Nuno Melo gostaria de continuar como ministro da Defesa se a AD vencer as eleições e vê a pasta como uma função de Estado, mas "a escolha de um Governo compete ao primeiro-ministro".
O ministro da Defesa e presidente do CDS vê como positivo um cenário que permitisse ao centro-direita governar com estabilidade sem ter de contar com o Chega, incluindo na equação a Iniciativa Liberal. Sublinha, no entanto, que “a dispersão de votos no espaço político de centro-direita é um erro para quem não quer o Partido Socialista a governar”.
Caso a coligação volte a formar Governo, Nuno Melo gostaria de continuar à frente da pasta da Defesa. “Esta é uma pasta que eu gosto de ocupar, porque resolvo problemas com os quais me sinto muito identificado”, afirma.
Questionado sobre se, no atual contexto geopolítico, o titular deveria ser ministro de Estado, responde: “É uma decisão que compete ao primeiro-ministro. Há outras porventura a par, mas não há nenhuma função mais de Estado do que a da Defesa Nacional, que é uma área de soberania por definição”.
Se o resultado eleitoral que saiu no dia de maio for o mesmo das outras eleições, valeu a pena o Governo apresentar uma moção de confiança?
A moção de confiança tem um contexto. A moção de confiança acontece depois de uma moção de censura do PCP, de uma moção de censura do Chega, de um agendamento potestativo de uma comissão parlamentar de inquérito, que eu considero ilegal e participei em muitas comissões parlamentares de inquérito.
O que está em causa numa comissão parlamentar de inquérito são os atos do Governo, aquilo não tem nada a ver com atos do Governo. Mas também da ameaça, por Pedro Nuno Santos, da apresentação posterior de uma outra moção de censura.
Para quem faz política, é evidente que a vontade do Partido Socialista e da esquerda era a de, à falta da capacidade de contrariar politicamente os sucessos da governação, criar um clima larvar de desgaste da credibilidade do Governo até ao momento em que, quando lhes fosse conveniente, apresentar uma moção de censura.
E é por isso que se apresenta a moção de confiança, para acabar com este ciclo de reserva mental.
Mas se o resultado for o mesmo, o que é que se ganha?
Quem provoca as eleições não é quem apresenta a moção de confiança. Aliás, os partidos, para viabilizar a moção de confiança, não precisavam de votar a favor. Bastaria que se abstivessem e não o fizeram.
Mas não foi uma certa provocação?
Não foi uma certa provocação, foi uma forma absolutamente necessária de terminar com um ciclo de reserva mental.
Se me perguntar o que é que eu acho que seria de justiça nas urnas? Tendo em conta o que fizemos durante 11 meses, eu acho que a votação deveria ser bem reforçada na AD.
É claro que houve, digamos, uma antecipação de um ciclo previsível na ótica do Governo. Mas se os resultados voltarem a ser uma vitória da AD por 50 mil votos, essa clarificação vai revelar-se útil para a governação?
Quando o governo apresenta a moção de censura, a intenção não é de termos eleições antecipadas e uma crise política. Essa é provocada por quem inviabiliza, não se abstendo, no mínimo, porque não teria a expectativa de mais do que isso, essa moção de confiança.
Mas, dito isto, a partir do momento em que vamos a eleições, essa classificação será feita pelo povo português na dimensão daquilo que seja a sua vontade e a sua escolha. E nós temos que aceitar os resultados quaisquer que sejam. Se me perguntar o que é que eu acho que seria de justiça nas urnas? Tendo em conta o que fizemos durante 11 meses, eu acho que a votação deveria ser bem reforçada na AD.
Nós, durante 11 meses, fizemos o que o Partido Socialista não fez em oito anos. Começámos, desde logo, no que tem a ver com os rendimentos das pessoas, das famílias e das empresas. Aumentámos o salário mínimo, aumentamos o salário médio. Em média, os salários aumentaram 7%.
O governo anterior do PS, nos acordos, também aumentou. E até desfez o agravamento dos impostos aprovado durante o período da troika.
Eu estou a falar de um ciclo conjugado de resultados que são virtuosos, numa transversalidade que teve forte impacto na sociedade. Tivemos grandes preocupações sociais, aumentaram-se as pensões, o Complemento Solidário para Idosos aumentou duas vezes. Os medicamentos foram comparticipados a 100%, conseguiu-se garantir um bom desempenho da economia e uma redução da dívida.
Tivemos um superávite acima de todas as previsões; tivemos o melhor resultado de redução de dívida desde 2009. Mas, a par disso, descomprimimos a sociedade. Quando o Governo há um ano toma posse, o essencial das profissões na função pública, dos seus representantes, estavam na rua.
