• Especial por:
  • Diogo Almeida Alves

As 5 lições de Lilo & Stitch para todas as idades

Quais são as lições de Lilo & Stitch, um filme profundo que retrata a relação entre uma criança e um alien muito especial.

Num mês de junho que se iniciou com o dia internacional da criança, e seguido de um mês de Maio que celebrou o dia internacional da mãe (dia 10), das famílias (15), da importância de vivermos em paz (16), da cultura, do diálogo e desenvolvimento (21) e da diversidade biológica (22), trago-vos as lições de Lilo & Stitch, um filme profundo que retrata a relação entre uma criança e um alien muito especial.

1. A humanidade em vias de extinção

O filme começa com a apresentação de um alienígena com o nome de código 626 (mais tarde nomeado Stitch), que foge do espaço e se refugia no planeta Terra, provocando uma acesa discussão sobre o que fazer com este planeta que agora se encontra sob ameaça desta espécie “maligna”.

A primeira reação da chefe de Governo do espaço (a Grande Conselheira), é lançar um gás sobre a Terra e pôr-lhe um fim, sendo interrompida pelo Agente Pleakley, um especialista que indica que este planeta é uma reserva natural protegida, e que está a ser utilizado para aumentar a população de mosquitos que está em vias de extinção. Pleakley reforça ainda que “cada vez que um asteroide choca com o planeta Terra, tudo começa de novo!”, fazendo uma alusão à época jurássica. A Grande Conselheira contra-propõe, sugerindo “enviar forças militares para restabelecer o equilíbrio”, ao que Pleakley responde que não faz sentido porque os humanos são “criaturas muito simples”, mostrando-lhe várias imagens de famílias humanas.

A cena de abertura de Lilo & Stitch é bastante poderosa uma vez que demonstra o pensamento e proposta dos extraterrestres face a uma espécie que não conhecem ou compreendem, apresentando um claro paralelismo com a atitude da própria espécie humana: não só face à própria, tão actual e visível em acontecimentos como a guerra entre Israel e a Palestina que, com avanços e recuos, já dura há quase um século, tendo levado à morte de muitos civis inocentes; mas também face a várias espécies animais, relembrando que a humanidade já levou à extinção de 60% dos mamíferos, aves, peixes e répteis desde 1970, sendo esta destruição uma emergência que ameaça a existência da própria civilização humana no curto-médio prazo.

2. Amigos improváveis: Uma lição de aceitação das diferenças

A experiência 626 representa o princípio de uma nova espécie, com várias características diferenciadoras, como ser à prova de bala e de fogo, pensar mais depressa que um supercomputador, ou conseguir ver no escuro. O problema é que foi desenhada para destruir tudo aquilo em que toca, dizendo o seu criador Jumba Jookiba que esse é o “instinto de 626”. Devido ao desígnio do seu criador, e por não aceitarem 626 como um deles, os extraterrestres querem terminar com esta nova espécie.

Quando chega à Terra e é levado para um canil, 626 verifica que ele próprio é bastante diferente dos outros cães que lá vivem, camuflando-se para se parecer mais com eles. Tal chama a atenção de uma criança que vai à procura de um animal de estimação, e que vê nele algo diferente.

Lilo dá-lhe o nome de Stitch, e é criticada de imediato por parte da senhora do canil que lhe refere que aquele “nome não existe”. Despreocupada com tal afirmação despropositada e estando muito feliz com o seu novo amigo, Lilo apronta-se para o apresentar às suas colegas da escola, que para além de terem um preconceito para com ela, não aceitando a sua cor da pele, a sua forma de viver, e até as bonecas com que brinca – feitas pela própria Lilo porque com poucos recursos, a arte aguça o engenho – tornam desta vez a fazer bullying com a menina, dizendo-lhe que Stitch “é a coisa mais feia que já viram e que ainda apanham uma doença” se lhe tocarem.

O elo criado entre Lilo e Stitch é bastante profundo e podia ser encontrado em muitas escolas pelo mundo fora, em que dois seres bastante distintos se conhecem, e entendem que é a sua diferença que os une. E é isso que faz também com que, ao longo do filme, não desistam mutuamente um do outro, procurando aprender em conjunto.

3. Atenção aos sinais que as crianças nos transmitem

Lilo & Stitch é uma lição de “leitura nas entrelinhas” em que os monólogos de Lilo são momentos que nos devem fazer reflectir, porque são muito reais e podem estar a acontecer neste preciso momento, com os nossos filhos, netos e irmãos, sem sequer nos estarmos a dar conta.

