Como desbloquear um país

Ambos nascemos quando crise não era palavra repetida à exaustão, mas crescemos e chegamos a adultos a viver em estagnação e crise. Agora não será diferente.

Y = A⋅ F(K, N)

Num ápice, o planeta fechou, o coronavírus tomou conta do mundo e as indicações são expressas: #StayAtHome. Ansiamos pelo regresso à normalidade e assim que as condições sanitárias o permitirem, progressivamente, o planeta há-de “reabrir portas”. Mas quando isso acontecer, qual a estratégia para o futuro?

Se todas as crises trazem oportunidades o grande desafio é estarmos preparados para responder. Este não é um artigo sobre a pandemia, mas sobre o momento seguinte.

A recuperação económica passa também por recuperar a economia que temos: PMEs, nem todas de elevada tecnologia, mas todas importantes para o sustento dos portugueses. Mas, sem dogmas, receitas (ou seitas) ideológicas, estamos convictos de que esta crise nos dá a oportunidade de transformar o modelo económico em Portugal e na Europa, que nos permita ambicionar mais, e que passa por:

Um Estado Social, Justo e Democrata

Face a uma crise humanitária, sanitária e económica, a anti-política sumiu-se, os céticos da ciência esconderam-se, e todos (incluindo liberais) reconheceram o papel das instituições e de um Estado forte e necessário neste combate. A forma de o robustecer não é, no entanto, o Estado eleitoral que distribui o que tem em função da capacidade reivindicativa dos grupos ou do ruído que estes geram. O primeiro interesse do Estado tem de ser garantir a igualdade de oportunidades, o acesso à saúde, à educação e à proteção social, de forma eficiente e qualificada, que possa fazer mais com menos carga fiscal. Um Estado bem equipado tecnologicamente nas escolas e nos hospitais e que confia nas organizações e nas pessoas que as dirigem. Com uma justiça cega que não veja nem decida de forma diferente para os poderosos e para os mais frágeis.

Um Estado que não vive só para o presente, mas prepara o futuro. E isto faz-se com uma iniciativa privada que consegue respirar, investir e exportar. Faz-se também com investimento público, com parcerias com o setor privado e dinamizando a sociedade civil. Asfixiar a economia e os setores exportadores impede-os de competirem com os outros países e reduz a riqueza criada. Só criando riqueza a podemos distribuir no futuro.

O conhecimento

Nos últimos 20 anos, vimos o nosso país a esperar pouco da política, fruto do pouco que a política lhe trouxe. “Só não quero que me subam os impostos…” é uma das frases que mais ouvimos. Nestas últimas décadas o crescimento económico foi fraco, impedindo melhores salários e vimos várias economias inferiores passarem-nos à frente. Podemos questionar-nos sobre o que fizemos de errado ou continuar a insistir nos mesmos erros.

As decisões que tomamos no presente têm consequências no futuro, e portanto é fundamental definirmos em que país (e em que Europa) queremos viver. Será finalmente o momento de darmos prioridade ao estrutural, em vez do circunstancial, ou continuaremos a alimentar privilegiados a troco de desenvolvimento futuro?

São muitas as evidências de que na economia mundial o elemento diferenciador é o conhecimento. Isso vai decidir quem chega primeiro ao um futuro altamente dominado pela tecnologia. Esta transformação está o ocorrer e esta crise só a evidenciou. É visível no comércio, nas relações sociais, no ensino, na defesa, na saúde e na diplomacia. Qualquer estratégia que ignore a aposta em inovação, tecnologia, capital humano, e na criação de talento é errada. E isto não significa um menor papel das áreas do conhecimento das ciências sociais, que são tão mais relevantes quanto maior o espaço que a tecnologia tem nas nossas vidas. A ética, o humanismo, o pensamento crítico são o contraponto necessário à digitalização, à inteligência artificial e à robótica.

O Capitalismo Consciente e Sustentável

Pensar que todos os problemas do Estado podem ser ultrapassados com ainda mais Estado, é a forma mais fácil de aprofundar o problema.

O Capitalismo, modelo económico que mais crescimento económico até hoje nos trouxe e que mais milhões de seres humanos retirou da pobreza, deve tornar-se mais consciente e, fundamentalmente, mais sustentável.

Esta é uma oportunidade de alteração do nosso modelo de sociedade, incentivando o teletrabalho poupando milhares de viagens (e reduzindo emissões poluentes), promovendo uma economia mais circular (e com menos desperdício) e mais resiliente a choques externos. É a oportunidade para percebermos que, sendo o lucro (e a sua expectativa) uma parte fundamental da economia, este não pode ser o único móbil – a consciência social tem um papel também. O que precisamos são de pequenas ações que façam uma pequena diferença de cada vez. É assim que se operam grandes transformações.

Precisamos de uma estratégia de desenvolvimento equilibrada, que proteja o ambiente, que conte com todo o país, e que possa dar novos, melhores, e mais bem pagos empregos aos portugueses.

Ambos nascemos quando crise não era uma palavra repetida à exaustão, mas crescemos e chegamos a adultos a viver em estagnação e crise, e agora não será diferente.

Y = A. F(K,N), é a fórmula da contabilidade dos fatores para o crescimento, para o qual precisamos de capital, de trabalho e de progresso técnico.

Mas, a estratégia?

A estratégia é ter um Estado de todos que sirva a todos, e não um Estado que se serve de muitos para servir alguns.

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