Depósitos “tudo ou nada”: pagam 3 vezes mais, mas…

Remuneração dos depósitos do "tudo ou nada" baixou este ano, mas continua a superar os retornos dos depósitos tradicionais. Conheça as suas principais características, vantagens e desvantagens.

Os portugueses aderiram em força aos depósitos complexos nos últimos anos, em busca de uma forma de rentabilizarem as suas poupanças face ao ambiente de juros muito baixos. Contudo, o retorno destes produtos também está a esmorecer.

Cálculos do ECO, com base em dados do Banco de Portugal, indicam que os depósitos complexos que venceram este ano apresentaram um retorno médio anual bruto de 1,33%. Esta taxa compara com uma rentabilidade média de 1,76% verificada no ano passado.

Depósitos complexos mais rentáveis em 2016

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Fonte: Banco de Portugal| ECO

Apesar dessa diminuição, quando comparados com os tradicionais depósitos a prazo, os depósitos complexos conseguem apresentar taxas de retorno tendencialmente mais apetecíveis. Os juros dos depósitos a prazo estão em mínimos históricos. De acordo com dados do Banco de Portugal, a taxa de juro média das novas aplicações a prazo situou-se em 0,35%.

"Tendo em conta as taxas de juro muito baixas dos depósitos tradicionais, é natural que se procurem alternativas que sejam, pelo menos potencialmente, mais atrativas.”

Filipe Garcia

IMF

“Tendo em conta as taxas de juro muito baixas dos depósitos tradicionais, é natural que se procurem alternativas que sejam, pelo menos potencialmente, mais atrativas. Por outro lado, sendo o juro dos depósitos tradicionais muito baixo, o custo de oportunidade de investir noutras estruturas é mais baixo”, explica Filipe Garcia para suportar o benefício de os aforradores apostarem nesta forma mais complexa de depósitos.

Uma opinião partilhada por André Rodrigues, da Deco Proteste. “Do ponto de vista dos investidores que querem ter o dinheiro no banco, quando a alternativa é não receber nada ou muito pouco, aí vale a pena investir em depósitos complexos“, diz o analista financeiro da associação de consumidores.

Para alguns investidores essa aposta tem sido bastante compensadora. No universo de cerca de 160 depósitos complexos que venceram este ano é possível encontrar 10 que rendem, em termos brutos, pelo menos 4%. Existem situações em que a fasquia dos 5% é ultrapassada. É o que acontece com o “Montepio Cabaz Inovação – Março 2014”, um depósito a dois anos indexado a um cabaz de quatro ações de empresas internacionais: a Apple, a Amazon, a Toyota Motor e a General Electric. A aposta neste produto possibilitou uma taxa de retorno anual bruta de 5,38%, um valor que cai no intervalo entre um mínimo de 0,25% (TANB) e um máximo de 7,38% previsto pelo Montepio.

Bem próxima dessa taxa, ficou o segundo produto mais rentável. Em causa o “Invest Defesa Jan-16” um depósito indexado com um prazo de 18 meses, disponibilizado pelo Banco Invest que oferece uma TANB de 5,05%. Um produto lançado em janeiro deste ano que, para além da garantia do capital investido, oferece no mínimo o equivalente a uma TANB de 0,324%. Tendo em conta que um dos critérios de retorno considerado na ficha de informação normalizada (FIN) se cumpriu (atingir uma TANB de 5,048%) nos primeiros seis meses de vida, ocorreu o vencimento antecipado deste produto.

Saber escolher entre o “tudo ou nada”

Uma das principais características dos depósitos complexos tem a ver precisamente com a complexidade da sua construção, e os diferentes cenários de remuneração considerados. É daí que também advém a designação de depósitos “do tudo ou não”, com que popularmente são conhecidos os depósitos complexos. Ou seja, o mesmo produto tanto pode pagar uma taxa elevada como dar zero de remuneração.

Isto acontece porque a remuneração de muitos depósitos complexos está dependente da efetivação de um conjunto de critérios, que por vezes podem não se concretizar. Sendo assim, não é de estranhar que muitos depósitos complexos acabem por determinar uma TANB de 0%. No que respeita aos produtos que venceram este ano, esta situação confirmou-se em 30% dos casos. Mas em compensação, mais de metade dos produtos garantiram uma taxa de juro superior àquela que é oferecida, em média, pelos depósitos a prazo.

"Mais importante do que o indexante escolhido é optar pela simplicidade. Quanto menos ações e condições que tiver de cumprir para atingir uma dada rentabilidade, melhor.”

André Gouveia

Deco Proteste

Em suma, apesar de existirem alguns produtos que oferecem remunerações atrativas, sobretudo quando comparados com os depósitos tradicionais, não basta investir o dinheiro. É preciso saber investi-lo bem. Um dos aspetos mais relevantes a ter em conta é de que depende o retorno da aplicação que está a ser realizada. Regra geral, os ativos são ações ou índices. E, tendo em conta a turbulência que se faz sentir nos mercados financeiros, não é muito fácil antecipar o que poderá acontecer. Ou seja, poderá torna-se mais difícil garantir um retorno. Contudo, segundo explica André Gouveia refere que “mais importante do que o indexante escolhido é optar pela simplicidade. Quanto menos ações e condições que tiver de cumprir para atingir uma dada rentabilidade, melhor”.

Capital também garantido

Entre as principais vantagens associadas aos depósitos complexo destacam-se o facto de estes estarem abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos e do capital investido ser garantido. Contudo, o mesmo poderá acontecer em relação ao acesso ao dinheiro durante a vigência do produto, contrariamente ao que acontece com a maior parte dos depósitos a prazo. “Há estruturas que não permitem a mobilização antecipada, ou permitem mobilizar, mas com eventuais perdas”, alerta Filipe Garcia. Isto significa que quem aplicar o seu dinheiro num depósito complexo terá de avaliar se está disposto a dispensar a quantia durante o prazo do produto.

Para analisar as condições do depósito deverá olhar para a Ficha de Informação Normalizada (FIN). Neste documento estão as principais características e riscos do depósito, incluindo o tipo de depósito, a moeda de denominação, o prazo, a forma de remuneração e os instrumentos ou variáveis económicas e financeiras subjacentes, as condições de acesso e os fatores de risco. André Gouveia, salienta a importância de fazer este tipo de análise antes de avançar para o investimento num depósito complexo, aconselhando ainda a recorrer à ajuda de especialistas. O analista financeiro, salienta que a própria Deco faz este tipo de análises a pedido dos consumidores. E lembra ainda que os próprios bancos são obrigados a apresentar cenários e a probabilidade de estes serem atingidos. Esta será uma forma de avaliar a vantagem, ou não, de avançar com o investimento num depósito complexo.

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