anos que permitem saltar de escalão. No dia 1 de janeiro de 2018, com o descongelamento em curso, faz os quatro anos, ganhando assim o direito a subir de escalão.
Proxima Pergunta: Quantos professores vão conseguir este ano progredir na carreira?
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Quantos professores vão conseguir este ano progredir na carreira?
A aplicação da norma prevista no Orçamento do Estado para 2018 e que já está a ser aplicada desde 1 de janeiro implica, segundo contas do Executivo, que este ano serão 45.323 os docentes a progredir na carreira. Em 2019, serão 12.935 as progressões que resultam do descongelamento das carreiras. No final de 2023 terão sido registadas 158.051 progressões, apontam as contas que o Governo mostrou aos sindicatos a 28 de fevereiro, quando decorriam negociações.
Proxima Pergunta: E quanto custam estas progressões?
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E quanto custam estas progressões?
Em 2023, o Governo terá gasto 419 milhões de euros (90 milhões de euros já este ano). O valor sobe um pouco para 519 milhões se contabilizado o custo da entidade patronal com a Taxa Social Única (TSU). O faseamento imposto no OE 2018 que prevê tranches de 25% ao longo deste ano e do próximo permite baixar um pouco a fatura anual (este ano, por exemplo, em vez de gastar 90 milhões de euros vai despender 30 milhões), mas o Executivo prefere privilegiar a análise sem faseamento já que o dinheiro vai ser gasto na mesma.
Proxima Pergunta: Então se há progressões para os professores o que estiveram a negociar com o Governo?
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Então se há progressões para os professores o que estiveram a negociar com o Governo?
Os professores não aceitam que o tempo de serviço congelado não seja contabilizado. Ao todo são nove anos, quatro meses e dois dias. Sete dos quais entre 2011 e 2017. Quando as progressões nas carreiras foram congeladas — em 2010 com efeitos a partir de 2011 –, o Governo de então disse duas coisas:
- O tempo de serviço nas carreiras que o têm como fator relevante para a progressão não é contabilizado;
- Os pontos acumulados pela avaliação nas carreiras cuja progressão se faz por pontos continuam a ser acumulados mas não se refletem nos salários. Os professores que fazem parte do primeiro grupo viram assim desaparecer uma parte dos seus anos de serviço da sua carreira. Quando o Governo descongelou agora as carreiras fez uma espécie de norma espelho daquela.
Proxima Pergunta: Afinal qual é a proposta dos sindicatos?
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Afinal qual é a proposta dos sindicatos?
É contabilizar os tais nove anos, quatro meses e dois dias. Só que segundo o Governo esta decisão implicaria gastar 1.154 milhões de euros, mais 635 milhões do que o previsto agora com o descongelamento das carreiras que ficou decidido no OE 2018. Este cálculo tem sido contestado pelos sindicatos.
Proxima Pergunta: E o Governo tem alguma proposta para a contagem do tempo de serviço que esteve congelado?
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E o Governo tem alguma proposta para a contagem do tempo de serviço que esteve congelado?
Sim. Durante as negociações, o Governo apresentou uma proposta que prevê a contagem de parte do tempo de serviço. Mais em concreto: dois anos, quatro meses e 18 dias. Os cálculos feitos no Terreiro do Paço indicam que esta proposta atiraria para 658 milhões de euros o custo total do descongelamento das carreiras dos professores, mais 139 milhões do que a proposta de base que já está em aplicação.
Proxima Pergunta: Por que motivo as negociações foram interrompidas?
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Por que motivo as negociações foram interrompidas?
O Governo alega que fez um esforço de aproximação e que os sindicatos dos professores não. Já os sindicatos afirmam que o Governo se comprometeu a definir apenas o modo e o calendário para contabilizar o tempo de serviço que esteve congelado e que agora está a voltar atrás. No meio desta guerra sobre o que cada parte se comprometeu a fazer, o Executivo optou por suspender as negociações, numa altura em que estavam separados por quase 500 milhões de euros (a diferença entre o custo da proposta dos sindicatos de 1.154 milhões e o da proposta do Executivo de 658 milhões de euros que equivale a 496 milhões de euros).
Proxima Pergunta: O Governo retirou então a sua proposta?
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O Governo retirou então a sua proposta?
Sim. O Governo diz que se os sindicatos quiserem negociar, volta à mesa com a mesma proposta, mas que não faz acordos unilaterais e, por isso, ou há um acordo entre as partes ou os professores ficam com o que o OE 2018 já consagra.
Proxima Pergunta: Quais os argumentos do Governo para não ceder mais?
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Quais os argumentos do Governo para não ceder mais?
O Governo argumenta que sempre condicionou esta negociação à sustentabilidade das contas públicas. Além disso, acrescenta outras razões para não ceder mais: recorda que o está a fazer a aplicar o descongelamento numa lógica de espelho face à norma do congelamento e que não pode favorecer os professores face a outras classes profissionais dentro da Administração Pública. As contas feitas nas Finanças indicam que se todo o tempo de serviço congelado fosse automaticamente descongelado teria um impacto instantâneo nas contas de 2018 tão forte que a progressão de um docente custaria cinco vezes mais do que a de um funcionário público (das carreiras gerais). Com a regra fixada no Orçamento para o descongelamento, a progressão de um professor tem um custo aproximado ao de um trabalhador do Estado, diz fonte governamental. O Executivo acrescenta aqui outro argumento: abrir a porta aos professores é abrir a porta a outras carreiras onde a progressão tem como fator relevante o tempo de serviço. Esta semana, as polícias e os funcionários judiciais decidiram juntar-se à reivindicação dos professores e pedir a contagem de todo o tempo de serviço. O Governo estima que as outras carreiras somam 400 milhões ao custo adicional que significa a contagem do tempo dos professores, elevando para mil milhões de euros o impacto total de contar todo o tempo para todos.
Proxima Pergunta: E quais os argumentos dos professores para não baixar a exigências?
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E quais os argumentos dos professores para não baixar a exigências?
Os professores não aceitam que haja um apagão nas suas carreiras e equacionam ir a tribunal na qualidade de “credores” do Estado, até porque os funcionários públicos nas carreiras gerais não perdem os pontos que acumularam durante o período de congelamento. Em cima da mesa já está a possibilidade de os professores fazerem greve para abertura do próximo ano letivo, até porque consideram o Governo defraudou expectativas que criou junto da classe na norma do Orçamento do Estado sobre as negociações para a contabilização do tempo de serviço congelado, bem como da resolução da Assembleia da República, que teve até o apoio do PS.