Lilo debate-se internamente sobre temas sérios, referindo por exemplo que: “as minhas amigas têm de ser castigadas”, numa clara chamada de atenção para o bullying que sofre todos os dias; transmitindo que “quer morrer sozinha” ao som de Elvis Presley; ou pedindo aos céus que lhe enviem “um anjo, o melhor anjo que tiver”, reforçando: “preciso de um amigo, alguém que goste de mim”. Também nas suas conversas com Nani, a sua irmã e única parente, Lilo confessa que as pessoas a acham “esquisita”, perguntando a Nani se são “uma família desfeita”.

É ainda dado foco no filme à forma como se deve encarar estas chamadas de atenção dos mais novos e comunicar com as crianças, apresentando exemplos positivos como Nani pedir desculpa abertamente a Lilo por ter gritado com ela, mas também negativos, com negociações em que Nani promete não gritar mais com Lilo, mas só se esta não bater noutras crianças que lhe chamam nomes.

Como mensagem final sobre esta lição, é sobretudo muito importante ouvir, e com muita atenção, o que as crianças têm para dizer. Quando Lilo liga para o assistente social Bubbles a dizer que os aliens “estão a atacar a sua casa”, é uma clara metáfora para transmitir que, por muito “estapafúrdias” ou fora do normal nos pareçam as mensagens dos mais novos, estas são bem sérias e devem ser levadas em conta.

4. Nunca é tarde para mudar

A relação entre Lilo e Stitch começa por ser bastante paternalista, com Lilo a tratá-lo como um autêntico bebé, dando-lhe uma boneca, um biberão ou uma cama de berço, sempre tendo muito “cuidado com o anjinho”. À medida que Stitch vai fazendo diabruras e destruindo coisas, Lilo vai chamando Stitch à razão, desafiando-o para construir em vez de destruir, mostrando-lhe histórias como a do patinho feio, e tentando educá-lo o melhor que sabe.

A meio do filme, o seu criador Jumba Jookiba diz que Stitch foi programado para destruir, mas que naquele momento não tem mais nada para demolir, e portanto sente-se um pouco perdido. À imagem da metáfora do patinho feio, este facto leva Stitch a reflectir sobre o que tem de bom à sua volta, isto é, a sua nova família, com Lilo e Nani.

Lilo ensina a Stitch o que é a música, e Stitch aprende a dançar e a tocar ao som de Elvis Presley. Ensina-lhe o que é o amor, e Stitch dá uma flor a uma senhora idosa. Stitch vê a alegria de Nani e Lilo a surfar, e mesmo contra a suposta regra de que não sobreviveria na água, porque a sua “densidade molecular é muito grande”, Stitch arrisca.

Apesar de o seu criador referir várias vezes ao longo do filme que Stitch foi feito para destruir, e que “nada pode mudar isso”, Stitch prova-lhe o contrário, uma e outra vez, demonstrando que nunca é tarde para mudar.

5. Ohana é família

Quando nos lembramos de Lilo & Stitch, vem-nos sempre à memória a expressão Ohana, um conceito havaiano que significa família, e de que “na família ninguém é deixado para trás, ou é esquecido”. A família é algo mais alargado do que apenas ligações de sangue, sobretudo pela introdução de Stitch, que para além de ser de outra espécie, é também encarado como um “orfão”, tal como Lilo e Nani.

Há uma notória preocupação ao longo do filme pelo respeito pela diversidade cultural, étnica e racial, mas também uma importância evidente dada ao diálogo familiar, não só visível nas conversas entre Nani e Lilo, mas também nas interações entre o assistente social Bubbles e Lilo, perguntando-lhe por exemplo se a criança é feliz e mostrando-se disponível para ajudar as irmãs.

Nani procura um bom emprego que as possa sustentar, e dar-lhes melhores condições de vida, para contrariar a precariedade em que se encontram desde que os seus pais faleceram. Há uma realidade extrema neste filme, demonstrando as fragilidades sócio-económicas que muitas famílias atravessam a nível global. De relembrar que, segundo dados de 2020 da UNICEF e do Banco Mundial, há mais de 350 milhões de crianças em pobreza extrema, e que a pandemia está a fazer aumentar estes números significativamente.

A mensagem de Ohana é sempre positiva e de respeito não só para os que cá estão, mas também pelos que faleceram. Lilo reforça isso junto de Stitch dizendo que: “A nossa família é pequena, mas se quiseres podes fazer parte dela. Ohana quer dizer família, e na família ninguém é abandonado. Se quiseres ir embora, podes ir, mas nunca te esquecerei, porque nunca esqueço os que partem”.

Stitch entende essa mensagem e para além de também nunca desistir de Lilo, compreende ainda a importância de poder fazer parte desta família, que é disfuncional, e apresenta dificuldades como todas as famílias, mas realçando que: “Esta é minha família. Perdida e desfeita, mas eu gosto. É a minha família.”

  • Diogo Almeida Alves

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