BRANDS' ECO Vera Costa Pereira: “Precisamos de mais e melhores líderes em Portugal com o mindset correto”
É especialista em desenvolvimento de negócios e inovação, conta no currículo com projetos em 16 países e acaba de lançar a sua própria consultora de gestão. Conheça Vera Costa Pereira.
“Capacitar pessoas e negócios a unirem-se e a elevarem os seus resultados”. É esta a missão de Vera Costa Pereira, CEO da consultora Business Avenue e especialista em desenvolvimento de negócios, gestão de parcerias, estratégia e inovação.
Nos últimos dois anos, mediou mais de 137 negócios, com um volume de cerca de 400 mil euros. Ajudou dezenas de startups e grandes prestadores de serviços a estabelecerem parcerias de sucesso, nacionais e internacionais. E, por isso, não precisou esperar pelo fim da pandemia para lançar a sua própria consultora de gestão. “Tinha muita vontade de disponibilizar um serviço de qualidade e totalmente adaptado às necessidades dos pequenos empresários portugueses. Como estava tudo preparado há mais de um ano para iniciar atividade em março, assim foi, sem qualquer dúvida.”
A Business Avenue surge com a missão de “ajudar as empresas impulsionadas pela inovação, a aumentar a sua receita e cumprir não apenas os KPIs financeiros, mas moldar o futuro como o conhecemos“. Uma missão que personifica o próprio desejo de Vera Costa Pereira, porque como ela mesma diz, “os negócios são pessoas e as pessoas são os negócios”.
A partir da próxima semana Vera Costa Pereira estreia uma série de 6 videocasts, com vários convidados e distintos temas em torno da gestão. Intitulado “A Voz do Negócio, com Vera Costa Pereira”, o primeiro acontece já na quinta-feira, 1 de outubro.
Como se especializou na área de desenvolvimento de negócios e inovação?
Não posso dizer que me formei a pensar que o desenvolvimento de negócio seria a área que me viria especializar, nem existia essa opção. Na altura candidatei-me a um estágio profissional de marketing na Henkel, um dos estágios mais difíceis, até porque eram bem remunerados, e durante o processo, a Country Manager propôs-me fazer o estágio em vendas, ao invés de marketing. Vinte dias depois estava a trabalhar. Confesso que foi a primeira vez que “suei” sentada numa secretária a olhar para mapas financeiros, mas apesar de difícil, o percurso foi uma escola fantástica onde tomei o gosto por trabalhar em mercados internacionais, construir propostas de valor disruptivas e desconstruir conceitos. Recordo-me que criei a página de Facebook da marca Schwarzkopf Professional à revelia apenas para provar que a empresa tinha de evoluir tecnologicamente e que o marketing digital era o caminho a seguir.
Felizmente não fui despedida, pelo contrário, despertei a curiosidade e o interesse do departamento de marketing, que de seguida criou uma estratégia internacional e outros países seguiram o mesmo caminho.
A paixão pelo desenvolvimento de negócio e inovação surge dessa inquietude, da insatisfação com o status quo e a procura de outros caminhos mais lucrativos e otimizados. Quando surgiu a oportunidade, já em Moçambique, de entrar num projeto como Diretora de Desenvolvimento de Negócio local para grandes marcas internacionais, como a Danone, Disney, Johnny Walker, Nestlé, Compal, Sminorff, Huggies, Unilever, etc., agarrei de imediato, sendo que o contacto com diferentes áreas de negócio e clientes acabou por enriquecer em muito a minha capacidade de antecipar desafios, o know-how de diferentes mercados/tecnologias e a minha “biblioteca” de estratégias.
Foram seis anos intensos e desafiantes como só um mercado como o africano pode ser. Fui confrontada com imprevistos e constrangimentos que nunca seria possível na Europa. Quando cheguei a Portugal, quis aplicar os meus conhecimentos a Micro e PMEs e entrei no mundo das startups com tecnologias de inovação sustentável, com a dinamarquesa Green Innovation Group. Foi nessa altura que agreguei a inovação tecnológica a tudo o que já sabia sobre negócios. A cereja no topo do bolo que completou, sem sombra de dúvida, a minha experiência profissional.
