Costa semeia com jovens lobos

Costa até pode perder algum equilíbrio que torneará com a sua experiência, mas ganha a energia e ambição do sangue novo.

António Costa é um político que aprendeu tudo em dois areópagos: Câmara de Lisboa, com Jorge Sampaio, e governo de António Guterres, enquanto ministro dos Assuntos Parlamentares. Além disso, já tinha um doutoramento de talento inato, aquele que está no seu sangue, de compreender a política como ela é. Todos sabemos que é uma arte nobre que tem por objectivo servir bem a comunidade e melhorar a vida das pessoas, outra vertente é a gestão corrente dos interesses políticos e, nisso, ainda estão para me dizer que desde a democracia de 74 haja melhor general que o actual primeiro-ministro.

Ao contrário de Pedro Passos Coelho, por exemplo, que pouco perdia tempo com essas coisas, que optou por um rumo e ferreamente o executou com poucos tacticismos e inabilidade no jogo de cintura, com evidentes efeitos penosos na sua acção, Costa tem um instinto notável no rendilhado diário e no jogo de bastidores, selado com compromissos celebrados nas águas profundas que se sobrepõem na maior parte dos casos a um horizonte temporal mais longo.

Um homem que chega à presidência da Câmara Municipal de Lisboa e mete no bolso o “Zé” (Sá Fernandes), Helena Roseta, PCP e já apadrinhava com simpatia o Bloco de Esquerda ainda emergente, é alguém que conhece como ninguém a mercearia da politiquice e sabe “controlar” e “tranquilizar” quem pode atirar umas pedrinhas para a engrenagem criando casos e crises na sua rotina (recorde-se que com tanta obra polémica, no seu tempo e agora com Medina – um seu fiel discípulo – nunca mais houve uma acção popular contra ambos, algo em que o “Zé” era especialista em mandatos anteriores, relembre-se a saga do Túnel do Marquês que custou mais uns milhões ao erário público pela sua irresponsabilidade).

É nesse conhecimento da natureza humana, que dará um compêndio no dia em que publicar as suas memórias, que Costa se baseou na última remodelação percebendo o óbvio no que toca aos dois maiores partidos portugueses. Ali ao lado, na São Caetano, para lá da vertigem de reorganização que ira enfrentar a direita portuguesa com o surgimento de novos partidos, já viu que depois de Rui Rio vem uma nova geração, que é desconhecida da generalidade das pessoas e da qual brotarão uma série de nomes que dificilmente poderão ser encarados como futuro risonho para o PSD e Portugal. Algumas dessas novas caras, se atingirem um palco maior, terão um caminho de pedras no seu tirocínio para altos voos, adversidades na criação de empatia e carisma com eleitores e emperrar na consolidação um poder que será breve. Por seu lado, na sua casa, Costa tem jovens lobos que vai preparar e dar traquejo mediático, concedendo espaço, notoriedade e reputação.

É nessa óptica que tem de ser encarada a recente remodelação governamental. Até pode perder algum equilíbrio que ele torneará com a sua experiência, mas ganha a energia e ambição do sangue novo. Pedro Nuno Santos (o mais forte desta leva com um percurso e talento na senda do seu mentor), Mariana Vieira da Silva (competente e discreta), Graça Fonseca (que já estava e é um “bulldozer” de confiança) e o secretário de Estado, Duarte Cordeiro, são os nomes que podem levar o PS a uma preponderância da esquerda e prolongar a herança de poder que Costa quer legar no dia em que se sentar em Belém. É a semente que irá regar cuidadosamente para cimentar a hegemonia da rosa.

Nota: O autor escreve segundo a antiga ortografia

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