“Cada vez é mais difícil falar em ciclos, a incerteza é hoje uma constante”

Guy Pacheco, CFO dos CTT, aborda os desafios que atualmente se colocam na sua área, com foco na transformação e nos cenários financeiros que permitam a tomada de decisão.

Em tempos de grande instabilidade, a função de Chief Financial Officer tem de responder a novos e cada vez mais rápidos desafios. Esta é a visão de Guy Pacheco, com esse cargo nos CTT, que, em entrevista por escrito ao ECO, aborda os principais temas aos quais tem de dar atenção, num ambiente de elevada volatilidade, sobretudo internacional e nos mercados.

Guy Patrick Pacheco é um dos cinco candidatos ao Prémio CFO na 37ª edição dos IRGAwards, iniciativa da Deloitte que em o ECO como parceiro.

Estamos a viver um ciclo de grande instabilidade geopolítica e económica. Como se gerem ciclos de financiamento, que têm uma lógica de médio/longo prazo, com tanta incerteza e tantos choques num curto espaço de tempo?

Cada vez é mais difícil falar em ciclos, a incerteza é hoje uma constante. A consequência para as empresas é terem de se preparar para desenvolver o seu negócio e a sua estratégia, mesmo em contextos de instabilidade económica e política. É, por isso, necessário antecipar diferentes cenários e criar agilidade, na gestão do risco, nos processos de decisão e na estrutura organizativa.

Desde logo, é necessário um planeamento estruturado, com o desenvolvimento de vários cenários, que permitam identificar riscos e estratégias de diversificação e, com isso, definir uma estratégia de financiamento que permita gerir e, até, tirar vantagem das crises e das incertezas.

Apesar do contexto desafiante, e do impacto que pode ter no consumo, beneficiamos da mudança estrutural da adoção do e-commerce na ibéria, onde ainda estamos muito longe dos países mais maduros e, por isso, achamos que há muito espaço para os CTT crescerem no setor logístico, onde nos posicionamos como um player de referência tanto em Portugal como em Espanha.

Estamos naturalmente atentos à evolução e impactos desta conjuntura geopolítica atípica e, por isso, tomamos um conjunto de decisões estratégicas de diversificação de fontes de crescimento dos CTT, com um plano de crescimento sólido, tanto a nível orgânico como por meio de parcerias e aquisições estratégicas (parceria com a DHL e aquisição da Cacesa).

De que forma esta instabilidade tem impactado diretamente a sua função?

A função de CFO deixou de ser apenas financeira; hoje somos promotores de inovação, de crescimento e de transformação, em conjunto com as áreas de negócios, o que também implica que sejamos responsáveis por criar, nas empresas, a capacidade de tomar decisões com a melhor informação possível e com maior agilidade.

No meu caso, a instabilidade conduziu a que sentisse a necessidade de gerir risco proativamente e construir cenários de médio prazo com muito maior frequência, o que implica trabalhar em conjunto com as áreas de negócio, de forma colaborativa, para que os CTT sejam capazes de reagir, sem pôr em causa a criação de valor.

Com que cenário estão a trabalhar em termos de evolução das taxas de juro e das condições de financiamento em sentido lato?

Não antecipamos alterações relevantes nas taxas de juro nem nas condições de financiamento. As projeções de mercado indicam uma possível ligeira redução ou estabilidade das taxas, com spreads também estáveis, em linha com o nosso cenário base. A solidez do nosso balanço e um perfil de dívida conservador garantem-nos acesso a financiamento em condições favoráveis. A nossa estratégia de financiamento assenta na diversificação nas fontes de financiamento, numa gestão prudente do risco, assegurando a resiliência necessária para implementação do nosso plano de negócios e a geração de valor acionista.

A inovação não é só sobre lançar novos produtos ou adotar novas tecnologias. É também sobre reinventar modelos de negócio, redesenhar estruturas de capital e transformar a cultura

Guy Pacheco

CFO dos CTT

Sendo o tema desta edição dos IRGAwards a evolução e a mudança, que papel podem ter os CFO enquanto agentes de mudança dentro das organizações?

Os CFO têm um papel cada vez mais estratégico. Têm a vantagem de ter uma visão transversal das empresas, com capacidade para desafiar o status quo e ser agentes de mudança e transformação.

A inovação não é só sobre lançar novos produtos ou adotar novas tecnologias. É também sobre reinventar modelos de negócio, redesenhar estruturas de capital e transformar a cultura.

O nosso papel é garantir que a mudança é sustentável. Isso significa criar modelos de decisão baseados em dados e construir alicerces sólidos para decisões estratégicas e alocação de capital.

Além disso, temos de ser catalisadores de inovação — não só financeiros, mas também culturais. Promover uma cultura onde a eficiência convive com a ambição.

E onde o risco é gerido, não evitado.

Com a evolução dos temas de ESG, este elemento ganha maior peso nas decisões de investimento?

A sustentabilidade tem inegavelmente vindo a ganhar espaço nas decisões de investimento. É hoje muito mais do que uma “tendência ética”, consolidando-se como uma parte integrante da estratégia.

Há anos que os CTT em estado na vanguarda das preocupações ESG, em particular nas questões ambientais, liderando o setor nas componentes de descarbonização, com uma agenda e objetivos ambiciosos nesta dimensão.

Por outro lado, a proximidade à comunidade – valor intrínseco dos CTT – é um dos pilares da nossa atuação. Priorizamos objetivos focados no bem-estar dos nossos colaboradores, das comunidades locais e na proteção do planeta, alicerçados em práticas de boa governança. Sabemos para onde queremos ir e todas as áreas da empresa são envolvidas para atingirmos as metas exigentes que traçámos no médio e longo prazo.

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