Vamos dialogar com os reguladores!
A indústria dos serviços financeiros de hoje será conquistada por inovadores, sejam eles incumbentes ou fintechs. É por isso que não posso deixar de apoiar e celebrar o nascimento do Portugal FinLab.
A Seedrs é hoje a principal plataforma de equity crowdfunding a nível europeu. Desde a sua abertura ao público em 2012, investiu mais de 450 milhões de euros em mais de 650 empresas espalhadas um pouco por toda a Europa, ajudando a criar postos de trabalho e inovação. Foi, a nível mundial, a primeira plataforma do seu género a obter autorização de um regulador para operar no mercado financeiro.
Essa viagem até à regulação começou em 2009, altura em que comecei a desenvolver a ideia do que viria a ser a Seedrs. Foi cerca de um ano a desenvolver a ideia e a preparar para dar início ao processo de regulação, e dezoito meses de interação com a Financial Conduct Authority (FCA), o regulador britânico equivalente à nossa CMVM. Dois anos e meio é uma eternidade na vida de uma startup. Dois anos e meio sem poder abrir portas é quase sempre fatal. Então, porquê este intervalo de tempo? Houve dois principais entraves à celeridade do processo.
Em primeiro lugar, tanto eu como o meu co-fundador não tínhamos qualquer experiência na indústria de serviços financeiros. Para colmatar esta inexperiência, não só nos aconselhámos com várias firmas de advogados, como recrutámos administradores não-executivos muito sénior e com vasta experiência nesta área.
Ainda assim, a preparação para o processo de autorização foi extremamente difícil e morosa. A realidade é que, mesmo os mais experientes neste processo nunca tinham lidado com um negócio como o nosso, e como tal tinham dificuldade em antecipar o que seria necessário para convencer o regulador. Neste caso apenas o regulador poderia responder a esta questão. No entanto era política da FCA (na altura denominada Financial Services Authority) não entrar em diálogo com entidades não reguladas, exceto no contexto de um processo de regulação.
Estávamos assim numa situação em que a única entidade com quem poderíamos dialogar, para melhor compreender esse processo de regulação, apenas falaria connosco no decurso do mesmo. Olhando para trás, desperdiçámos durante esse período muito tempo, recursos e sanidade mental a preparar documentação, processos e equipa que a FCA depois não avaliou.
O segundo entrave foi quase um espelho do primeiro. Após a entrega da documentação necessária para dar início ao processo de regulação, deu-se início a quase ano e meio de reuniões e trocas de emails entre nós e o regulador. Nós não tínhamos experiência na indústria de serviços financeiros e o regulador também não tinha experiência a regular uma plataforma como a nossa. Nem a FCA, nem nenhum outro regulador, porque nunca tinha sido feito. Acima de tudo, estes dezoito meses foram um processo de aprendizagem, infelizmente demasiado lento e formal, tanto para nós como para o regulador.
Hoje não seria assim. A FCA tem um processo que apoia a inovação e bem como canais de comunicação e equipas específicas para lidar com novos produtos, serviços ou formas de executar inovadoras e com as quais ainda não lidou. O diálogo inicia-se muito antes do processo formal e a aprendizagem para ambos os lados, obrigatória e sedenta de comunicação, é agora mais rápida, ágil e menos consumidora de recursos de lado a lado.
A indústria dos serviços financeiros de hoje será conquistada por inovadores, sejam eles incumbentes ou fintechs. É por isso, e por ter passado pelo desafio de lançar a Seedrs, que não posso deixar de apoiar e celebrar o nascimento do Portugal FinLab. Juntando a Comissão do Mercado de Valores Imobiliários, o Banco de Portugal, a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões e a Associação Portugal Fintech, o Portugal FinLab permite precisamente a criação desse diálogo, não só com um regulador como é o caso do exemplo britânico, mas com três dos principais reguladores ligados à indústria de serviços financeiros. Talvez a próxima plataforma inovadora de serviços financeiros seja regulada a partir de Portugal porque encontrou aqui um ambiente regulatório dialogante e ágil que lhe permitiu chegar ao mercado da forma mais segura e rápida possível.
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