António Costa: “Os portugueses não gostam de maiorias absolutas”
António Costa disse esta quarta-feira, numa entrevista à TVI, que não há qualquer hipótese de o PS aceitar um Governo com o PCP e o Bloco de Esquerda.
O primeiro-ministro, António Costa, disse esta quarta-feira numa entrevista à TVI que seria “absolutamente impossível” uma coligação que fizesse com que o PCP e o Bloco de Esquerda integrassem o Governo, ao contrário do acordo de incidência parlamentar que existe nesta altura. António Costa disse que não pede maioria absoluta, não porque não a quer, mas porque entende que “os portugueses não gostam de maiorias absolutas”.
“O nível de compromisso depende do grau de convergência. O grau de convergência entre nós não permite um nível de compromisso maior. É melhor não estragar uma boa amizade com um bom casamento. Acho que não. Implicaria uma tal violentação de linhas identitárias d’Os Verdes, do PCP e do Bloco de Esquerda que seria absolutamente impossível”, disse o primeiro-ministro no programa “Tenho uma pergunta”.
Nas respostas aos convidados pela estação televisiva, António Costa não quis, em nenhuma altura, comprometer-se com o valor do aumento do salário mínimo que o Governo pretende para a próxima legislatura. Apesar de questionado diretamente, o primeiro-ministro disse que essa é uma questão que tem de ser definida em sede de concertação social.
“É fundamental que logo no início da legislatura em sede de concertação social seja possível estabelecer uma meta que desejo ambiciosa para o aumento do salário mínimo”, disse o governante.
António Costa foi questionado diretamente com o valor que pretendia apresentar, e por que razão o fez na campanha eleitoral para as eleições de 2015 mas não o faz agora, mas o primeiro-ministro argumentou que o valor de 600 euros de salário mínimo nacional no final da legislatura era o valor necessário para repor a perda de rendimento real durante a crise.
“Nesta legislatura o salário mínimo subiu 20%. Recordo que quando estabelecemos esta meta alguns diziam que vinha aí o diabo”, disse.
Na primeira parte da entrevista, ainda a responder a perguntas do audiência de convidados da TVI, António Costa teve uma troca mais tensa com uma professora, que insistiu com o primeiro-ministro que os professores se encontram desmotivados e, inclusivamente, que falta papel higiénicos nas escolas.
O primeiro-ministro respondeu à professora, no que dizia respeito à contagem do tempo de serviço dos professores, que não aceita comprometer-se com o que não pode cumprir, um argumento de sustentabilidade repetido pelo Governo durante a crise despoletado pelo aviso de António Costa de que pediria a demissão caso o Parlamento aprovasse a contagem integral do tempo de serviço dos professores.
“Posso não a convencer, não a convenço seguramente, mas há uma coisa que tenho de estar é convicto com aquilo que digo e com aquilo que me comprometo”, disse.
PS fez funcionar a geringonça
Já na segunda parte da entrevista, com os jornalistas da TVI, António Costa disse que nunca pediu maioria absoluta “porque isso não é uma coisa que se peça”, mas defendeu que o país tem de “evitar uma situação de impasse à espanhola”, com um PS fraco e um Podemos forte, em resposta à maior dureza no discurso que tem tido em relação ao Bloco de Esquerda face ao Partido Comunista.
“Uma coisa que tenho a certeza é que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. Os portugueses têm más memórias das maiorias absolutas, tanto do PS como do PSD”, disse.
Segundo António Costa, um PS forte interessa aos portugueses e foi o Partido Socialista “o fator de equilíbrio” na solução governativa encontrada durante a legislatura que chega agora ao fim.
Questionado sobre se aceitaria fazer coligação com o PAN, António Costa evitou responder diretamente, mas reconheceu que tudo indica que o PAN tenha um crescimento nas próximas eleições e que, por princípio, não faz “chantagem” com os portugueses, impondo condições à partida para poder governar.
Mudanças no Código de Trabalho combatem precariedade
António Costa defendeu o novo Código do Trabalho das críticas feitas pelos partidos e sindicatos à esquerda, dizendo que as mudanças que são feitas na legislação laboral devem ser analisadas em conjunto e não apenas limitando a questão à alteração do período de experiência.
Mas mesmo na questão concreta do período experimental, António Costa mostrou-se convicto de que as mudanças vão no sentido de combater a precariedade. “Esta lei é um avanço importantíssimo no combate à precariedade laboral”, disse.
“O país não podia correr o risco de parar por causa da greve”.
O primeiro-ministro recusou ter estado do lado dos patrões durante a recente greve dos motoristas de matérias perigosas e disse que “o Governo esteve sempre do lado em que tinha que estar, que era do lado dos portugueses”.
António Costa disse que os serviços mínimos foram fixados em função do risco de cada setor, e que não foram impostos serviços mínimos no máximo, mas também disse que o país não poderia parar por causa de um conflito entre dois privados.
“Esta greve é uma greve muito especial porque ameaçava o funcionamento do país“, disse. “O país não podia correr o risco de parar por causa da greve”. “Alguns quiseram aqui aproveitar a ocasião para fazer aquilo que sonham há décadas, que era mudar a lei da greve. Aquilo que demonstrámos foi que a lei da greve não tem de ser mudada”.
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