E se houver guerra na Ucrânia? Estas estratégias podem ajudar a proteger o seu dinheiro

Do ouro ao iene japonês e à dívida americana, dois investidores explicam o que são ativos de refúgio e como estes podem proteger os investimentos em situações de instabilidade.

A situação é cada vez mais incerta na Ucrânia e os mercados já estão a espelhar a apreensão dos investidores. Depois do “sell-off” registado em algumas das últimas sessões, motivado pelos receios de um conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, a volatilidade está instalada. São muitos os investidores em busca de refúgio. Mas qual a melhor estratégia face a esta situação?

Pedro Lino, CEO da Optimize Investment Partners e da Dif Broker, é pragmático: “Os perigos para os investidores são muitos, com consequências imprevisíveis.” Segundo o investidor, um eventual conflito na Ucrânia aumentaria bastante o “sentimento de incerteza” nos mercados, passível de ditar uma recessão não só nas principais economias europeias mas também noutras partes do mundo.

No campo da energia e dos alimentos, a Europa está “muito vulnerável” à Rússia, diz Pedro Lino, pelo que uma intervenção na Ucrânia agravaria alguns dos problemas já existentes. “Neste contexto, seria de esperar uma subida dos preços da energia, diminuição do consumo e do investimento, com impacto nos resultados das empresas”, explica Pedro Lino, acrescentando ainda que, em tal cenário, os bancos centrais seriam confrontados com um paradoxo: comprar ativos ao mesmo tempo que ponderam subidas nos juros para tentar controlar a inflação.

Onde encontrar refúgio?

Steven Santos, gestor no Banco de Investimento Global (BiG), concorda que um eventual conflito na Ucrânia pode causar uma subida do preço do petróleo e do gás natural. Mas aponta para os ativos de refúgio tradicionais como uma forma dos investidores se protegerem.

São exemplo o ouro, o dólar americano, o iene japonês, entre outros, principalmente por serem “ativos pouco voláteis, muito líquidos, e historicamente associados a segurança em momentos de crise”, avança o gestor.

Pedro Lino refere como principais ativos de refúgio o franco suíço, iene japonês, materiais preciosos e matérias-primas agrícolas, mas sublinha ainda as obrigações de Tesouro alemãs (bunds), suíças, japonesas e norte-americanas como os ativos onde os investidores encontram maior segurança.

O gestor do BiG, por sua vez, vai mais longe e defende que, por reunir uma maior confiança, “a dívida americana, as Treasuries, acabam por ser a dívida mais sólida que existe neste momento no mundo”.

Steven Santos, contudo, alerta também para as vantagens de uma rotação setorial, isto é, “vender alguns setores mais associados a risco, como tecnologia, e expor-se alguns setores mais defensivos, como as utilities e serviços essenciais”. No entender do investidor, estes representam áreas onde o consumo não vai deixar de existir, ainda que haja um conflito, representando por isso uma aposta mais segura.

Além destes ativos, o responsável menciona investimentos em empresas maturas de menor risco, “com receitas mais previsíveis”, embora admita ver os momentos de crise como momentos de oportunidade no restante mercado.

“Eu diria: olhar para os ativos de refúgio e privilegiá-los, para ganhar alguma proteção a curto prazo, mas a médio e longo prazo manter-se investido. E, se possível, reforçar neste momento de quedas”, defende. O motivo para isto, explica, deve-se ao facto de não acreditar que uma guerra seja motivo para vender toda a carteira de investimentos, pois “se olharmos para a história, os mercados nunca deixaram de subir, mesmo em períodos de guerra”.

O que são ativos de refúgio?

Contudo, Steven Santos alerta que os ativos de refúgio não são uma salvaguarda garantida. Então, o que faz de um ativo um bom refúgio contra a instabilidade nos mercados?

No caso do iene japonês, Pedro Lino explica: “É uma moeda bastante líquida, tem uma situação financeira externa bastante positiva, uma vez que é um dos maiores detentores de dívida externa emitida por outros países. Além destes fatores, o investidor acrescenta que o iene dispõe de um excedente comercial que lhe permite ter fluxos de capitais “de fora para dentro”.

Por sua vez, Steven Santos compara o iene japonês ao franco suíço. Para o gestor do BiG, o Japão é um país “politicamente muito estável desde a Segunda Guerra Mundial, e [o iene] é uma moeda muito líquida”, características que considera semelhantes às da divisa da Suíça. “É um pouco parecido com a Suíça aqui na Europa. Sabemos que é um país neutro e um país que os investidores financeiros contam para depositar valor quando precisam”, afirma.

Neste contexto, o conceito importante a reter é liquidez. A dívida dos países com a moeda mais líquida, como o dólar americano, dívida alemã, japonesa ou suíça, são vistos como refúgios, explica Lino.

E o imobiliário?

Embora o imobiliário seja um ativo tido como seguro a longo prazo, “para crises de curto prazo pode ser um mau investimento, porque o que os investidores procuram é liquidez imediata e ativos facilmente convertíveis”, explica Pedro Lino, quando questionado pelo ECO nesse sentido.

Em períodos de incerteza acompanhados por recessões, o CEO garante que este é um ativo que, consoante a necessidade de liquidez, até pode registar “fortes desvalorizações”.

Para Steven Santos, o imobiliário cotado em bolsa, nomeadamente os Real Estate Investment Funds (REIT) — os quais o gestor do BiG descreve como “praticamente, fundos de investimento” — poderiam eventualmente servir como refúgio. Steven vê esta área como algo a considerar no âmbito da rotação setorial mencionada, contudo, relativamente ao imobiliário tradicional, o gestor partilha da opinião de Pedro Lino e aponta a difícil liquidez como o principal entrave.

Ainda que estas sejam estratégias comuns em períodos como o atual, o desempenho nos mercados financeiros é imprevisível. No fundo, cada investidor deve tomar a sua própria decisão sobre o que fazer ou não fazer em todos os momentos. No limite, não fazer nada pode ser também uma opção.

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