Tecnologia é uma oportunidade para melhorar o trabalho

  • Rodrigo Pinto Ribeiro
  • 30 Outubro 2018

À medida que a tecnologia coexiste cada vez mais com os recursos humanos, as organizações só se irão valorizar pelas competências humanas, os fatores-chave serão diferenciação e vantagem competitiva.

Dados recolhidos pelo FMI e pela OCDE mostram que cerca de 45% dos empregos existentes hoje podem ser automatizados e que 10% correm o risco de desaparecer. Se, a priori, estes números podem surpreender-nos também tornam clara uma realidade do mundo laboral que nem todos imaginamos: a digitalização e a robotização trarão consigo – mais do que a possível eliminação de empregos – uma transformação das funções e do papel do trabalho humano nas organizações.

Preparar o futuro das organizações (privadas ou públicas) requer uma compreensão das oportunidades associadas à automatização do trabalho bem como do valor que se poderá gerar através da redistribuição de tarefas. Tudo aponta para que a introdução da tecnologia leve a que uma parte considerável de tarefas passe a ser executada por menos pessoas. Esta libertação de recursos vai permitir uma reavaliação dos serviços que as organizações oferecem aos seus clientes. O que antes era considerado um serviço premium vai acabar por converter-se num serviço standard. Num ambiente em que a tecnologia impulsionará tanto a qualidade como as expectativas dos consumidores, será fundamental que as organizações reinventem as suas estratégias e modelos de negócio.

À medida que a tecnologia assume um papel cada vez mais importante nas nossas vidas as organizações só se conseguirão diferenciar por via das competências humanas, que terão um peso crescente em termos de vantagem competitiva. Esta mudança representa um desafio para as organizações, que no decorrer do processo de adaptação à revolução digital se deparam com a necessidade de redefinir a sua força de trabalho, em dimensão e perfil, alterando o próprio conceito de trabalho.

A definição do que é considerado um trabalho ou uma função específica está a mudar. O foco está agora centrado nas competências e nos conhecimentos individuais, e não na função ou posição que cada um desempenha. Um especialista em Big Data que trabalhe para o departamento de marketing de uma grande empresa de consumo irá gerar resultados muito diferentes de um especialista em Big Data que exerça funções no departamento financeiro de um banco, por exemplo. Ambas as posições recebem a mesma denominação, mas as semelhanças ficam-se por aí.

Além disso, à medida que atingimos novos patamares tecnológicos, vemos essa mesma tecnologia a ser projetada com os recursos humanos no centro de todo o processo, tornando-se a própria tecnologia mais ‘humana’. Como consequência, a componente técnica passa a funcionar como um meio para competir, enquanto a componente humana se assumirá como a verdadeira vantagem competitiva das organizações. A questão coloca-se em como colocar o foco nas competências interpessoais para interagir cada vez mais e melhor com a tecnologia.

O facto de termos hoje tecnologia mais acessível e modular fará com que a diferenciação seja alcançada através de características humanas: dinamismo (fundamental num contexto que requer uma adaptação contínua); comunicação eficaz aliada a visão comercial; dedicação ao cliente (necessária à medida que crescem as suas expectativas); e competências ao nível comportamental (capacidade de influência e de construção de relações).

Um dos desafios mais importantes para as organizações passará por gerir o próprio ecossistema de trabalho, dada a necessidade crescente de lidar com a escassez de talento adequado, a necessidade de controlar custos e a alteração de expectativas de clientes e de colaboradores.

Este novo ecossistema exigirá às organizações não só uma gestão mais eficiente da sua força de trabalho, mas também uma abordagem que garanta acesso adequado a diferentes grupos de talento, através de: criação de parcerias entre empresas; recurso a talento autónomo (freelance), impulsionado pela procura de uma maior flexibilidade e de trabalho por projetos; e utilização de crowdsourcing, um processo que permite o desenvolvimento de soluções mais criativas, inovadoras e rápidas.

Entre as vantagens desta nova abordagem estão o acesso a melhores ideias e experiências e uma maior flexibilidade e eficiência de processos que permitirão controlar os custos fixos de mão-de-obra através de um melhor alinhamento entre custos laborais e ciclos económicos e empresariais.

O futuro da coexistência entre tecnologia e pessoas nas organizações deve, por isso, ser visto não como uma ameaça, mas sim como uma oportunidade para melhorar o trabalho, ao elevar os níveis de exigência de prestação de serviços. Ironicamente, com mais processos digitais e tecnologia, as valências específicas dos recursos humanos desempenharão um papel cada vez mais relevante no sucesso sustentável das organizações.

Rodrigo Pinto Ribeiro, Partner da Oliver Wyman, Head of Financial Services Espanha e Portugal

O hub de Workforce For the Future da Oliver Wyman pode ser encontrado aqui e o relatório referido aqui

  • Rodrigo Pinto Ribeiro

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