Precisa-se de estratégia e não de listas de propostas

  • Henrique Neto
  • 30 Maio 2020

Por favor, leiam a síntese estratégia de 2003 da AIP, está lá tudo o que é preciso fazer, em meia página e não no enorme desperdício de papel e de tempo dos planos do Governo e das oposições.

Acabei de ler o texto aqui publicado do dirigente do PSD Joaquim Miranda Sarmento sob o título “A prioridade da retoma são as empresas“, mas confesso a minha tristeza pelo PSD ainda ver o futuro de Portugal pelos óculos das Finanças, sem compreender que Portugal precisa de uma estratégia e não de uma lista de propostas, quase sempre contraditórias, que é que acontece neste texto.

Escrevi um livro sobre estratégia, com uma sínteses de meia página e participei com o saudoso Professor Veiga Simão na síntese estratégica de AIP de 2003, que não vou aqui repetir, mas que pode ser lida na Carta Magna para a Competitividade. No fundo, ambas as propostas resumem-se a três meios para um único objectivo estratégico, duplicar as exportações portuguesas: recursos humanos, sistemas de informação e de comunicação e logística. Acrescento agora: logística marítima e ferroviária, esta em direcção ao centro da Europa em bitola UIC.

O Primeiro Ministro japonês, Shinzo Abe, acaba de propor o seguinte: “Construir uma economia menos dependente de um país, a China, para que o país possa evitar melhor as interrupções da cadeia de suprimentos”. Não é preciso ser adivinho para prever que as grandes empresas europeias e norte americanas seguirão este exemplo e não sendo credível que façam todos os investimentos nos seus próprios países, não existe no Ocidente melhor localização do que Portugal para empresas industriais integradoras.

As empresas integradoras, como a Autoeuropa, precisam da melhor logística para receberem de todo o mundo os componentes e os sistemas de que precisam e para exportarem para todo o mundo os seus produtos finais. Ora Portugal está no centro do Ocidente e das rotas marítimas do Atlântico, entre os dois maiores mercados mundiais, Europa e Estados Unidos. E, com a excepção da linha férrea para a Europa, temos tudo o que é preciso: Sines, espaço, baixos custos de mão de obra e de construção e todas as tecnologias necessárias: engenharia de produtos em CAD tridimensional, prototipagem, moldes e ferramentas, injecção de plásticos e de ligas metálicas leves, estampagem de metais, robótica e automação, embalagem de cartão, de madeira e de vidro, electrónica e boas escolas de engenharia e de centros de investigação, além de doutorados sem emprego.

Basta ver o que aconteceu com a Autoeuropa. A produção e a exportação nacional de sistemas e de componentes para o automóvel cresceu de cerca de trezentos milhões para mais de oito mil milhões de euros em 2019. Basta repetir a história, agora com melhores condições. Esta é a estratégia de industrialização de que precisamos, não apenas para vencer a crise, mas principalmente para fazer de Portugal um País moderno e socialmente progressivo, porque, como alguém disse: “Não há progresso social sem desenvolvimento económico”. Todavia, nada acontecerá, nem mesmo combater a economia dual para libertar mão de obra, com mais uma lista de medidas avulsas, em tudo semelhantes a outras listas que o tempo encaminhou para a irrelevância.

O “plano” do Dr. Joaquim Sarmento é apenas mais um, com as mesmas características e falar do TGV, uma marca de comboios, é um desperdício de inteligência e de bom senso. Porque se os empresários portugueses servem para alguma coisa, será para explicar ao porta voz do PSD para a economia a razão porque as exportações nacionais precisam como de pão para a boca de uma linha férrea de mercadorias em bitola UIC de Aveiro a Salamanca e dali para o centro da Europa ou, menos bem, através de Badajoz.

Basta perguntar as razões à CIP, à AFIA, à Autoeuropa, à PSA, ou a quaisquer empresas exportadoras e terão a resposta certa. Aliás, se não for em bitola UIC, o melhor é não estragar mais dinheiro dos contribuintes, porque os comboios de mercadoria europeus do mercado agora liberalizado não entrarão em Portugal, nem para exportar, nem para as importações de que Joaquim Sarmento parece ter medo.

Por favor, leiam a síntese estratégia de 2003 da AIP, está lá tudo o que é preciso fazer, em meia página e não no enorme desperdício de papel e de tempo dos planos do Governo e das oposições.

Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico.

  • Henrique Neto

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