Maria Begonha e a falta de ‘bergonha’ na Juventude Socialista

Os 'jotas' do PS preparam-se para eleger este fim de semana o secretário-geral da Juventude Socialista. Maria Begonha, cujo currículo foi adulterado, é candidata única.

O país está a discutir as votações fantasmas no Parlamento, as falsas presenças na Assembleia da República, as moradas erradas e as viagens para as ilhas que permitem aos deputados acumularem dois subsídios ao invés de um. Isto numa altura em que o Tribunal de Contas veio alertar para a existência de um seguro de saúde ilegal dos deputados e ainda para a possibilidade de existência de situações de fuga aos impostos por causa das despesas de transportes.

Ferro Rodrigues propôs um grupo de trabalho para rever as regras sobre o pagamento de despesas das deslocações e anunciou a criação de novos procedimentos informáticos para garantir que casos como o de José Silvano não voltam a acontecer.

A Comissão Eventual para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas, criada em 2016, por proposta do PS, tem na agenda temas sensíveis como o código de conduta dos deputados, as declarações de património e registo de interesses, o enriquecimento injustificado, o lobbying, a exclusividade de funções ou a criação de uma nova entidade da transparência.

O tema da transparência e da ética na política entrou, e bem, para a agenda mediática porque a tolerância dos portugueses para com estes casos é cada vez menor, sobretudo depois de se terem dado conta que um ex-primeiro-ministro está a ser acusado de 31 crimes, nomeadamente de corrupção, branqueamento de capitais, falsificação e fraude fiscal qualificada.

Durante anos, os socialistas lidaram mal com casos como o de Sócrates ou de Manuel Pinho até que, na véspera do Congresso dos socialistas na Batalha, Ana Gomes veio avisar que o PS não pode continuar a ser “instrumento de corruptos e criminosos”.

Ana Gomes funciona como uma espécie de bastião moral dos socialistas e, esta semana, também na véspera do Congresso da Juventude Socialista, veio criticar o que passa com os ‘jotas’ socialistas: “O que sei dessa jovem não me parece que seja muito credível. O que tenho lido não tenho gostado”, disse esta terça-feira ao jornal i.

Quem é Maria Begonha?

A “jovem” que Ana Gomes não tem gostado chama-se Maria Begonha e é a única candidata para o lugar de secretário-geral da JS no Congresso que se realiza este fim de semana em Almada.

Begonha era assessora de Duarte Cordeiro na Câmara Municipal de Lisboa e recebia uma avença mensal de 4.615,57 euros brutos (3.753,50 euros mais IVA). Rescindiu entretanto o contrato com a CML para se candidatar à liderança dos ‘jotas’ socialistas.

Maria Begonha foi notícia no final de outubro, e não pelas melhores razões. Contam o Público e o Observador que o currículo da ‘jotinha’ tinha vários erros:

  1. Na biografia da candidata à liderança da JS, Begonha tinha como data de nascimento o ano de 1990. Na verdade nasceu a 21 de janeiro de 1989. Conta-nos o Observador que “parece um erro sem importância, mas tem um significado político: o facto de ter nascido em janeiro de 1989 faz com que concorra a líder da Juventude Socialista a apenas algumas semanas de atingir o limite de idade da JS: os 30 anos”.
  2. A candidata a líder da JS também indicou no Linkedin e na biografia na página da candidatura à JS que tinha um mestrado em Ciência Política. Afinal, descobriu-se que Maria Begonha não era mestre em coisa nenhuma, tendo apenas frequentado um ano curricular do dito mestrado.
  3. A biografia da candidata à liderança da JS também dizia ter sido presidente da Associação de Estudantes da Universidade Nova de Lisboa, quando na verdade foi apenas presidente da Mesa da associação.
  4. Conta o Observador que Maria Begonha diz também ter sido “assessora na área de Políticas Públicas Autárquicas” na Junta de Freguesia de Benfica, mas ao que parece fez apenas trabalho de secretariado.

Quando confrontada com tamanhos “erros” no currículo, Maria Begonha corrigiu a nota biográfica e atirou a responsabilidade para o seu diretor de campanha. Tiago Estêvão Martins disse ao Público que os erros “não são mais do que gralhas”, apontando culpas a um eventual “erro na transposição” da informação biográfica da candidata. Já a “gralha” no Linkedin foi, de facto, um “erro da Maria”, conta um apoiante ao Observador.

Gralha? Gralha é escrever Bergonha em vez de Begonha. Gralha é escrever Bergonha em vez de Vergonha. Tenham mas é vergonha!

Gabriela Canavilhas, também em declarações ao i, defendeu que “o PS deve dar o exemplo e não aceitar a candidatura” da ‘jota’ Maria Begonha. Canavilhas e Ana Gomes têm razão; de pequeno é que se torce o pepino. Um ‘j’ pequeno hoje é um ‘J’ grande amanhã. Que o diga José Sócrates que começou a carreira política na JS da Covilhã e a terminou na PJ de Lisboa.

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