“A Claranet não tinha intenção de vender a Claranet Portugal”

António Miguel Ferreira, CEO da Claranet Portugal, explica porque é que o grupo britânico aceitou vender a unidade portuguesa à Nos, "uma boa casa para os colaboradores", por 152 milhões.

É a primeira entrevista do CEO da Claranet Portugal desde que, no dia 27 de janeiro, a Nos anunciou a compra desta empresa por 152 milhões de euros. António Miguel Ferreira revela ao ECO que o grupo britânico não pretendia vender a subsidiária portuguesa, que é uma das suas maiores operações. Acabou por aceitar um valor que lhe permitirá investir mais noutros mercados onde já está presente.

O gestor, que também é líder em Espanha e no Brasil e faz parte da comissão executiva do grupo Claranet, confirma que há um acordo para manter a marca em Portugal, assim como a independência operacional face à Nos. Promete ainda que não haverá despedimentos, algo que é “ponto assente”. Mas, à margem da conferência Building the Future, que decorreu esta semana em Lisboa, recusa falar do futuro — incluindo do seu.

Nós somos uma empresa grande num mercado pequeno. Em todos os outros países somos uma empresa de menor dimensão, só que em mercados muitíssimo maiores.

Ainda não deu nenhuma entrevista desde o anúncio da compra da Claranet Portugal pela Nos.

Verdade. E não tenho intenção de o fazer. [risos]

Imagino que não possa dizer muita coisa. Mas ajude-nos a entender a estratégia da Nos, e também da Claranet, para esta operação.

Vou-me cingir a algumas considerações que foram tidas durante todo este processo. E, em primeiro lugar, eu não vou falar sobre o futuro. Isso tem que ser num outro momento. Falando um pouco sobre o racional, para que o mercado entenda: este foi um processo evolutivo, a Claranet não tinha intenção de vender a Claranet Portugal, nem nenhum outro país. Mas a Nos abordou-nos há algum tempo atrás e, por ser uma empresa credível e reputada, mereceu a nossa consideração para conversarmos sobre a vontade de eles investirem no mercado de IT [Tecnologias da Informação]. E um investimento à escala daquilo que é a ambição da Nos representaria uma aquisição de uma empresa relevante no mercado nacional como é a Claranet. Portanto, há esta vontade estratégica da Nos de diversificar mais o seu negócio, apostando fortemente na área de IT. A ambição, certamente, não fica por aí. Mas sobre isso eu não sou a pessoa indicada, nem este é o momento para falarmos.

Porque a operação ainda não está concluída?

Porque a operação ainda não está concluída. Ainda está sujeita à aprovação da Autoridade da Concorrência. Portanto, a atividade das duas empresas decorre normalmente, como antes acontecia, e só após essa aprovação é que se falará um pouco mais sobre o futuro.

Quando está previsto ser concluída?

Eu não controlo esse timing. Podem ser dois meses, podem ser três meses.

Algumas já demoraram anos…

Anos não demorará, porque a Nos e a Claranet Portugal atuam em segmentos diferentes de mercado. Uma é essencialmente um operador de telecomunicações, com uma quota de mercado relevante. Nós não temos atividade no mercado de telecomunicações, somos do mercado de IT. São dois mercados diferentes. Mas não sou eu que me vou pronunciar sobre esse assunto. Esperemos que seja para breve. Portanto, a atividade da empresa decorre.

E qual é o racional da operação para o grupo Claranet?

Faz este ano, em julho, 20 anos desde que o grupo Claranet entrou em Portugal. Entrou pela aquisição de uma empresa que eu fundei faz este mês 30 anos. É um ano simbólico desse ponto de vista. Era a Esotérica, inicialmente, que depois integrou o grupo Claranet em 2005. Ou seja, faz 20 anos em julho que somos Claranet aqui em Portugal, e tivemos um percurso grande de crescimento. Em primeiro lugar de mudança de estratégia e depois, num segundo lugar, de grande crescimento. Culminou, hoje em dia, com mil colaboradores e um volume de negócios que supera 200 milhões de euros.

Mas se olharmos para os 11 países onde a Claranet está presente, Portugal é de longe a menor economia. De longe! Espanha é cinco ou seis vezes maior, França é dez vezes maior, Inglaterra é 15 vezes maior, Alemanha é 20 vezes maior. Por outro lado, uma das maiores operações da Claranet está precisamente em Portugal. Portanto, nós somos uma empresa grande num mercado pequeno. Em todos os outros países nós somos uma empresa de menor dimensão, ou quanto muito, em termos absolutos, iguais a Portugal, só que em mercados muitíssimo maiores.

