Um ano após a explosão em Beirute, crise económica libanesa é uma das mais graves do mundo
Ainda antes da explosão em Beirute, o Líbano já enfrentava uma das suas piores crises económicas. Em 2020, o PIB do país caiu para 33 mil milhões de dólares, menos 22 mil milhões em relação a 2018.
Há exatamente um ano, o mundo assistia a uma violenta explosão no porto comercial de Beirute, capital libanesa, provocada por aproximadamente 2.700 toneladas de nitrato de amónio, juntamente com outros materiais inflamáveis. O incidente, que resultou em mais de 200 mortos e cerca de 7.000 feridos, veio agravar a crise económica e financeira que o país já atravessava, também devido à pandemia de Covid-19. Agora, o mais recente Monitor Económico do Líbano, divulgado pelo Banco Mundial, diz ser “provável” que a crise do país do Médio Oriente esteja no ‘top 10’, possivelmente no ‘top 3’, das mais graves a nível mundial desde meados do século XIX.
O agravamento da crise no Líbano tem sido bastante rápido: o Produto Interno Bruto (PIB) passou de cerca de 55 mil milhões de dólares, em 2018, para cerca de 33 mil milhões de dólares, em 2020, com o PIB per capita a cair cerca de 40%. “Uma contração tão brutal e rápida está geralmente associada a conflitos ou guerras”, refere o relatório da instituição financeira internacional.
Como justificação da magnitude da depressão económica libanesa, a organização de Washington não poupa nas críticas e culpa “a desastrosa inação política deliberada“, que não se deve à falta de conhecimento ou de aconselhamento de qualidade, mas sim à falta de acordo sobre iniciativas políticas eficazes e ao consenso político em defesa de “um sistema económico falido, que beneficiou alguns durante tanto tempo”.
O impacto social da crise
Ainda segundo o relatório do Banco Mundial, “o impacto social da crise, que já é terrível, pode tornar-se rapidamente catastrófico” e mais de metade da população deverá estar “provavelmente abaixo do limiar de pobreza nacional”. A instituição financeira já havia identificado durante muito tempo o país como um “Estado de Fragilidade, Conflito e Violência”, o que significa que as “terríveis condições socio-económicas arriscam-se a falhas nacionais sistémicas com consequências regionais e potencialmente globais”.
O poder de compra da libra libanesa levou a que mais de 40% dos agregados familiares relatassem “desafios no acesso a alimentos e outras necessidades básicas“, de acordo com um inquérito realizado por telefone pelo Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, no final do ano passado. Também a taxa de desemprego, que em fevereiro de 2020 se encontrava nos 28%, aumentou para quase 40% até ao fim do ano.
A organização não-governamental (ONG) Save the Children advertiu recentemente que centenas de milhares de crianças vão para a cama com fome, uma vez que os pais falham cada vez mais em pagar as despesas e não conseguem pagar bens básicos, como comida, eletricidade e medicamentos. De acordo com uma nova análise à situação financeira das famílias em Beirute, a diferença nos rendimentos necessários para comprar bens de primeira necessidade disparou 550% no último ano.
A análise da ONG de defesa dos direitos das crianças revelou que famílias de praticamente todas as classes socioeconómicas da capital libanesa se viram mergulhadas mais profundamente na pobreza. Os agregados muito pobres são os mais duramente atingidos, tendo em média menos 5,5 milhões de libras libanesas em relação aos 6,1 milhões de libras mensais necessários apenas para pagar o básico. As famílias pobres e de rendimento médio têm também várias centenas de dólares a menos todos os meses.
A crise fez o Líbano atingir o pico mais alto dos preços de alimentos no mundo, o que tem levado várias famílias a recorrer a medidas desesperadas que afetam sobretudo os mais jovens e os mais vulneráveis, aponta a organização. Além de menos refeições, da pior qualidade dos alimentos, da compra de alimentos a crédito e da venda de mobiliário, muitos estão a cortar nas despesas de saúde e educação, sobrevivendo às custas de poupanças ou de empréstimos, apenas para sobreviverem todos os meses.
“Sobrevivendo, mas mal”, disse a diretora da Save the Children no Líbano, Jennifer Moorehead. “Centenas de milhares de crianças vão para a cama com fome, muitas vezes sem terem comido uma única refeição nesse dia. As famílias não podem pagar a eletricidade para pôr um frigorífico ou água quente a funcionar, ou os medicamentos de que necessitam para tratar doenças. Quanto mais tempo esta situação continuar, mais provável é que as crianças deslizem para a desnutrição, o que, em última análise, poderá levar à morte“, alertou.
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