João Galamba, “se não percebe, vá aprender”
Não podemos criticar a escolha de Carlos Pereira para a ERSE por falta de currículo e elogiar João Galamba para a Secretaria de Estado da Energia.
Quando o Governo escolheu Carlos Pereira para ser administrador da ERSE todos olharam com curiosidade e estupefação para o currículo do deputado socialista à procura de uma qualificação que o pudesse habilitar para ocupar um lugar de elevada complexidade técnica no setor da energia.
Tem uma licenciatura em Economia complementada com pós-graduações em economia e sociologia rural, planeamento, estratégia e gestão de turismo. Os únicos contactos que teve com o setor da energia foi a participação em grupos de trabalho no Parlamento.
Ainda a recuperar do susto, eis que os agentes do setor são agora confrontados com a escolha de João Galamba para secretário de Estado da Energia. “Anda tudo doido”, desabafou David Justino, vice-presidente do PSD, no Facebook.
Lá vamos nós abrir o currículo de João Galamba à procura de referências sobre o setor da energia. Licenciatura em Economia e frequência de Doutoramento em Filosofia Política. Nas comissões e grupos de trabalho no Parlamento, nem uma única referência ao setor. Quanto muito poderá algum dia ter filosofado sobre energia.
É verdade que ao contrário de Carlos Pereira, João Galamba não vai para um regulador. Terá um cargo político. Mas um secretário de Estado, ao contrário de um ministro, já tem de ter alguma componente técnica no currículo, até porque tem de lidar com dossiês altamente técnicos e conviver com pessoas que estão há anos no setor, sejam reguladores, sejam empresas.
Claro que João Galamba pode ir estudar e fazer um curso intensivo e aprender mais sobre energia para exercer o cargo nos 12 meses que faltam para o fim da legislatura. Por falar em aprender, ainda todos se lembrarão daquela vez que o Governador do Banco de Portugal, já irritado com as traquinices políticas de Galamba, virou-se para o deputado e disse: “Sr. deputado, se não sabe, vá aprender”. Na altura, Carlos Costa estava a falar de um termo técnico — o ‘crowding out‘ — e, perante o sobrolho franzido e as constantes interrupções de Galamba, desabafou: “Desculpe, deixa-me acabar porque isso é uma ignorância total”.
Na secretaria de Estado da Energia, saber o que é o ‘crowding out‘ será o menor dos problemas de Galamba. Quando ouvir falar em manobras de rede, em perturbação eletromagnética, em tremulação, em bateria de condensadores, em lixiviação, em cava de tensão, em compensador síncrono, em deslastre por sobrecarga, ou no Índice de Wobbe, Galamba vai arrepender-se de não ter seguido o conselho do Governador para ir estudar.
Em dez milhões de portugueses, António Costa não encontrou um único que já percebesse alguma coisa do setor e pudesse ocupar a pasta? Pode-se sempre argumentar que o primeiro-ministro escolheu o secretário do Estado pelo seu perfil marcadamente político, num Governo que precisa de ser combativo a um ano de eleições.
Nesse caso, deveria tê-lo colocado numa pasta mais política, como a dos Assuntos Parlamentares. E mesmo assim, duvido que Galamba desse conta do recado. O seu perfil político truculento é adequado para fazer política e alimentar polémicas no Facebook e no Twitter, e fazer as delícias dos mais sectários seguidores socialistas, mas não para comunicar e passar a mensagem para um eleitorado esclarecido, moderado e que não tem uma visão maniqueísta e confrontacional da política.
O exemplo disto foi o post que João Galamba escreveu no Twitter, na sexta-feira, depois de a agência de notação Moody’s ter tirado Portugal da categoria de “lixo”. Escreveu João Galamba o seguinte: “Parece que há imensa gente que não sabe que a Moody’s colocou Portugal no lixo quando o primeiro-ministro era Passos Coelho, não Sócrates.” A tese de Galamba é que bastou Passos Coelho ter estado 11 dias no Governo para que a agência americana fizesse um ‘downgrade‘ à dívida do país.
Tweet from @Joaogalamba
Aqui chegados, temos de recorrer novamente ao diálogo entre Galamba e Carlos Costa, naquela parte em que o governador do Banco de Portugal vira-se para o deputado socialista e desabafa: “Isto é má-fé intelectual. Peço desculpa, mas isto ultrapassa os limites do bom senso”.
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