Se nós olharmos racionalmente para onde é que temos maior potencial de crescimento: podemos crescer em Portugal? Podemos. Mas podemos crescer muito mais nos outros países, porque temos uma quota de mercado ínfima comparado com aquilo que é a dimensão do mercado.

A avaliação que a Nos fez da Claranet também deve ter sido atrativa. Para o grupo aceitar vender uma unidade que não estava a pensar vender…

A avaliação foi a que nós considerámos justa, e que a Nos também considerou justa, e por isso é que o negócio se fez. Não estávamos disponíveis para vender, pelo que dificilmente venderíamos a outros preços (ou não venderíamos a outros preços). Mas para o grupo também significa uma disponibilização de mais recursos para investir em países onde nós acreditamos que têm maior potencial de crescimento porque, de alguma forma, já cumprimos o nosso papel em Portugal, crescendo mais do que crescemos nos outros países.

Vão continuar a ser uma empresa autónoma, e mantendo a marca Claranet em Portugal.

Há aqui outro racional que é importante do ponto de vista dos colaboradores e liga com essa questão da independência. Para mim, que fui fundador da empresa, é muito importante que a casa onde a Claranet Portugal fica é uma empresa credível, muito maior do que nós, que é participada por um dos maiores grupos privados portugueses [Sonae] e, portanto, é uma boa casa para os colaboradores da Claranet Portugal, com um acionista que terá interesses muito alinhados com os interesses da Claranet Portugal, que é continuar a crescer no mercado nacional.

Quanto à autonomia, de facto, isso já foi afirmado: vai haver uma independência operacional entre a Claranet e a Nos. Não é uma operação de aquisição para integração, como muitas vezes se faz. Isso também é importante, porque o negócio de telecomunicações e o negócio de IT têm dinâmicas diferentes. O negócio de IT é um negócio de serviços. Nós não produzimos tecnologia. Nós prestamos serviços em cima de tecnologia que terceiros fabricam. Por isso, nós somos um negócio que conta com pessoas e que tem uma dinâmica diferente de operação, de decisão, de relação com o cliente, de um negócio de telecomunicações. Respeitando essas diferenças, há uma intenção clara de manter uma independência operacional das empresas.

Há um acordo com o grupo Claranet para manter a marca em Portugal.

Sim, há um acordo para que a marca continue a ser Claranet. Portanto, a Claranet Portugal vai-se continuar a chamar Claranet. Há um acordo de colaboração estratégica também com o grupo. Então, o grupo nos outros países vai continuar a recorrer a Portugal para alguns serviços e vice-versa. Vamos continuar a partilhar know-how, vamos continuar a ter dinâmicas internacionais. A Claranet Portugal, de alguma forma, será uma afiliada do grupo. Não uma subsidiária, mas uma afiliada. E queremos manter essa dinâmica porque é benéfica para ambas as partes.

Não irá dizer nada sobre a estratégia para o futuro, mas imagino que também haja sinergias que podem ser criadas com a Nos.

Sinergias é uma palavra ingrata porque por vezes é negativamente conotada. Quanto a sinergias do ponto de vista de redução de custos, não há nada planeado.

Ou seja, não vão cortar pessoas.

Não vamos cortar pessoas. Isso é ponto assente.

Pelo contrário, vão contratar pessoas?

Em função do crescimento do negócio. E aí vemos muitas sinergias positivas, porque temos muitos clientes em comum, mas temos bases de clientes essencialmente distintas. Claramente, no futuro, haverá oportunidade para podermos ter uma relação mais forte com estes clientes, prestando mais serviços. É o máximo que posso dizer nesta fase, mas vemos sobretudo oportunidades que podem ser classificadas como sinergias.

Enquanto profissional e fundador da empresa que depois deu origem à Claranet Portugal, qual vai ser o seu papel daqui para a frente?

Preferia não falar sobre isso…

Continua a dizer ‘nós, Claranet’. Fala em nome do grupo e também é quadro da Claranet.

Eu estou na comissão executiva do grupo já há alguns anos. Tenho a responsabilidade sobre Portugal, Espanha e Brasil. Sou o CEO da Claranet Portugal, assumi há um ano o cargo de CEO na Claranet Brasil também, e estou neste momento a acumular ambos os cargos. Portanto, quando falo na Claranet Portugal, falo em “nós”. Quando falo do grupo, falo em “nós”.

Nós… e não Nos.

Nosotros, como dizem os espanhóis. Todos nós, o grupo de pessoas. Sobre o futuro, prefiro falar no seu momento, após termos a aprovação das autoridades competentes. Aí falaremos sobre o futuro da Claranet Portugal, e da Claranet grupo. Falaremos sobre esse futuro nesse momento e sobre o meu futuro também nesse momento.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

“A Claranet não tinha intenção de vender a Claranet Portugal”

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião