Presidente da Bielorrússia admite deixar cargo no meio de nova vaga de sanções

  • Lusa e ECO
  • 9 Agosto 2021

No dia que marca um ano do início dos protestos antigovernamentais contra a fraude eleitoral na Bielorrússia, o Reino Unido, os EUA e o Canadá anunciaram novas sanções contra o regime de Lukashenko.

O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, deu a entender esta segunda-feira que poderá deixar o cargo “muito em breve”, mas sem especificar se permanecerá no poder noutra qualidade.

“Não há necessidade de especular sobre quando Lukashenko e outros irão partir. Muito em breve”, disse Lukashenko numa conferência de imprensa em Minsk, citado pela agência EFE.

Lukashenko, 66 anos, admitiu que tem pensado no seu futuro, porque o cargo que ocupa desde 1994 “não é uma posição para toda a vida”.

“Quem o povo bielorrusso escolher, ele será o Presidente. É assim que as coisas são. (…) Ainda tenho de decidir que cargo ocuparei nessa altura”, afirmou.

O líder bielorrusso assumiu que haverá um referendo para reformar a Constituição, depois de reconhecer que a atual lei fundamental do país é autoritária e que parte do poder terá de ser cedido ao parlamento.

“Haverá um novo Presidente. Isso é claro. Mas esta Constituição, que é realmente autoritária, não pode ser entregue ao próximo Presidente. Não sabemos quem ele será e como se comportará”, afirmou.

Sobre possíveis sucessores, Lukashenko disse que “há 15-20 pessoas na Bielorrússia que podem crescer e tornar-se presidentes”, e destacou o atual ministro do Interior, Ivan Kubrakov, 46 anos, no cargo desde outubro de 2020.

“Há pessoas que não vacilaram e não traíram naqueles dias difíceis. Ao fazê-lo, elas tornaram-se parte da História do nosso Estado e a sua essência foi cristalizada. Ivan Kubrakov é um deles”, disse, citado pela agência estatal Belta.

“Peço desculpa pela imodéstia, mas eles assemelham-se a mim de certa forma. Talvez porque cresceram ao meu lado. São dedicados ao país, são de confiança (…). A maioria dos cidadãos votará neles”, acrescentou.

A conferência desta segunda-feira coincidiu com o primeiro aniversário do início dos protestos antigovernamentais contra a fraude eleitoral, após Alexander Lukashenko ter sido declarado vencedor das presidenciais de 09 de agosto de 2020.

As eleições foram declaradas fraudulentas pela oposição bielorrussa e por vários países ocidentais. O Presidente da Bielorrússia admitiu ter ordenado a repressão “sem disparos” sobre os manifestantes antigovernamentais após a sua reeleição e negou que milhares de pessoas detidas na altura tivessem sido torturadas.

Lukashenko também se pronunciou, pela primeira vez, sobre o caso da atleta olímpica Krystsina Tsimanouskaya, que se refugiou na Polónia depois de ter criticado a gestão da participação bielorrussa nos Jogos de Tóquio. O líder bielorrusso acusou Tsimanouskaya de ser uma fantoche estrangeira e disse que a atleta não teria feito o que fez “se não tivesse sido manipulada”.

Exigiu também que a Ucrânia investigue a morte do ativista bielorrusso Vitaly Shishov, que foi encontrado enforcado em Kiev, na semana passada, e exigiu provas a quem acusou Minsk de ser responsável pelo seu desaparecimento.

A oposição bielorrussa, cujos principais líderes estão na prisão ou no exílio, exige que Lukashenko abandone imediatamente o poder, a libertação de todos os presos políticos e que os culpados pela repressão violenta sejam castigados.

Acreditam também que a única solução para a crise é a realização de novas eleições, nas quais os candidatos da oposição, incluindo a líder da oposição no exílio, Svetlana Tikhanovskaya, também participariam.

“Não creio que Lukashenko esteja pronto para desistir facilmente do poder. Ninguém disse que esta luta seria fácil. Vai ser difícil. Mas temos de o fazer compreender que é impossível liderar um país onde as pessoas querem mudanças. Aos olhos do povo bielorrusso, Lukashenko é um líder ilegítimo”, disse Tikhanovskaya à EFE.

Tikhanovskaya acrescentou que não haverá manifestações esta segunda-feira na Bielorrússia, uma vez que o preço a pagar é “muito elevado”.

Reino Unido, Estados Unidos e Canadá anunciam novas sanções

Os Estados Unidos anunciaram esta segunda-feira um novo pacote de sanções contra indivíduos, empresas e entidades da Bielorrússia, aumentando a pressão contra o regime autoritário de Alexander Lukashenko.

De acordo com o decreto da Casa Branca, que reforça o regime de sanções norte-americanas em vigor desde 2006, é visado, entre outros, quem operar ou tiver operado “no setor da defesa e material relacionado, setor da segurança, setor da energia, setor do cloreto de potássio (potassa), setor dos produtos do tabaco, setor da construção, ou setor dos transportes da economia da Bielorrússia, ou qualquer outro setor da economia bielorrussa que possa ser determinado pelo Secretário do Tesouro, em consulta com o Secretário de Estado”.

O anúncio norte-americano ocorreu depois da conferência de imprensa anual do Presidente bielorrusso, que proclamou mais uma vez a sua vitória numa eleição “completamente transparente” face a uma oposição que preparava um “golpe de Estado”.

Segundo um alto responsável da Casa Branca apontou em declarações à agência France-Presse, entre as empresas penalizadas está a empresa pública Balruskali OAO, um dos maiores produtores de fertilizantes à base de potássio do mundo, “fonte de enriquecimento ilegal do regime”. As sanções visam também “dirigentes económicos que apoiam o regime”, bem como 15 empresas às quais estão ligados, entre as quais o banco privado Absolutbank.

Visado é igualmente o Comité Nacional Olímpico da Bielorrússia, depois da velocista Krystsina Tsimanouskaya dizer que foi vítima de uma tentativa de repatriamento forçado dos Jogos Olímpicos de Tóquio, por ter criticado responsáveis desportivos do país.

A jovem, que diz recear a prisão, está agora na Polónia, vizinha da Bielorrússia e apoiante da oposição exilada.

Além desta polémica que ilustra “a incapacidade (da instituição) de proteger os atletas da repressão política”, os Estados Unidos acusam o Comité Olímpico bielorrusso de “facilitar o branqueamento de dinheiro”.

As sanções são a consequência da “ofensiva contínua contra as aspirações democráticas e os direitos do povo da Bielorrússia”, mas também das “violações das regras internacionais” e da “corrupção” do regime, indicou o alto responsável norte-americano.

Os Estados Unidos apelam a Alexander Lukashenko para “libertar imediatamente todos os presos políticos” e iniciar um “diálogo” com a oposição visando a organização de presidenciais livres, caso contrário, disse a referida fonte, “a administração norte-americana continuará a usar” o seu poder de decretar sanções.

Também o Reino Unido reforçou esta segunda-feira as suas sanções contra a Bielorrússia, visando em particular as indústrias chave dos produtos petrolíferos e dos fertilizantes, a par com o Canadá, cujas sanções incidirão sobre o setor financeiro.

 

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