Eu matei John F. Kennedy
Hoje, o ciclo da notícia é cada vez mais curto, parece que as pessoas querem novidades constantes porque se aborrecem rapidamente.
No dia 22 de Novembro de 1963, tristemente marcado pelo assassinato de John F. Kennedy, eu ainda não era nascido. Por isso, ao contrário do que diz o título, eu não matei o presidente americano. Não quis enganar o caro leitor, pretendi apenas chamar a sua atenção com um título forte e que visa discutir o jornalismo actual.
Porque o jornalismo mudou, não sei se para melhor, mas mudou. Sobretudo tem de adaptar-se à queda do “gate-keeper”, que peneirava o que não interessava e não era relevante, face a um mundo onde qualquer pessoa é produtora de conteúdos noticiosos. Basta um smartphone ou estar num meio/rede social.
Sou um defensor acérrimo do jornalismo, melhor, do bom jornalismo. Sou um defensor acérrimo da verdade, apesar de vivermos no caos da pós-verdade. Cabe sobretudo à imprensa agregar o que interessa à comunidade, excluir a podridão, o ridículo, a não-notícia.
Uma notícia não é nem de esquerda nem de direita, é, pura e simplesmente, uma Notícia. Hoje, o ciclo da notícia é cada vez mais curto, parece que as pessoas querem novidades constantes porque se aborrecem rapidamente. Os títulos são mais fortes (como o meu desta crónica) e as mensagens são mais agressivas. Há mais barulho e menos esclarecimento.
A propósito disso: «Disse-lhe Pilatos: «então tu és rei?» Jesus respondeu: «Tu dizes que sou rei. Eu nasci para isto e para isto vim para o mundo, para dar testemunho da verdade. Todo aquele cujo ser é da verdade ouve a minha voz» Diz-lhe Pilatos: «o que é a verdade?». (Evangelho Segundo São João, “Bíblia”, na tradução de Frederico Lourenço, edição Quetzal). Como todos sabemos, no momento da escolha, a populaça optou por salvar Barrabás e não Jesus, o que falava verdade.
Todos os dias a imprensa perde leitores, quem gosta dela, como eu, sofre com isso. Mas a imprensa não perdeu o seu valor, quem tem perdido com a sua crise são as sociedades democráticas. E com uma imprensa fraca a nossa liberdade é igualmente mais fraca.
Não pensem com isto que sou um feroz crítico dos meios/redes sociais. Não. Tal como acredito na boa imprensa, também sei que nos novos media há qualidade. São como o algodão, quem é bom não engana. Como dizia o Luis Paixão Martins há pouco tempo, o que falta perceber aos “velhos” media é o conceito de “engagement”, o conceito quase afectivo de comunidade, que marca quem sabe estar nos meios/redes sociais, aproveitando o melhor que dali vem.
Mas cabe continuar a marcar e a separar o que interessa do que não interessa, saber distinguir o que é certo e errado, manter a tolerância e não promover a degradação e os valores que todos os dias são enfiados debaixo do tapete. E isso é tarefa do bom jornalismo do qual a imprensa não pode perder a visão de ser o seu principal guardião.
Um dia, como atrás escrevi, o vulgo escolheu Barrabás. O barulho e a cegueira impuseram-se à calma e à luz da verdade. Que isso não volte a acontecer. Sou um crente na importância do jornalismo para evitar esses males, essa é a minha religião, essa é a minha fé.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
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