Se o PSD é isto, vale quanto?

Nesta crise dos sete dias, o PSD deu uma imagem muito triste de si próprio. Rui Rio ganhou, sem dúvidas. Mas a verdade é que a missão não está mais fácil.

1.
Nesta crise dos sete dias, Montenegro fez quase tudo mal. Desafiou Rui Rio numa sala sozinho, não mostrou ideias novas, não teve direito a apoios de peso, não fez contas aos votos que teria em Conselho Nacional, não se apresentou na reunião decisiva para forçar um confronto direto com Rui Rio. No fim, feitas as contas, nem fez 40% dos votos dos conselheiros nacionais. Provou-se errada a sua perceção de que Rio tinha chegado ao fim da linha. E o amadorismo com que fez tudo isto deitou por terra parte do capital de esperança que tinha criado no congresso de há um ano.

Nesta crise dos sete dias, Rui Rio fez quase tudo mal. Deixou cair no Expresso a intenção de aproveitar o desafio interno para fazer uma “limpeza” no partido, marcou um Conselho Nacional sem desafiar Montenegro a juntar-se a ele, deixou que a reunião corresse com a sensação de que o jogo estava viciado, acabou a noite a dizer que continuaria o seu caminho, nem que fosse sozinho.

Nesta crise dos sete dias, o PSD deu uma imagem muito triste de si próprio. Com críticas mútuas que vão deixar marcas por muito tempo, com insinuações de compras de votos, com uma evidente sensação de que o jogo não era limpo. No PSD, em tão pouco tempo, ouvimos um presidente do Conselho Nacional a sugerir aos deputados que faltassem ao Parlamento para irem a uma reunião partidária, vimos uma reunião que decorreu por 11 horas sem ninguém lá dentro saber quais eram as regras do jogo, vimos uma votação secreta que foi decidida… por braço no ar.

2.
Os despojos destes sete dias dizem-nos que Rui Rio ganhou nove meses para fazer o que não conseguiu fazer num ano: mostrar um programa, mostrar que é alternativa, vincar as linhas que o separam de António Costa, unir o que ainda for possível unir.

Rui Rio ganhou a confiança do partido com 59,5% dos votos do Conselho Nacional, mas ficou claro que quase 40% do PSD já não tem qualquer fé no seu candidato a primeiro-ministro. O caminho livre que ganhou terá, portanto, que ser feito com esta base, francamente pior do que a que tinha quando saiu do congresso de Lisboa.

A missão de Rui Rio será, por isso, ainda mais difícil: o PSD mostrou que está vivo, mas deu uma imagem triste de si próprio. A direção mostrou-se viva a combater os adversários internos, mas várias vezes reconhecendo que o ano que ficou para trás teve muitas falhas que precisam de ser corrigidas. Pelo caminho, perdeu mais deputados no grupo parlamentar e muitos outros para as listas de deputados. Mobilizar este partido nas campanhas que se adivinham será uma tarefa muito difícil.

Mas Rui Rio ganhou esse tempo, essa nova oportunidade. Com o que tem, com o que segurou nesta guerra interna, terá que fazer o milagre: mostrar aos portugueses, sobretudo aos votantes tradicionais do partido, que estes 60% do PSD valem pelo menos os 29% que Manuela Ferreira Leite teve em 2009 – sob pena de se lançar o partido no espectro de uma crise total, sob pena de entregar uma maioria absoluta ao PS de António Costa.

Mesmo assim é uma sorte: a fasquia dos 29%, que lhe foi colocada pelo arquirrival Miguel Relvas, é tão pequenina que até um péssimo resultado pode parecer coisa boa.

Rui Rio tem-nos dito que gosta mais de fazer política quando é desafiado. Aqui tem uma oportunidade de ouro para provar que é ele que está certo, quando vai em contramão.

3.
Agora, Rui Rio tem os adversários internos visíveis e assumidos, ganhou o voto de confiança que pediu, tem caminho livre para fazer à maneira dele.

Nos próximos dias virão desafios interessantes. Saber como o PSD vota a legislação laboral do Governo, saber se vai negociar com António Costa a nova Lei de Bases da Saúde, perceber como acaba a negociação do pacote da habitação, assim como no pacto da Justiça – aquele que foi enviado ao PS, aos outros partidos, mas que nunca tivemos o prazer de conhecer.

Em tudo isto, teremos de perceber se Rui Rio volta a ser um parceiro possível para António Costa (para agora ou para depois), se vai marcar diferenças que o identifique nas legislativas – ou se vai ficar na terra de ninguém em que caiu, desde que assinou com António Costa os acordos sobre descentralização e fundos comunitários.

Pelo meio, virá um teste nas europeias. E depois uma campanha – e os debates televisivos. Veremos, em tudo isso, o que valem estes 60% do PSD, os que Rui Rio esta madrugada convenceu a segui-lo. A verdade é que a missão não está mais fácil, sobretudo porque já não há desculpas.

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