Portugal a depender novamente de ajuda externa
Até parece mentira, mas a realidade é que com um governo socialista, Portugal depende novamente de ajuda externa. É sina.
6 de Abril de 2011: Os focos estavam apontados a São Bento. O Primeiro-Ministro, José Sócrates, comunicava ao País que havia solicitado assistência financeira ao exterior. A crise internacional tinha agravado as fragilidades de Portugal (que não fez o seu trabalho de casa). Se a ajuda não tivesse chegado a tempo, a bancarrota teria sido o desfecho final.
Menos de dez anos volvidos, surgiu uma crise de saúde pública no mundo. Em Portugal, novamente um governo socialista ao leme. Logo em Janeiro de 2020, e perante os alertas da OMS para a possibilidade de “contágios em massa” e para a necessidade de os hospitais se prepararem convenientemente, a directora da DGS (escolhida pelo Governo), considerou que não havia grande probabilidade do novo coronavírus chegar ao nosso país. No mês seguinte, foi a vez do porta-voz do Conselho de Saúde Pública (órgão consultivo do Governo e por este nomeado) desvalorizar a situação afirmando que se tratava de algo “menos perigoso que o vírus da gripe” e que se estava a gerar “um pânico completamente desproporcional à realidade”. Por outras palavras: o problema não nos dizia respeito.
Em Fevereiro, já com a pandemia alojada em Itália, nos aeroportos portugueses tudo continuava como se nada estivesse a acontecer (sem inquéritos e sem controlo de temperatura nas entradas). Quando o COVID-19 chegou a Portugal em Março de 2020 (“primeira vaga”), não pareceu estarmos preparados. A título de exemplo, a linha SNS 24 revelou logo fragilidades deixando por atender um quarto das chamadas. Por outro lado, o decisor político revelou impreparação. Num dia garantia que as escolas ficariam abertas repreendendo as que, por precaução, estavam a fechar, para no dia seguinte tomar a decisão contrária encerrando-as.
Já em confinamento assistimos a um outro episódio: Quando as pessoas se começaram a proteger com máscaras, a DGS veio desaconselhar tal estratégia. Insólito, principalmente se tivermos em conta que os farmacêuticos (que as estavam a vender) apareciam ao público de máscara posta. Poucos dias depois, foi o próprio Presidente da República que, contrariando a DGS, apareceu num hipermercado de máscara cirúrgica, dando o exemplo aos cidadãos. Refira-se que na altura era do conhecimento público que Macau havia conseguido controlar a pandemia adoptando a obrigatoriedade da utilização de máscara.
Em Maio iniciou-se o desconfinamento e com a chegada do Verão embandeirou-se em arco. Logo em Junho ocorreram manifestações contra o racismo com milhares de pessoas sem qualquer distanciamento social e também um espectáculo com cerca de duas mil almas que contou com a presença do Primeiro-Ministro. Já em Setembro, e não obstante os festivais estarem proibidos, decorreu a Festa do Avante, e também jantares-comícios de forças políticas. Apesar dos avisos, o Governo nada fez para impedir os eventos. Desta forma foram transmitidos sinais errados à sociedade, o que certamente terá contribuído para aumentar o grau de relaxamento.
Os novos casos começaram logo a subir precisamente em Setembro (“segunda vaga”) e o Governo lá foi anunciando um rol de medidas. A dada altura – após a implementação de regras dinâmicas diferenciadas por concelho -, as pessoas não sabiam bem o que podiam fazer. Gerou-se uma certa confusão, o que não favoreceu a credibilidade do decisor político.
Foi, no entanto, já neste novo ano que o número de novos casos “explodiu” (“terceira vaga”). Em Janeiro alcançámos o lugar de país com a maior taxa de infecção por milhão de habitantes e lá fora fomos notícia. O número de internamentos (incluindo em cuidados intensivos) também disparou e as fatalidades cresceram drasticamente. Se a 1 de Setembro, Portugal era o 33.º país do mundo com o valor mais elevado de mortos por COVID-19 por milhão de habitantes, a 1 de Fevereiro estava no 16.º lugar. Como se observa na Figura 1, ultrapassámos países como a França, a Suécia e até o Brasil de Bolsonaro (estes dois últimos considerados, na nossa praça pública, como maus exemplos no combate à pandemia).
Figura 1: Número total de mortes confirmadas por COVID-19 por milhão de habitantes, 01/09/2020 a 01/02/2021
Fonte: Construída com dados extraídos do Our World in Data (02/02/2021).
Se até se pode compreender que o Governo tenha tido receio de adoptar medidas mais restritivas no Natal – os custos políticos seriam enormes -, não se entende como é que não fechou as fronteiras aéreas com o Reino Unido em Dezembro (quando outros países o estavam a fazer). Só passado 1 mês, com a variante britânica instalada no nosso território, e após ultrapassarmos os 10 mil novos casos diários, é que essa decisão foi tomada. Também não se percebe como é que perante o evidente desmoronar do SNS, demorou tanto tempo a decretar um confinamento mais duro suspendendo as actividades presenciais nas instituições de ensino (medida reclamada há semanas pelos especialistas). Agiu tarde.
Como as medidas demoram tempo a surtir efeito, e estando o SNS fortemente condicionado, o Governo viu-se agora obrigado a activar “todos os mecanismos de que dispõe, designadamente no quadro internacional”. A Alemanha está a enviar médicos e equipamentos, ao passo que a Áustria acolherá doentes portugueses. Apesar de termos um dos melhores serviços públicos de saúde do mundo, estamos dependentes do exterior. Como é que se deixou chegar o País até este ponto?
Até parece mentira, mas a realidade é que com um governo socialista, Portugal depende novamente de ajuda externa. É sina.
Nota: Por opção própria, o autor não escreve segundo o novo acordo ortográfico
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