Uma sala usada por Salazar, um espelho estilhaçado por um tiroteio e um rei assassinado mesmo na esquina. Estas são as histórias do edifício que serve de sede ao Ministério da Agricultura.
Este verão o ECO vai guiá-lo por espaços culturais ou patrimoniais com interesse turístico, mas onde o público em geral não entra normalmente. Uma vez por semana, em julho e agosto, venha espreitar o interior de ministérios, empresas ou outras entidades fora dos roteiros turísticos. Veja a galeria de fotos e um breve guia do local na rubrica Aqui, turista não entra.
À semelhança do Ministério das Finanças, também o Ministério da Agricultura ocupa há mais de um século um dos edifícios que ladeiam a Praça do Comércio, local que foi alvo de reconstrução depois do terramoto de 1755 que arrasou grande parte da cidade de Lisboa.
Sob a direção do Marquês de Pombal, toda a área foi reconstruída de uma forma inovadora, privilegiando o aspeto funcional do traçado urbanístico onde a rede de ruas e edifícios se alinham de uma forma geométrica. Na Praça do Comércio, os serviços do Ministério da Agricultura situam-se na ala norte do edifício poente, ou seja, no edifício mais perto da Praça do Município onde está a Câmara Municipal de Lisboa.
Curiosidade: foi na esquina deste mesmo edifício que aconteceu o regicídio de 1 de fevereiro de 1908, o atentado que vitimou o rei D. Carlos I e o príncipe D. Luís Filipe, num dos episódios que viria a precipitar em definitivo o fim da Monarquia e a instauração da República, em 1910.
Nesta altura, os confrontos armados entre os apoiantes dos dois regimes eram frequentes naquela zona da cidade e uma das salas do Ministério da Agricultura guarda ainda nos dias de hoje vestígios desses confrontos, quando uma bala perdida vinda da Rua do Arsenal atingiu um espelho que estava no interior. O espelho ainda está lá e a marca da bala também, naquela que é conhecida como a Sala do Tiro.
Umas salas mais à frente, já com vista para a Praça do Comércio, está o atual gabinete do Secretário de Estado Adjunto e do Desenvolvimento Regional, secretaria do Ministério da Coesão Territorial, que partilha o edifício com o Ministério da Agricultura. Esta é outra sala com peso histórico. Foi aqui que António de Oliveira Salazar teve o seu gabinete na década de 30 quando assumiu o cargo de ministro das Finanças, numa altura em que vários ministérios estavam concentrados neste edifício. A sala tem, ainda hoje, uma casa de banho privativa com uma escada em caracol, mandada construir pelo próprio Salazar.
Ao longo dos anos, o edifício tem vindo a ser ocupado por serviços de diversos ministérios e secretarias de estado. Obras Públicas, Comércio, Pescas, Alimentação e Florestas ou Economia tiveram aqui as suas sedes mas os serviços ligados à Agricultura sempre tiveram maior preponderância e nunca dali saíram, ao contrário de outros ministérios.
A fotogaleria em baixo mostra algumas das salas históricas (que embora recuperadas, mantêm o traço original) do Ministério da Agricultura.
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Salas do Ministério da Agricultura têm histórias para contar. Mas, aqui, turista não entra
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