Investir na bolsa em 2020?

  • ECO + DIF
  • 3 Janeiro 2020

2020 irá proporcionar os mesmos retornos que 2019? E nos próximos 10 anos? Será que a bolsa norte-americana será o melhor destino das poupanças?

Agora que fechámos 2019 e vamos iniciar 2020, julguei interessante conhecer o que se passou nos últimos 10 anos nas principais bolsas de valores mundiais; em particular, conhecer as regiões e os sectores que obtiveram o melhor desempenho, bem como as empresas que se destacaram pela positiva.

Desta forma, recolhi dados das empresas constituintes dos distintos índices bolsistas, para as quais existem dados para o fecho de 2009 e de 2019, por forma a realizar dita análise. Para se obter uma cobertura global, foram considerados os principais índices bolsistas mundiais, entre outros: o S&P 500, o DAX 30, o HANG SENG e o NIKKEI 225.

Apesar de existirem empresas que fazem parte de mais de um índice, por exemplo, as acções da Apple (NASDAQ 100, S&P 500 e DOW 30), cada empresa seleccionada foi considerada uma única vez na análise. Desta forma, o exame incidiu em 2458 empresas cotadas em bolsa, distribuidas pelas seguintes regiões/países: Ásia/Oceania, Europa, EUA, América do Sul e Rússia. Após se efectuar a dita selecção, de 2458 empresas, podemos verificar que na análise 53% pertencem à Ásia/Oceania, 22% à Europa, 19% aos EUA, 5% à América do Sul e 1% à Rússia (ver Figura 1).

No final de 2009, este universo de empresas representava uma capitalização bolsista de 21 biliões de Euros (milhões de milhões), em que os EUA, a Ásia/Oceânia e a Europa representavam cerca de 30% cada (ver Figura 2).

Entretanto, o que aconteceu nos últimos 10 anos? O mercado bolsista norte-americano destacou-se claramente dos demais. A sua capitalização bolsista subiu 250% para este período, passando a representar 50% aproximadamente da capitalização bolsista para esta análise em 2019. Globalmente, o mercado de acções continuou a ser uma excelente opção para a canalização das poupanças dos investidores, pois o seu valor multiplicou-se 2,3 vezes (130%), ou seja, uma rendibilidade anualizada de 8,7%. No caso dos EUA, essa rendibilidade anualizada foi de 13,3%. Em qualquer dos casos, um investimento na bolsa nos últimos 10 anos teria permitido, não só, cobrir a perda do poder de compra do dinheiro (inflação), bem como obter uma remuneração real muito superior às demais alternativas de investimento existentes. Pela negativa, importa salientar que a América Latina e a Rússia não foram as melhores opções de investimento para estes 10 anos que passaram.

Uma das razões para o superior desempenho da bolsa norte-americana resulta da existência de grandes empresas dos sectores Tecnológico e Saúde, precisamente os que apresentaram o melhor desempenho para este período (ver Figura 3). No caso do sector Tecnológico, um investidor que tivesse aplicado 100 euros no final de 2009, agora teria 412 euros; no caso do sector Saúde, teria 338 euros. Os sectores de actividade tradicionais, ou menos associados à tecnologia, foram claramente os perdedores, em particular o sector da Energia e das Matérias Primas. A pergunta que se coloca é a seguinte: será que serão igualmente os sectores com pior desempenho nos próximos 10 anos? O sector Tecnológico continuará a ser a estrela?

Quais foram as empresas-estrela desta análise? Se tivermos em conta apenas as empresas que apresentavam uma capitalização bolsista superior a 10 mil milhões de Euros no final de 2009, iremos obter uns nomes interessantes e não desconhecidos da maioria do grande público. Tal como podemos verificar na Figura 4, aparecem-nos os seguintes 5 nomes: Amazon, Mastercard, Tencent, UnitedHealth e Apple. Deste grupo, apenas a Tencent não cota na bolsa norte-americana, todas as outras estão admitidas à cotação em bolsas norte-americanas. A Tencent cota na bolsa de Hong Hong e faz parte do índice HANG SENG. Como podemos constantar, um investidor que tivesse destinado 100 euros para a compra de acções da Amazon no final de 2009, hoje teria 1781 euros! No caso da Apple, a 5ª melhor, teria 1232 euros. Em conclusão, os gigantes tecnológicos norte-americanos proporcionaram rendibilidades excepcionais aos seus accionistas nos últimos 10 anos. Mais uma vez, a Europa ficou para trás e continuam a não existir empresas tecnológicas globais, estando a perder terreno para os EUA e China.

Apesar da impressão massiva de dinheiro por parte de todos os bancos centrais nos últimos 10 anos, a bolsa norte-americana foi a que conseguiu captar a maioria desta injecção de liquidez, em particular pela utilização de “buy-backs”; em que consiste esta prática? A empresa contrai dívida e utiliza-a na compra das suas próprias acções na bolsa de valores, obviamente, colocando uma pressão compradora no preço. Por outro lado, existe uma enorme pressão política para manter o mercado accionista norte-americano nas “nuvens”.

Desde a sua eleição em 2016, sempre que o mercado accionista norte-americano supera um novo máximo, o presidente Trump diz que tal subida é um certificado de qualidade das suas políticas.

Por outro lado, a bolsa norte-americana, na perspectiva de um investidor europeu, também se beneficiou da queda do EUR USD, passando de 1,43 para 1,11; ou seja, a divisa norte-americana apreciou-se face ao Euro, permitindo que à valorização em bolsa se juntasse a valorização cambial.

O ano que entretanto passou foi fantástico, pois o NASDAQ 100 possibilitou um retorno anual de 36% (em USD), enquanto o S&P 500 possibilitou uma valorização de 28% (em USD). A bolsa norte-americana, mais uma vez, foi a estrela de todas as bolsas.

Os desafios que agora se colocam a qualquer investidor é o seguinte: 2020 irá proporcionar os mesmos retornos que 2019? E nos próximos 10 anos? Será que a bolsa norte-americana será o melhor destino das poupanças? Os sectores mais interessantes continuarão a ser a Tecnologia e Saúde?

Uma coisa é clara: deixar o dinheiro no banco a 0%, ou mesmo a taxas negativas, não será a melhor opção!

Nota: Artigo escrito ao abrigo do antigo acordo ortográfico.

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