Em plena pandemia, fundou a sua própria empresa. Como foi este processo?
Tinha, e tenho, uma certa angústia com as crenças do meu país no que toca aos negócios. Pensamos que somos limitados e que seremos sempre limitados. Acredito piamente que a massa empresarial portuguesa é muito mais do que “trabalhar para viver e viver para trabalhar”, que tem estado efetivamente desacompanhada e à deriva, contudo tem garra para fazer melhor.
A Business Avenue foi pensada com esse princípio em mente e muito antes da pandemia. Tinha muita vontade de disponibilizar um serviço de qualidade e totalmente adaptado às necessidades dos pequenos empresários portugueses. Como estava tudo preparado há mais de um ano para iniciar atividade em março, assim foi, sem qualquer dúvida.
"A nossa metodologia não é impor processo criados em 1950, é criar um fio condutor que faça sentido para o negócio, para o seu empresário e para a cultura implementada.”
Não acredito que a disrupção tem de ser só pensada de forma negativa, até porque, historicamente, todos os grandes saltos na inovação saíram ou de consumidores frustrados ou de situações críticas. Como a missão da Business Avenue é dar ferramentas a todos os empresários e empreendedores para melhorarem o seu negócio, nunca iria aguardar por um momento em que a economia fosse favorável, não só vai contra tudo o que acredito como seria o caminho que menos orgulho me daria. É nos momentos complicados que temos de nos valer das nossas competências e fazer a nossa parte.
Hoje sinto que não só ajudamos as empresas na melhoria da sua atividade, como também os trabalhadores na manutenção dos seus postos de trabalho. Esse caráter social acrescenta muito ao nosso dia-a-dia, porque sabemos que trabalhamos em prol de um futuro melhor para nós e para outras famílias.
Que tipo de serviços presta às empresas e qual a metodologia utilizada?
A Business Avenue é uma consultora de gestão com uma metodologia própria e muito focada no lucro, apresentando aos clientes dois serviços complementares entre si.
A pergunta da metodologia é recorrente e interessante. Na realidade, os grandes princípios da gestão são universais, contudo estão obsoletos. As organizações hoje têm de ser ágeis, fáceis de gerir e responsivas a uma velocidade extraordinária. A nossa metodologia não é impor processo criados em 1950, é criar um fio condutor que faça sentido para o negócio, para o seu empresário e para a cultura implementada.
Não criamos nada para nós e não doutrinamos disciplinas obsoletas, criamos, sim, uma moldura funcional e que realmente resulte, já que a inovação só pode ser considerada inovadora quando tem resultados e marketfit. Caso contrário, é apenas uma ideia no papel.
"Precisamos de mais e melhores líderes em Portugal com o mindset correto, que não tenham medo de fazer diferente e de se fazer ouvir.”
O Innovate Consulting é um pack de serviços construído à medida do negócio e das suas variáveis, tendo como foco alinhar estrategicamente o negócio e as táticas para atingir os objetivos que o empresário tem. Por norma abordamos temas como estratégia de marketing, estratégia comercial, estudos de mercado, gestão e controle, etc., culminando com o modelo financeiro e a respetiva avaliação da empresa, para entidades bancárias ou investimento.
Por outro lado, o RampUp é o nosso programa de aceleramento de vendas, onde nos focamos em acordos transacionais, sejam eles de caráter nacional ou internacional, entre os nossos clientes e possíveis compradores em escala. Como é um programa baseado no nosso sucesso, desperta sempre muito interesse por parte dos empresários.
Pela sua experiência, quais são os principais desafios das empresas e dos gestores portugueses?
