JIT-Kaizen-Lean, digitalização e ensino superior: uma combinação improvável?

  • Rosário Moreira
  • 3 Julho 2020

Aquilo que, em poucos dias de mudança ciclónica devido à pandemia, nos permitiu salvar o ano escolar, foi a digitalização do ensino, com um salto de gigante da sala de aula para o ensino à distância.

O just-in-time (JIT), o kaizen e a gestão lean são três conceitos que surgiram no pós-2ª Guerra Mundial, na Toyota ou a partir dela desenvolvidos. São três vocábulos presentes em todos os manuais de gestão para a eficiência e referem-se à eliminação de desperdícios (pedra angular da filosofia just-in-time), à melhoria contínua (kai-zen=mudança para melhor), e à supressão de tudo aquilo que (não sendo necessário) não acrescenta valor (gestão lean ou magra). Sendo metodologias/filosofias originárias da indústria, a ela encaixam na perfeição o seu propósito: proporcionar a excelência de todas as suas operações.

Falemos agora na formação a nível de ensino superior e de formação ao longo da vida. E tentemos responder às seguintes questões. Se adicionalmente a aprender com os melhores professores, o estudante tivesse oportunidade de escolher o horário em que é mais rentável e produtivo, ou a altura do dia que lhe é mais oportuna? E se, além disso, pudesse escolher o local onde quer aprender?

As respostas a estas perguntas encontram um match no ensino à distância, onde a digitalização é a palavra de ordem. Aquilo que, em poucos dias de mudança ciclónica devido à pandemia, nos permitiu salvar o ano escolar, todas as formações pendentes, e os vários ciclos de estudos em curso foi a digitalização do ensino, tendo ocorrido um salto de gigante da sala de aula para o ensino-aprendizagem à distância. Sem a transformação digital do ensino nada disto teria sido possível. Assistimos, aplicado ao ensino, a “Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Em Portugal, bem como em quase todo o mundo, em 2 ou 3 semanas, o ensino deu um salto de décadas em termos da flexibilidade, possibilidade de eliminação de atividades sem valor acrescentado, e mudança para uma experiência de aprendizagem contínua e melhor para todos os envolvidos no processo.

A sala de aula invertida (flipped classroom), por exemplo, enquanto metodologia de ensino-aprendizagem que aproveita o que as tecnologias digitais nos oferecem, poderá ser o futuro do ensino superior e da aprendizagem ao longo da vida. A ideia é que o estudante aprenda os conteúdos autonomamente, através de materiais digitais e outros produzidos pelo professor e que, quando ocorre a aula presencial ou a aula síncrona online, este tempo seja de discussão de ideias, de interação e de desenvolvimento pessoal e cognitivo. Em vez do tradicional ensino orador-ouvinte (professor-estudante), o processo de aprendizagem inicia-se em casa ou em qualquer lugar que o estudante queira, utilizando os meios digitais, e consolida-se e transforma-se em conhecimento na sala de aula. Sem deslocações tão frequentes de estudantes e professores, eliminamos “desperdício”; com flexibilidade horária e geográfica, aumentamos o valor acrescentado; e com um caminho de aprendizagem mais comprometido, responsável e motivador, fazemos uma mudança para melhor. Com o modelo da aprendizagem contínua, existe um novo foco no desenvolvimento do estudante de uma forma holística – e não apenas uma aprendizagem formal.

O mundo mudou. Já não é novidade para ninguém que há um antes e um depois da Covid-19. Não existe nenhum “Regresso ao passado” que altere a nova realidade das pessoas, das organizações em geral, das Escolas e das Universidades, em particular. Façamos a passagem do just-in-time para o digital-in-time, do continuous improvement (kaizen) para o continuous learning e da gestão lean para a gestão learn.

  • Rosário Moreira
  • Professora e diretora do The Digital MBA da Porto Business School

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