Depósitos: já nem nos complexos os bancos apostam
Número de produtos lançado em 2016 é o mais baixo dos últimos três anos. Apesar disso, os depósitos complexos apresentam retornos médios bastante acima dos depósitos a prazo tradicionais.
Os depósitos complexos, também conhecidos como depósitos de “tudo ou nada”, poderão estar a perder brilho. Depois de a disponibilização deste tipo de produtos ter atingido um recorde no ano passado, o cenário atual é bastante diferente.
Desde o início deste ano, os bancos lançaram 191 depósitos complexos, segundo dados compilados pelo ECO. Este número compara com o total de 231 produtos com estas características disponibilizados no mesmo período do ano passado. Ou seja, este ano foram lançados menos 40 depósitos complexos. Trata-se ainda do número mais baixo dos últimos três anos. Será este um sinal de que os bancos estão a voltar costas a esta classe de produtos?
Número de depósitos complexos lançados
A quebra da oferta de depósitos complexos acontece após um boom de que estes produtos foram alvo nos últimos anos, período que foi marcado por um recuo da aposta dos bancos nos depósitos a prazo tradicionais. Um enfoque que teve uma correspondência do ponto de vista dos aforradores, em busca de rentabilizar o seu dinheiro num ambiente marcado por mínimos recorde dos juros.
Só no ano passado, os portugueses investiram mais de 5,5 mil milhões de euros em depósitos complexos, elevando para 10,4 mil milhões de euros, o valor total aplicado. Ou seja, um montante equivalente a 10% do total aplicado pelas famílias portuguesas em depósitos a prazo.
Evolução do valor aplicado em depósitos complexos
Menos produtos – menos interesse dos bancos?
A redução na oferta de depósitos complexos registada este ano significará que há menos interesse dos bancos em oferecer este tipo de produtos? Nim. Poderá não ser exatamente assim.
"Os depósitos complexos são estruturas que implicam custos de montagem, acompanhamento e temas regulatórios e faz sentido que se concentre a atenção em menos produtos, com mais clientes.”
Filipe Garcia, CEO da IMF, encontra duas explicações para o recuo na oferta de depósitos complexos por parte dos bancos. “Em primeiro lugar, são estruturas que implicam custos de montagem, acompanhamento e temas regulatórios e faz sentido que se concentre a atenção em menos produtos, com mais clientes”, diz o economista. Ou seja, apesar da quebra do número de depósitos com estas características lançados este ano, tal não significa necessariamente que os portugueses venham a aderir menos. Poderá ser sim o resultado de uma estratégia de rentabilização de recursos por parte das instituições financeiras.
Até porque apesar de este ano estar a ser marcado por uma quebra da remuneração média, os depósitos complexos continuam a apresentar retornos bastante mais atrativos quando comparados com os depósitos tradicionais, sendo que também partilham da garantia do capital aplicado. Os últimos dados do Banco de Portugal mostram que a taxa de juro média dos novos depósitos a prazo realizados, em setembro, se situou em 0,35%, a mais baixa do histórico disponibilizado que remonta ao início de 2003. No caso dos depósitos complexos, estes renderam, em termos médios, 1,33%, este ano. Ou seja, mais de três vezes acima da remuneração oferecida nos depósitos tradicionais.
Outro dos fatores que poderá estar a contribuir para a menor oferta de produtos, segundo o economista, poderá advir da dificuldade dos bancos em garantir o capital investido. “Tendo em conta o contexto de mercado, não é muto fácil conseguir garantir o capital – que é a base destes produtos”, afirma Filipe Garcia.
"Do ponto de vista da montagem destes produtos, as atuais taxas de juro são desvantajosas.”
O nível historicamente reduzido dos juros, representa um desafio para os bancos também nos depósitos complexos. “Do ponto de vista da montagem destes produtos, as atuais taxas de juro são desvantajosas. A fração que o banco tem de garantir é quase o total – existem produtos que num investimento de mil euros, 900 euros têm capital garantido e apenas 100 euros são uma aposta de risco -, sendo que a partir do momento em que as taxas de juro são muito baixas, o banco fica sem margem de manobra”, explica André Gouveia, analista financeiro da Deco Proteste. “Quanto menor a margem, menos interessante se torna para o banco”, acrescenta André Gouveia.
Apesar dos atuais constrangimentos que possam estar a levar uma menor oferta de depósitos complexos, do ponto de vista dos bancos optar por disponibilizar este tipo de produtos tem vantagens face aos depósitos tradicionais. Para além de ser uma forma de reter clientes, estes produtos são “eventualmente mais rentáveis para os bancos porque na montagem dos depósitos complexos há comissionamento embutido e pode haver uma afetação mais racional dos montantes”, conclui Filipe Garcia.
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