Brasil, sindicatos e combustível põem TAP no vermelho
O cancelamento de quase 2500 voos, o aumento em 38% dos gastos com combustível e a opção de resolver uma série de problemas laborais e históricos do grupo deram perdas não recorrentes de 95 milhões.
O grupo TAP justifica a deterioração das contas registada em 2018 com uma série de efeitos extraordinários que tiveram um impacto líquido de 95 milhões de euros nas contas. Sem estes efeitos, o grupo teria terminado o ano com um prejuízo de 23 milhões de euros, comparável aos 21 milhões de lucros obtidos em 2017.
Os números foram avançados esta sexta-feira de manhã por Raffael Guaritá Quintas, administrador financeiro da companhia aérea. E se alguns destes impactos não recorrentes surgiram de opções tomadas pela transportadora, como a “limpeza” da TAP M&E Brasil, outros foram alheios à empresa, como a subida do preço do combustível, com o jet fuel a sofrer em 2018 a maior subida desde 2011, referiu o mesmo gestor.
De forma sintetizada, explicou Quintas, o cancelamento de quase 2500 voos ao longo de 2018 – sobretudo na primeira metade do ano – acarretou custos de 22 milhões de euros em indemnizações e de 19 milhões com fretamentos de aviões não-TAP. Segundo o administrador, a companhia iniciou o ano de 2018 com um défice de pilotos (menos 122 que a intensidade da operação exigia), o que justificou a maioria dos cancelamentos registados. Mas para Raffael Quintas, este é um custo que não será repetido: “O investimento que fizemos em contratações e progressões assegura que não se repetirá. Este mês, por exemplo, apenas cancelámos 0,2% dos voos.”
Para resolver os cancelamentos por falta de tripulação, a TAP contratou mais de 250 pilotos e investiu em acordos [com sindicatos] de longo prazo que resultaram no acesso a progressões na carreira de mais 530 pilotos.
Em mensagem enviada pela Comissão Executiva aos trabalhadores após a apresentação dos resultados, e a que o ECO teve acesso, a gestão da TAP realça que o resultado da empresa “foi negativamente afetado pela negociação sindical que levou a 2490 cancelamentos extraordinários de voos”. Segundo a Comissão Executiva, “o contexto negociação sindical foi complexo”, mas trouxe e trará frutos: “A negociação sindical criou as bases para a TAP construir um acordo de Paz Social de quatro a cinco anos com os sindicatos, algo inédito na empresa e tão importante para a agenda de crescimento e transformação em curso.”
Se entre janeiro e julho de 2018 a TAP cancelou uma média de 144 voos por mês, detalha a comissão na missiva aos colaboradores, “entre agosto e dezembro o número de voos cancelados foi de apenas oito (média de 1,6 voos por mês)”, evolução que comprova como o problema dos cancelamentos ficou resolvido de forma “clara a partir de agosto de 2018”.
Em termos de pessoal, a TAP investiu 75 milhões para lidar e resolver uma série de situações que vinham pesando nas contas da empresa, tendo avançando em 2018 com um processo de pré-reformas que exigiu 27 milhões de euros e dedicando outros 20 milhões para ‘limpar’ passivos laborais. Mas o dossiê mais caro de resolver foi mesmo o da TAP M&E Brasil, que exigiu 28 milhões.
Sorvedouro no Brasil resolvido
A gestão da TAP decidiu resolver de uma vez a situação cronicamente deficitária no Brasil que há vários anos pesava nas contas do grupo — de 2010 até agora a empresa injetou 538 milhões de euros na TAP M&E Brasil. Para acabar de vez com este sorvedouro, a companhia financiou centenas de rescisões no Brasil, com o total de trabalhadores nesta empresa a cair de 1686 para pouco menos de 750 no final de 2018.
“Resolvemos o problema histórico da TAP com a M&E Brasil, com um programa grande de reestruturação, logo a situação financeira da empresa no Brasil está resolvida”, afirmou o administrador financeiro. O responsável lembrou ainda que a TAP vinha injetando dezenas de milhões de euros neste ramo brasileiro e que com a reestruturação implementada em 2018, este ano já não serão necessários reforços de capital para a M&E Brasil. Este processo permitiu encerrar a base operacional em Porto Alegre e concentrar os serviços no Rio de Janeiro.
Na carta aos trabalhadores, a Comissão Executiva da TAP esclarece ao grupo que se decidiu no último ano “investir para acabar com o problema crónico da TAP ME Brasil. Entre 2010 e 2017, a TAP SGPS transferiu para a TAP ME Brasil 538 milhões de euros, a valores nominais, das suas disponibilidades. Foi desenhado um plano de equilíbrio do quadro da TAP M&E Brasil face à procura existente no Brasil, que passou pela redução de efetivos de 1686 colaboradores, em dezembro de 2017, para 742 em dezembro de 2018, representando a saída de 944 trabalhadores no Brasil“.
Mais 169 milhões em combustível
Na listagem de todos os impactos não recorrentes negativos que a TAP enfrentou em 2018, Raffael Quintas terminou a apontar o facto de a companhia ter tido que lidar com o maior aumento médio do preço do petróleo desde 2011, tendo gasto mais 169 milhões de euros nesta rubrica do que em 2017, avançando de 580 milhões para 798 milhões.
“Cerca de 49 milhões de euros desse aumento foi devido ao aumento de volume, enquanto cerca de 169 milhões de euros foi devido ao aumento expressivo do preço do petróleo”, detalhou a Comissão Executiva na mensagem aos trabalhadores, admitindo, porém, que em 2018 “a TAP não tinha uma política de proteção de variação do preço do combustível, tal como tem a maioria dos concorrentes europeus, nem a capacidade de crédito para proteger uma posição significativa de combustível”.
“Tirando tudo isto”, concluiu Raffael Guaritá Quintas, “o resultado comparável seriam perdas de 23 milhões, contra o lucro de 21 milhões em 2017”.
Notícia atualizada às 15h10
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