O milagre dos rosas
Este Governo não é um caso de sucesso. Portugal cresceu muito menos do que deveria. E o que cresceu não foi graças ao Governo, foi apesar do Governo.
Parece que vivemos um milagre, uma quadratura do círculo, em que é possível reverter a austeridade, repor “direitos e salários”, promover crescimento e ter contas certas. Qual Rainha Santa Isabel, o Primeiro Ministro António Costa parece distribuir pão aos pobres e quando confrontado pelo D. Diniz de Bruxelas, com a ajuda do seu Ministro da Finanças Mário Centeno, que cativa debaixo do avental, mostra as flores das supostas contas certas.
Parece o tão famoso milagre das rosas, ou agora dos rosas. Mas, infelizmente, é só um truque de ilusionismo de terceira categoria.
Em cima de uma conjuntura que não podia ser mais favorável e suportado nas poucas reformas implementadas durante a Troika, António Costa usou toda a margem orçamental para satisfazer clientelas, enquanto o seu ilusionista Centeno mantinha supostas contas certas por via de cativações brutais.
Ou seja, em cima de um enorme aumento de impostos, tivemos um ainda maior aumento de impostos acompanhado pelo estrangulamento dos serviços e investimento públicos a uma escala brutal. Mas como é possível que a ilusão se mantenha? Como é que ninguém grita que o rei vai nu?
Muito simplesmente porque António Costa ao satisfazer as clientelas mais vocais e activas, comprou o seu silêncio. Com o PCP/CGTP e o Bloco no bolso, tem as ruas e os canais de comunicação social desimpedidos de barulho incómodo. Com duas ou três flores anestesiou funcionários públicos e pensionistas. E a quem não comprou o silêncio, amordaçou, como se vê com os enfermeiros, os condutores de pesados ou com jornalistas que incomodam. Como alguém uma vez declarou: quem se mete com o PS, leva. E simultaneamente apresenta supostas contas certas a Bruxelas, que na verdade também simula, pois deseja a conveniência em exibir um caso de sucesso para poder atribuir à sua intervenção.
E enquanto isso Portugal perde uma oportunidade histórica de dar passos significativos para uma sociedade mais próspera e livre. Pior, retrocede na distribuição dos pequenos poderes às corporações de hoje firmemente enraizadas no PS. E estrangula a esperança de que é possível vencer pelo esforço do próprio.
Adicionalmente surpreende é não se ouvir nem sentir uma oposição dos actores tradicionais. De forma atávica o PSD viabiliza as medidas mais infames para a democracia portuguesa – como o fim das restrições às ofertas a titulares de cargo público, a (des)regulação do lobby e, o pior de tudo, o ataque à independência da justiça. E o CDS parece dormente.
Este Governo não é um caso de sucesso. Portugal cresceu muito menos do que deveria. E o que cresceu não foi graças ao Governo, foi apesar do Governo. Continuamos a deslizar assustadoramente para a cauda da Europa com crescimentos muito abaixo dos países com quem nos podemos comparar – desde 2016 já fomos ultrapassados pela Estónia, pela Lituânia e pela Eslováquia.
Os últimos 20 anos de socialismo estagnaram Portugal. Os nossos filhos merecem que os próximos 20 anos lhes deem a expectativa de um futuro melhor. E esse caminho é conhecido e está demonstrado pela experiência dos países que mais crescem. Sigamos os bons exemplos se queremos um Portugal mais liberal.
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