O lugar-comum a esta pergunta será o capital, contudo, os desafios são mais profundos que a capitalização do negócio. Começam pela gestão focada na faturação e não no resultado líquido. Como consequência, os empresários implementam políticas de preço desadequadas, seguem más praticas da indústria, o crescimento de estrutura é pouco refletido, e os investimentos muitas vezes mal direcionados.
Com a faturação elevada, é relativamente fácil recorrerem aos bancos para uma almofada, mas a realidade é que sem resultado líquido positivo entram numa espiral financeira e pessoal pouco saudável e, obviamente, torna-os incapazes de ter resposta a disrupções como crises económicas ou pandemias. As suas decisões são tomadas com base nas consequências de primeira ordem, isto é, no que é urgente e muitas vezes não é importante para o futuro da organização.
Por outro lado, não podia deixar de mencionar as crenças limitativas dos empresários portugueses. Culturalmente somos bons a servir, temos dificuldade em dizer que não aos clientes, preocupamo-nos com a validação dos pares, mesmo que as políticas da indústria estejam erradas, não pedimos ajuda e deixamos muitas vezes que o cliente mande nos nossos negócios.
Precisamos de mais e melhores líderes em Portugal com o mindset correto, que não tenham medo de fazer diferente e de se fazer ouvir.
Quais são as três regras essenciais para o crescimento de um negócio?
Primeiro, ter objetivos e estratégias mensuráveis. Note que a faturação é uma consequência destes objetivos e não o objetivo. Em segundo, diagnosticar com precisão os problemas que existem – e que possam vir a existir – para atingir esses objetivos e criar táticas de resolução. Por último, conseguir o product-market fit, ou seja, que o produto ou serviço tenha uma forte demanda e que seja vendido a um preço justo e equilibrado, de modo a permitir um crescimento sustentado.
Numa época de crise como que a que estamos a viver, que dicas deixaria a uma empresa ou um empreendedor que está agora a lançar o seu negócio?
Que resolva um problema e que o faça melhor que qualquer empresa no mercado. A inovação não tem de ser apenas a criação de algo que nunca existiu antes. O mundo como o conhecemos foi moldado por inovação em negócios tradicionais, muitas das vezes por consumidores frustrados que reinventaram processos e otimizações.
Com a aceleração digital devido ao Covid-19, existem muitas oportunidades de fazer crescer os negócios tradicionais para um product-market fit mais adequado.
Diz que a sua missão é “capacitar pessoas e negócios a unirem-se e elevarem os seus resultados”. Quando trabalha com uma empresa, qual é o momento de “missão cumprida”?
Nas primeiras vendas com a nova estratégia. Até lá, é uma ansiedade brutal, tenho de confessar. Existe sempre vidas, famílias e histórias por detrás das empresas e, como procuro uma relação próxima com todos os empresários com quem trabalho, acabo por partilhar com eles a carga na responsabilidade de manter as portas abertas.
Mas para mim, não faria sentido a distância. Os negócios são pessoas e as pessoas são os negócios.
É também mentora da Comissão Europeia, onde apoia o desenvolvimento de negócios fundados por mulheres. Em que consiste esta parceria?
É a primeira vez que se realiza em Portugal o EWA – Empowering Women in Agrifood, um programa da iniciativa da União Europeia – EIT Food – e é destinado a apoiar mulheres a desenvolver os seus negócios nesta área. A divisão agroalimentar do EIT está enquadrada com os desafios atuais do setor e com a ajuda de vários parceiros em Portugal, Espanha, Republica Checa, Roménia e Turquia está determinada em suprimi-los.
Eu tive o prazer de ser convidada para ser mentora de uma das participantes e transmitir os meus conhecimentos em prol da igualdade de género no empreendedorismo e da sustentabilidade da alimentação.
Estes programas são fundamentais, agora mais que nunca, já que atravessamos uma época de grande desemprego e cada empresa que se mantém ativa e a crescer, está a gerar postos de trabalho fundamentais para nós, enquanto sociedade.
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