E resolveram-se os problemas de 19 classes socioprofissionais da função pública. Neste momento a sociedade descomprimiu e esta muito mais pacificada.
O que é um bom resultado? Não é o que desejava. O que desejava era a maioria absoluta, isso é óbvio.
Um bom resultado é um resultado robusto que assegure condições de governabilidade.
A dispersão de votos no espaço político de centro-direita, desde logo, é um erro para quem não quer o Partido Socialista a governar. Essa utilidade é fundamental se tivermos em conta que o primeiro-ministro não governará se não vencer as eleições e não governará com o Chega.
O que são essas condições? Por exemplo, se a AD tiver mais votos, mesmo sem maioria absoluta, do que a esquerda é muito melhor do que o ponto de partida em que está hoje. Esse resultado pode dar condições de governabilidade e estabilidade a quatro anos?
Em primeiro lugar, o que é que é desejável, e o que eu acho que seria até de justiça, era que a Aliança Democrática tivesse um resultado que permitisse governar, sendo esse resultado suficientemente robusto. Isso significa uma necessidade do eleitorado de centro-direita colocar a sua escolha na AD, porque se a AD não vencer, quem governará será o Partido Socialista e quem será primeiro-ministro é o Pedro Nuno Santos.
A dispersão de votos no espaço político de centro-direita, desde logo, é um erro para quem não quer o Partido Socialista a governar. Essa utilidade é fundamental se tivermos em conta que o primeiro-ministro não governará se não vencer as eleições e não governará com o Chega. Até tenho dado este exemplo para quem sendo eleitor de centro-direita optou pelo Chega.
Eu não confundo o partido com os eleitores. O facto é que este partido que se diz direita, durante três anos fez cair três governos de centro-direita. Foi o Governo Regional dos Açores, foi o Governo Regional da Madeira e foi o Governo da República. E durante esse ano, na Assembleia da República, votou quase tudo o que era apresentado pela esquerda, do Bloco de Esquerda, do PCP, do PAN, do Livre e do PS.
Eu acho que esses eleitores têm já como avaliar a utilidade do seu voto nesse partido durante este ano. Esse partido serviu a esquerda, não serviu em nenhum momento ao espaço político de centro-direita. E, portanto, voltando à sua pergunta, justifica-se, parece-me, a aposta na AD e um reforço dessa votação que nos dê estabilidade para governar.
A aliança com a Iniciativa Liberal é desejável?
Desejável seria que a AD pudesse governar por si. Não sendo isso possível, obviamente que o espaço político de centro-direita, sendo maior do que a esquerda, sem ter que contar com um populismo radical que se diz direita, seria uma coisa boa. Mas isso não invalida a necessidade dos votos serem concentrados na AD.
O Luís Montenegro diz que se vai embora se a AD perder. E o Nuno Melo, também se vai embora se a AD perder?
A AD vai ganhar.
O que eu lhe digo é que esta é uma pasta que eu gosto de ocupar, porque resolvo problemas com os quais me sinto muito identificado.
Então e a AD ganhando gostaria de continuar como Ministro da Defesa?
Vamos cá a ver, nós tivemos um ciclo interrompido. Foi um ano com impressionantes sucessos no que tem que ver com a defesa nacional. Nós trouxemos a defesa nacional para a primeira linha das decisões da política e resolvemos problemas reais, todos os dias, nos três ramos das Forças Armadas. O que eu lhe digo é que esta é uma pasta que eu gosto de ocupar, porque resolvo problemas com os quais me sinto muito identificado.
Eu ainda sou daquela geração que cumpriu o serviço militar. Grande parte do meu caráter também é formado no exército e na arma de cavalaria e, portanto, eu sinto-me irmanado com aqueles que tutelo enquanto ministro da Defesa e eu acredito que os militares também me sentem um bocadinho como um dos deles. Eu estou confortável na pasta da defesa, mas a escolha de um Governo compete ao primeiro-ministro.
Tendo em conta o contexto geopolítico atual, o ministro da Defesa devia também ser ministro de Estado?
É uma decisão que compete ao primeiro-ministro. Há outras porventura a par, mas não há nenhuma função mais de Estado do que a da Defesa Nacional, que é uma área de soberania por definição. Para mim, o importante é que o primeiro-ministro se sinta confortável com as suas escolhas.
Se o ministro é de Estado ou não é de Estado, se o primeiro-ministro sente que a sua opção é uma ou outra… É uma decisão que compete ao primeiro-ministro que eu respeito. Não me caem os parentes à lama por uma coisa ou por outra. Importante para mim, mais do que o meu estatuto, é ter condições para desempenhar bem a minha função. E isso eu acho que há um reconhecimento nas Forças Armadas, e fora delas, sobre aquilo que têm sido os bons resultados na Defesa Nacional.
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