Os erros da Caixa e as Offshores da vergonha
Ser forte com os fracos é uma virtude dos canalhas. Os bandalhos andam de joelhos perante os mais fortes.
Dois temas marcam a agenda: as trapalhadas da Caixa Geral de Depósitos e os 10 mil milhões que voaram para Offshores, esquivando-se à nazi máquina fiscal portuguesa. A propósito deles, deixo várias notas.
O erro político na CGD – Ninguém tem dúvidas hoje que a escolha e nomeação de António Domingues (AD) foi um enorme erro de cálculo, causando ao Governo a sua maior crise, do qual o mesmo é o principal responsável. Lição a tirar – uma bomba atómica não pode circular pelas ruas sem causar danos.
O erro dos comentadores sobre AD – Para quem não acompanha a banca, quando se anunciou AD, foi quase uma garantia de excelência na futura gestão da CGD. Não houve comentador que não rasgasse elogios, tirasse o chapéu ou se referisse a ele como uma sumidade dos números. Lição a tirar – vejam quem são os comentadores que dizem estas coisas, e depois lembrem-se se eram os mesmos que endeusaram Ricardo Salgado, mas que no dia da sua queda eram as primeiras das hienas. Vão ver que são os mesmos. E as hienas não são credíveis.
O erro de bom senso de AD – vamos ser claros, houve uma enorme dose de falta de bom senso de AD. Se ele fosse nomeado administrador de qualquer outro banco, ninguém tinha a nada a ver com o património e interesses dele, isso é matéria para os respectivos accionistas. Agora, os accionistas da Caixa são todos os portugueses, quem quer ir para lá, quem quer que seja, tem obrigação de transparência e de mostrar a sua declaração de rendimentos e património. Ponto. Lição a tirar – todos os ídolos têm pés de barro, se querem esconder alguma coisa não aceitem lugares de exposição pública.
O erro de percepção mútua – em domínios de transparência não pode haver negociações. Não sei quem mentiu, se AD ou Mário Centeno, porém, é evidente a falta de tacto político do ministro, que me parece competente e uma pessoa de bem, mas que não pode deixar enredar-se como um garoto nestas teias onde é visivelmente ingénuo. Lição a tirar – algo que já aprendi há muito tempo: Pinóquio não mente, o nariz é que cresce muito.
O erro de carácter de AD – um ex-MRPP, homem que defendia naturalmente o proletariado na sua juventude, tornou-se segundo consta uma criatura com 4 milhões no banco, um barco em Vilamoura e casa de luxo no centro de Lisboa. Apesar disto, ainda fomos todos nós portugueses, que não vivemos um clima de abundância, a pagar-lhe os advogados. É lamentável a sua falta de vergonha. Lição a tirar – no MRPP, ele e Durão Barroso, por exemplo, aprenderam que há 156 maneiras de ser um pulha. E ele sabe-as todas.
As Offshores da vergonha – esta semana soubemos que 10 mil milhões de euros voaram para Offshores, escapando à verdadeira Gestapo que é a Autoridade Tributária portuguesa. A mesma que é exímia a vasculhar os cêntimos nas facturas de manicures e merceeiros, que vê à lupa contas de micro empresas, que chateia e emperra a vida de pequenos empresários. Mas 10 mil milhões não conseguiram detectar. Para lá disto, o palerma inculto que se acha engraçadinho, Paulo Núncio, que tutelava a AT quando era secretário de Estado, já veio dizer que não teve conhecimento de nada, é o marido traído desta triste história. Pois, é natural. Exigiram sacrifícios a todos os portugueses que se esforçam por cumprir, especialmente os mais humildes, e depois cai-lhes a máscara. Lição a tirar – ser forte com os fracos é uma virtude dos canalhas. Os bandalhos andam de joelhos perante os mais fortes.
Nota: Por decisão pessoal, o autor não escreve de acordo com o novo acordo ortográfico.
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