Estamos ou não a viver outra bolha em Wall Street?
Mercado norte-americano apresenta uma tendência ascendente há mais de 10 anos. É a mais longa da história de Wall Street, pelo que deveria existir alguma cautela.
No último dia 17 de janeiro de 2019, o índice S&P 500, o principal índice da bolsa norte-americana, voltou a fechar em máximos históricos, encerrando a sessão nos 3.330 pontos. Para a mesma data, para o presente ano, regista uma subida de 2%; em 2019, registou uma subida de 29%.
O mais impressionante de tudo isto foi a subida deste índice desde mínimos de março de 2009, desde os 667 pontos aos atuais 1.330 pontos, representando uma subida de 380%! Caso analisássemos esta evolução, seria 13,9%. Ou seja, a rendibilidade anual foi de quase 14% ao ano, caso um investidor decidisse investir neste índice, desde março de 2009. Podemos observar esta evolução no seguinte gráfico:
Importa recordar que o mercado norte-americano apresenta uma tendência ascendente há mais de 10 anos, em que a estratégia de sucesso, bastaria ter passado pela compra do índice S&P 500 sempre que ocorreu uma correção do mesmo; ou seja, sempre que o índice se aproximava da linha de tendência: comprava-se novamente.
Depois de vários anos de bonança para os investidores, a pergunta que agora se coloca é a seguinte: estamos ou não a viver outra bolha financeira?
Para podermos responder a esta questão, importa analisar alguns dados.
Em primeiro lugar, o grau de concentração da subida da capitalização bolsista no ano transato. Um mercado não é saudável, caso a subida da capitalização bolsista se encontre concentrada num número reduzido de empresas.
Se analisarmos as empresas que compõem o índice, verificamos que apenas sete empresas representaram 32% da subida da capitalização bolsista entre 1 de janeiro de 2019 e 24 de janeiro de 2020, de 7 biliões de dólares. Podemos observar esta análise no seguinte gráfico:
Apenas a Apple e a Microsoft representaram uma subida de mais de 1 bilião de dólares da dita subida. Em conclusão, os investidores estão a concentrar os seus investimentos num número cada vez mais reduzido de empresas, algo que não é saudável e pode assinalar um final de tendência.
No entanto, se distribuirmos as 500 empresas do índice S&P500, de acordo com a percentagem que a atual cotação representa do máximo histórico, cerca de 64% das empresas encontram-se próximas do seu máximo histórico. Na seguinte figura, podemos observar a dita distribuição:
No último dia 24 de janeiro de 2020, a Apple encontrava-se em máximos históricos, ou seja, para esta sessão encerrou a cotar nos 318,31 dólares por ação, praticamente um máximo histórico (registado no dia 23 de Janeiro em que encerrou a 319,23 dólares por ação), ou seja, a cotação encontrava-se a 100% do máximo histórico.
Neste caso, podemos concluir que o mercado ainda está de boa saúde, atendendo que diversas empresas estão a registar máximos históricos, em lugar de haver um número reduzido de empresas a fazê-lo, isso sim, estaria a assinalar uma situação débil.
Para finalizar, julgo importante comparar a atual situação com anos anteriores, em que uma dada tendência ascendente era iminente. Assim, dever-se-á ter em conta o final de 1999, pois em 2000 deu-se o crash das dot.com; bem como, o final de 2007, prelúdio do terramoto que ocorreu em 2008, com a falência do famoso banco de investimento, o Lehman Brothers e o fim da bolha imobiliária nos Estados Unidos.
Se analisarmos a soma do resultado líquido de 358 empresas do índice norte-americano para o exercício de 1999, temos 238 mil milhões de USD. Se tivermos em conta o rácio capitalização bolsista vs Resultado líquido, este situava-se em 31,2, na prática o famoso PER que é utilizado para empresas individuais por analistas fundamentais. Desta forma, na atual situação temos um rácio de 24, inferior a 1999, mas superior a 2007.
Podemos chegar à mesma conclusão, ao analisarmos o rácio Capitalização Bolsista vs Receitas. Neste caso, em 1999 era de 2,5, enquanto que atualmente estamos em 2,2, inferior a 1999, mas superior a 2007.
Em conclusão, julgo que esta tendência já se prolonga há mais de 10 anos, a mais longa da história dos mercados norte-americanos, pelo que alguma cautela deveria de momento existir, atendendo que nos encontramos com valorizações sobejamente otimistas.
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