Este ano, a empresa de produtos alimentares da Golegã reforçou em média 14% o pacote de benefícios salariais. Hoje a dona da Paladin dá emprego a 400 pessoas, das quais 100 são imigrantes.
Em dois anos, a Casa Mendes Gonçalves quer atingir os 100 milhões de euros de volume de negócios, valor que está hoje nos 56 milhões. E, ainda antes disso, refletir na remuneração e na progressão de carreira das pessoas esse crescimento da empresa dona de marcas como a Paladin, Dona Pureza ou Peninsular.
“Não faz sentido chegarmos esses valores sem valorizar as pessoas que nos fazem chegar lá”, considera Ricardo Ferreira, o novo CEO da MG Foods & Care, a área de produção da Casa Mendes Gonçalves. Até ao final do ano, o gestor quer que ninguém ganhe menos de 1.000 euros na empresa. Este ano, a empresa de produtos alimentares reforçou em média 14% o pacote de benefícios salariais.
Com cerca de 400 pessoas, a empresa tem uma maioria, cerca de 300, ligadas à fábrica na Golegã e destas, 100 são estrangeiros, de 12 nacionalidades, que escolheram a cidade da região Centro para viver.
“Seria interessante que o Governo desenvolvesse mais medidas de apoio e incentivo às empresas neste processo de integração da população imigrante. O caminho que temos vindo a fazer, felizmente, já vai muito além de dar emprego”, diz Ricardo Ferreira, quando instado a comentar as novas medidas do Governo para a imigração.
Já são hoje mais de 400 pessoas. A expansão da nova fábrica passa também pelo aumento do número de pessoas ou com novas tecnologias, novas otimizações…
Sobre a MG Foods & Care o que fizemos rapidamente foi estruturar a empresa. Dando um exemplo: em termos de equipa de vendas temos hoje 15 pessoas especializadas em modern trade, food service, indústria e internacional; e costumer service segue o mesmo caminho. Temos um plano definido tanto em marketing, como em vendas, como em R&D, como costumer service e logística. Contratamos as pessoas que precisamos nas últimas semanas, meses, foi um investimento muito grande. Contratamos mais de 30 pessoas, ultrapassando as 400 pessoas no grupo.
Relativamente à fábrica, e estamos a falar para 2027, com a otimização de processos e de linhas, o número de headcount por linha vai ser reduzido, mas como é óbvio, há uma evolução da workforce da empresa.
Há um número estimado de reforço?
Neste momento ainda não conseguimos avançar com um número, mas será necessário reforçar o número de colaboradores, em linha com a nossa estratégia de expansão e crescimento dos próximos anos.
Há também um trabalho muito importante que estamos a fazer de valorização dos postos de trabalho: há uma visão, que vamos entregar rapidamente, que ninguém vai ganhar menos do que 1.000 euros na nossa casa, de forma a valorizar os postos de trabalho, ter planos de carreira. Há exemplos de pessoas na nossa administração que começaram no chão da fábrica e cresceram na empresa. E é isso que nós queremos mostrar esta história, estes testemunhos.
Esse objetivo de não haver salários abaixo de mil euros é para quando?
Este ano já fizemos uma melhoria substancial e já não estamos muito longe desse valor. Sem contar com os novos elementos da equipa, fizemos um aumento médio do total dos benefícios salariais de 14%, contrastando com o aumento do salário bruto médio em Portugal, que subiu 2,3% em 2023. O nosso objetivo é chegar aos 1.000 euros como vencimento mínimo para todos os colaboradores até ao final do ano.
Se conseguimos duplicar esta empresa e chegar aos 100 milhões [de volume de negócios] nos próximos dois anos, temos toda a capacidade para isto. Não faz sentido chegarmos a esses valores sem valorizar as pessoas que nos fazem chegar lá. E sem dúvida que isso acontecerá ainda antes de chegar aos 100 milhões.
E neste momento qual é o ponto de partida?
Hoje em dia começámos com 56 milhões. Esta empresa teve um crescimento muito grande nos últimos quatro anos, mas ainda há muita coisa a melhorar, coisas básicas.
Sem contar com os novos elementos da equipa, fizemos um aumento médio do total dos benefícios salariais de 14%, contrastando com o aumento do salário bruto médio em Portugal, que subiu 2,3% em 2023. O nosso objetivo é chegar aos 1.000 euros como vencimento mínimo para todos os colaboradores até ao final do ano.
