Moody’s elogia quebra na dívida das famílias, mas não esquece problema público
A desalavancagem do setor privado tem, no entanto, custos. A par do crescimento da dívida pública, a agência alerta que a diminuição da dívida das famílias pode levar a vulnerabilidades da banca.
O endividamento dos agregados familiares ganhou uma tendência de queda vista como positiva pela agência de notação financeira Moody’s, que aponta especialmente para os países mais penalizados pela crise financeira. É o caso de Portugal, Espanha, Irlanda e Islândia. A quebra foi, no entanto, acompanhada pelo aumento do endividamento público nos três primeiros países, sendo a Islândia a exceção.
Até à crise global, os níveis de endividamento das famílias “subiu rapidamente” na maioria dos países europeus, particularmente impulsionado pelo aumento dos preços das casas e o peso do crédito à habitação. A análise da agência indica que a subida nos rácios de dívida privada atingiu o pico, para grande parte dos países, em 2008.
“Desde então, o endividamento das famílias tem estado em tendência de queda, especialmente nos países pós crise: Irlanda (A2 estável), Espanha (Baa1 estável), Portugal (Baa3 estável) e Islândia (A3 positiva), apesar de a desalavancagem ter sido acompanhada de um aumento no fardo da dívida pública, com exceção notável para Islândia, onde a dívida governamental caiu substancialmente”, alerta a Moody’s.
“A canalização de dívida do setor privado para o público reflete principalmente rendimentos mais baixos devido aos constrangimentos de crescimento e às políticas orçamentais de natureza contra-cíclica”, clarifica.
Em Portugal, o endividamento das famílias acumulou, no ano passado, 141,95 mil milhões de euros, ou seja, 73,86% do PIB. O montante representa o nível mais baixo desde pelo menos 2007, ano que corresponde aos primeiros dados do Banco de Portugal sobre o peso da dívida privada na economia. A dívida pública, em termos nominais, subiu de 120,1 mil milhões de euros, em 2007, para 242,8 mil milhões de euros em 2017. Já em termos de peso na economia passou de 63,6% do PIB, em 2007, para 124,8%, em 2017.
Fonte: Moody’s
A desalavancagem do setor privado tem, no entanto, custos. A par do crescimento da dívida pública, a agência alerta ainda que a diminuição da dívida das famílias pode levar a vulnerabilidades do sistema financeiro. Se as reservas de capital enfraquecerem poderão levar a um aumento de imparidades dos ativos da banca. Em última análise, o impacto que poderia ter na confiança dos consumidores e dos investidores poderia obrigar à intervenção dos governos para recapitalizar o sistema.
A Moody’s explica que a metodologia para avaliar o rating não inclui explicitamente a dívida do setor privado enquanto fator de risco, a menos que haja sinais de boom de crédito (definido enquanto crescimento do crédito próximo ou superior a mais de duas vezes o crescimento do Produto Interno Bruto nominal por dois ou mais anos).
“No entanto, há uma série de canais pelos quais um nível elevado ou em rápido crescimento da dívida das famílias pode ter um impacto implícito no perfil de rating soberano“, explica, como justificação para o relatório publicado esta terça-feira.
Em contraste com o que aconteceu com Portugal, Espanha e Irlanda, os níveis de endividamento das famílias no Chipre cresceu 21% entre 2007 e 2017. A tendência deveu-se em larga medida aos stocks de dívida privada acumulada desde o início de 2013 que não foram alvo de reestruturação ao nível do crédito malparado antes dos esforços de reestruturação do setor da banca, este ano. A quebra nos rendimentos no período pós-crise também contribuíram para o problema cipriota.
A agência alerta ainda que alguns países mais ricos e com economias mais resilientes – incluindo Luxemburgo, Suécia, Noruega, França e Suíça – também têm assistido a um crescimento no endividamento das famílias.
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