Augusto Santos Silva defende relação de firmeza com Moscovo
Com a Rússia, "o diálogo e a comunicação política e diplomática são ainda mais importantes”, defende o ministro do Negócios Estrangeiros.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, defendeu esta quarta-feira uma atitude de firmeza no diálogo político com a Rússia e desvalorizou a ausência da União Europeia (UE), enquanto bloco, das negociações diretas com Moscovo.
“É preciso ter com a Rússia uma relação que implique ao mesmo tempo firmeza na defesa dos nossos interesses, capacidade de dissuasão quando as ações russas se tornam agressivas, por um lado, e, por outro lado, diálogo político”, disse Augusto Santos Silva no final da entrega de prémios, em Lisboa, de um concurso escolar sobre os 75 anos da ONU.
O chefe da diplomacia portuguesa salientou que o diálogo político com a potência euro-asiática que é a Rússia “é ainda mais importante quando as circunstâncias são mais difíceis”.
“E é este o caso, as circunstâncias são muito difíceis e, por isso mesmo, o diálogo e a comunicação política e diplomática são ainda mais importantes”, disse o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros em declarações à Lusa e à RTP.
Augusto Santos Silva vai participar, na quinta e na sexta-feira, na cidade francesa de Brest, na primeira reunião informal deste ano dos ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 Estados-membros da UE, que será dominada pelo tema da crise na fronteira da Ucrânia e a segurança europeia.
Diversos dirigentes da UE têm manifestado desagrado por o bloco dos 27, enquanto tal, não participar diretamente nas reuniões desta semana da Rússia com os Estados Unidos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, na sigla em inglês) e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).
Augusto Santos Silva lembrou que o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, assegurou que os europeus não serão afastados de quaisquer decisões sobre a segurança na Europa e referiu que os Estados-membros da UE participam no diálogo com a Rússia no âmbito da NATO e da OSCE.
“O tema de agenda que nos ocupará, aliás, praticamente toda a tarde de amanhã [quinta-feira] é o relativo à segurança na fronteira leste da União Europeia e, naturalmente, isso envolve também a situação que se vive hoje na fronteira leste da Ucrânia”, disse, a propósito da reunião em Brest.
Augusto Santos Silva admitiu que a relação com a Rússia atravessa um “momento muito difícil”, mas manifestou-se relativamente otimista quanto às negociações por notar que Moscovo deu sinais de que entendeu a firmeza das posições ocidentais.
“Estou otimista no sentido em que a Rússia possa compreender, e vai dando alguns sinais disso, que ninguém tolerará qualquer ação militar empreendida ou patrocinada por Moscovo contra a Ucrânia”, disse. O ministro português referiu que essa posição “muito clara” foi manifestada a todos os níveis, pela União Europeia, pela NATO e pela OSCE. “Julgo que a Rússia compreendeu bem a mensagem”, disse.
Augusto Santos Silva afirmou também que a UE e os Estados Unidos compreendem que a Rússia “tem os seus próprios interesses” e a necessidade de “garantir a integridade do seu território e a segurança da sua população”.
“Estamos perfeitamente disponíveis para trabalhar com a Rússia no sentido de assegurar que quer as nossas preocupações quer as preocupações da Rússia possam ser atendidas”, afirmou.
Por isso, referiu, a UE está interessada em relançar a relação com Moscovo, afetada desde 2014, “quando a Rússia invadiu e anexou a Crimeia e patrocinou, pelo menos indiretamente, a instabilização da região leste da Ucrânia”.
Mas essa relação, frisou, tem de assentar no “respeito pela soberania e integridade territorial de qualquer Estado”, nos compromissos da Conferência de Helsínquia, e no “respeito pela arquitetura da segurança europeia e pelo papel-chave” da OSCE.
“Esperamos também da parte das autoridades russas igual atitude”, disse, acrescentando que transmitiu estas posições ao seu homólogo russo, Sergei Lavrov, numa reunião em Moscovo durante a presidência do Conselho da UE, que Portugal exerceu no primeiro semestre de 2021.
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