Irónico. Provocador. Mas sem moralismos.
Sem spoilers. Sobre a lucidez de David Attenborough e a Natureza Morta em exposição na Muñoz Carmona Art & Gallery. E claro, sobre os novos desafios das marcas.
Não vi (ainda) o documentário da Netflix “Uma Vida no Nosso Planeta”, vi apenas a entrevista que David Attenborough deu a Anderson Cooper no “60 Minutes”. Este é, portanto, um texto sem spoilers. Mas antes sobre lucidez aos 94 anos. A fechar a entrevista, Attenborough responde: “Why would I want to go and live on the moon when I’ve got this world of badgers and thrushes and jellyfish and corals and why would I want to go and live on the moon? Because there’s nothing else there but dust. I’d say, “Well, thank you very much, I’ll stay where I am and watch hummingbirds” e sorri para o jornalista. Há maior lucidez, que esta?
Parte da sua missão está cumprida, se avaliarmos os inúmeros comentários e recomendações que o documentário gerou. Falta o resto. A consciência global, e acima de tudo, ações. O tema da sustentabilidade estava na agenda para a nova década e o quem sido interessante ver, é que mesmo com novas prioridades impostas por uma pandemia, não saiu dessas agendas. De marcas e consumidores. O The Guardian publicava esta semana que as pessoas querem um emprego com propósito o que obriga os negócios a tornarem-se mais sustentáveis. “Forward-thinking companies are increasingly focusing on reducing their carbon footprint in response to the climate emergency – and to attract a generation of talent with the same values”.
E se juntarmos a arte? Ainda antes da pandemia e do confinamento, nasceu a ideia de Natureza Morta / Steal Life, em exposição na Muñoz Carmona Art & Gallery, no Chiado, assinada por Juan Muñoz Carmona e André Ribeiro e que nem de propósito, visitei esta semana.
A primeira mostra da dupla e que inaugura ao mesmo tempo a galeria, é curiosamente sobre muitas das questões que ocupam David Attenborough. Está lá a o sentido de propriedade, a usurpação do meio, a eterna interface humana, a relação bi-direcional Natureza-Homem e Homem-Natureza. Porque se nos sentimos confinados, foi esse confinamento que o homem sempre impões ao animal, em jaulas, gaiolas, aquários…talvez por isso, na montra virada para a Rua do Alecrim o pica-pau nos diga “Fuck You too”.
“Há muitas interpretações de arte e a arte pode fazer muita coisa, nós ao fazermos arte ela tem de dizer qualquer coisa, tem de passar uma mensagem. Fizemos as peças não a pensar se podiam ser compradas ou não, até porque há elementos de violência grande e que é real. O queremos é que as pessoas não ficassem indiferentes, que se questionassem e que o tema ficasse dentro delas, que cada um veja à sua maneira. Há claro um conceito geral, mas deixamos as pessoas fazerem a sua interpretação, devem se envolver e questionar…” explicaram-se os autores.
Irónico. Que nos leva a interrogar. Provocador. Mas sem sentido critico ou moral. Onde não se aponta o dedo. Mas que nos leva a questionar enquanto humanidade. Não fosse arte…
Voltando a David Attenborough que acaba de se estrear também no Instagram, ouvimo-lo dizer nas redes sociais que “saving our planet is now a communications challenge”. E se assim é, haja esperança e coragem para as marcas nesta sua missão de transformar boas intenções em ações…para já no meu email, a maioria das mensagens são a comunicar consumo – para o Black Friday e para o Natal.
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Irónico. Provocador. Mas sem moralismos.
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