O primeiro ministro mudou o chip em termos económicos…
António Costa meteu travão às quatro rodas quanto à expectativa de que 2019 será economicamente bom, politicamente fácil e sociologicamente feliz, bastando para isso confiar nele e ignorar o mundo.
O primeiro-ministro, que tem uma personalidade otimista por natureza — Presidente da Republica dixit — percebeu finalmente que tinha de mudar de chip, pela simples razão de que, em termos macroeconómicos, o ano de 2019 não se apresenta nem como eufórico, nem sequer como estável. Ou seja, um otimista terá, provavelmente, dificuldade em manter adesão à realidade, olhando para o mundo como ele está e sabendo que Portugal é elevadamente dependente da conjuntura externa. 2019 é um ano com riscos e perigos: precisa de realismo nas decisões e nos discursos.
António Costa foi à Associação 25 de Abril — um ícone da geringonça… — fazer esse discurso de correção da ideia de que tudo está bem. Foi lá que meteu travão às quatro rodas quanto à expectativa de que 2019 será economicamente bom, politicamente fácil e sociologicamente feliz, bastando para isso confiar nele e ignorar o mundo que nos rodeia (e também esquecer as nossas próprias vulnerabilidades, que começam na dívida e terminam nas concessões aos egoísmos corporativos e a radicalismos legislativos).
Só a 14 de fevereiro saberemos como correu — em números oficiais — o último trimestre de 2018. Gostaria de estar enganado, mas objetivamente não creio que se possam cumprir os 2,3% de crescimento anual do PIB que o Governo ainda há semanas teimava em comprometer-se; e apesar de preferir que a realidade me retifique, estou ainda mais convencido que também não se cumprirão os 2,2% previstos para 2019.
Porquê? Comecemos por 2018. Saíram esta semana dados relevantes sobre o comportamento do consumo nos últimos meses do ano que apontam para uma desaceleração — logo no consumo que era o mantra do primeiro-ministro (com manifesto exagero: a única diferença entre as intenções da anterior maioria e da atual, quanto a devoluções de rendimento, era uma diferença de velocidade e não de possibilidade). Nem sequer tenho a visão pessimista de que os consumidores antecipam mudanças telúricas de ciclo económico, como aconteceu em 2010 um ano antes da nossa insolvência em 2011; ou ao invés a partir de meio de 2013 relativamente ao início da inversão dos ‘anos de chumbo’). Limito-me a constatar factos com realismo. O consumo desacelerou nos últimos meses de 2018 — cá como noutras economias europeias.
Também é muito provável que as exportações tenham tido uma evolução mais modesta: por razões externas — a contração do crescimento nos nossos principais parceiros — e por razoes internas. A primeira e principal das razões internas prende-se com o surto sincopado, deliberado e prolongado de greves em portos relevantes. Obviamente, as exportações foram seriamente atingidas pela greve dos estivadores (estas coisas têm consequências e custos; a inércia perante as mesmas só piora o caso).
Mas o essencial é olhar para 2019, ano que representa um desafio para todos: a maioria deve evitar otimismos infundados e a oposição não deve cair na tentação de demagogias infinanciáveis. As coisas podem evoluir e mudar, mas de momento apresentam se assim: Espanha é o nosso principal cliente e não está bem; França é o segundo e não está bem; a Alemanha é o terceiro e não está bem; o Reino Unido é o quarto e também não está bem — e por aí fora. Só estes quatro mercados representam cerca de 50% das nossas exportações… E quando as coisas não estão bem nos nossos principais clientes, obviamente isso impacta a sério no nosso comércio internacional.
Por outro lado, se há um ano havia um sentimento global de otimismo moderado, o que existe neste princípio de 2019 é um sentimento global de pessimismo moderado. A origem remota desse sentimento é a acumulação de tensões comerciais e o regresso de tarifas protecionistas entre os principais blocos económicos. Essa escalada introduziu novos riscos políticos na economia internacional. Esses riscos (juntamente com outros como a dívida global; a debilidade das moedas emergentes; ou a emergência de populismos nas grandes nações do planeta, para citar apenas três) afetam a confiança e traduzem-se, provavelmente, em menos decisões ou decisões mais tardias no investimento. Se este é — de momento, repito — o quadro global porque havia Portugal de escapar as suas consequências?
Acho que a correção discursiva do primeiro-ministro está mais próxima da verdade do que o discurso exageradamente otimista que manteve até aqui. Mas atenção: um discurso mais realista deve ter como consequência uma agenda mais sóbria (a semana de inaugurações teve aquele sabor a euforia histórica que causa erros de perceções…) um processo de decisão pouco dado a experimentalismos ideológicos — por exemplo na área da saúde…
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