Muitos setores da indústria ao turismo queixam-se de falta de pessoas. Estão fora dos grandes centros urbanos. Estão a conseguir atrair pessoas para a fábrica? Os trabalhadores imigrantes fazem parte dessa estratégia?
Fazem muito. Das 400 pessoas que temos, 300 pessoas estão hoje na fábrica e dessas 100 são estrangeiros, 50 são refugiados. Temos crianças afegãs a nascer na Golegã. E ver a diferença de ver estas crianças nascerem aqui em vez de nascerem em Cabul, a vida que podem vir a ter as meninas, a educação que têm, para mim… Tenho pessoas na equipa a dizer ‘temos de chegar aos nossos números é por isto’. É o propósito, o legado que estamos a construir.
Estamos a construir uma escola pública. Não temos sindicato aqui na fábrica, porque as pessoas estão felizes. O nível de retenção que temos na fábrica é muito elevado. O nosso problema nem é tanto de atração de talento, é mais de fazer evoluir as pessoas com a empresa. Vamos precisar de pessoas, o número de headcount por linha é que vai ser inferior, porque a fábrica já vai ser montada para a otimização de certos processos, hoje em dia manuais.
O problema de atração de talento não sentimos, sabendo que estamos na Golegã, que tem 3.000 pessoas, e nós representamos 15% do workforce. Não estamos em Lisboa, não temos milhões de pessoas disponíveis, então temos de cativar as pessoas da região, seja de Santarém, de Leiria, de Torres Novas, de Fátima. Há uma atração mais ampla, e isso foi muito mais pensar na zona Centro e não na Golegã. Estamos a abrir os nossos escritórios em Lisboa, de forma a aproximar a nossa casa a Lisboa, atrair o talento certo e estar próximo dos clientes. Faz dois meses que abrimos na zona de Sete Rios, vamos mudar para outros maiores.
Das 400 pessoas que temos, 300 pessoas estão hoje na fábrica e dessas 100 são estrangeiros, 50 são refugiados. Temos crianças afegãs a nascer na Golegã. E ver a diferença de ver estas crianças nascerem aqui em vez de nascerem em Cabul, a vida que podem vir a ter as meninas, a educação que têm, para mim… Tenho pessoas na equipa a dizer ‘temos de chegar aos nossos números é por isto’.
Têm 100 trabalhadores estrangeiros. Como é que olha para estes discurso anti-imigração que está a emergir, mais polarizado?
Aqui não é só a parte da educação, mas também da inserção social. Temos aulas de português, de inglês, programas de inserção na sociedade. Destas 100 pessoas temos 12 nacionalidades, esse trabalho de inserção social é crítico para atrair as famílias. É realmente incorporá-los na sociedade, pensando na família, no bem-estar dos filhos na escola, no bem-estar da família – se, por exemplo, podemos arranjar postos de trabalho para o outro parceiro ou parceira.
Há um projeto muito interessante de desenvolvimento da IPSS que vai começar as obras da escola no início do próximo ano. A escola pública foi desenhada por um arquiteto japonês [atelier Tezuka Architects, fundado por Takaharu e Yui Tezuka]. Ao lado do nosso terreno, vamos construir essa escola pública que cada vez mais atrai pessoas para a região, porque a educação é um ponto muito importante para escolher a localização da base da família.
Seria interessante que o Governo desenvolvesse mais medidas de apoio e incentivo às empresas neste processo de integração da população imigrante. O caminho que temos vindo a fazer, felizmente, já vai muito além de dar emprego.
O Governo anunciou uma nova estratégia e regras para a entrada de imigrantes. Como comenta? Vai ajudar as empresas?
Seria interessante que o Governo desenvolvesse mais medidas de apoio e incentivo às empresas neste processo de integração da população imigrante. O caminho que temos vindo a fazer, felizmente, já vai muito além de dar emprego. Queremos continuar a fazer este trabalho de incluir os imigrantes no mercado laboral, mas também na sociedade, a si e às suas famílias, para que possam sentir-se 100% enquadradas no país e na comunidade onde vivem e trabalham.
Fizeram uma emissão de obrigações sociais, para habitação.
A emissão de 2,5 milhões de euros em obrigações sociais é para habitação para os nossos colaboradores, construção ou reabilitação. Já temos uma boa quantidade de colegas que têm a habitação na Golegã comparticipada por nós, em que participam com um montante. Temos uma lista de espera dentro da nossa família – não gosto de chamar a equipa – de pessoas à espera de habitação e que gostaria de ter esse benefício dentro do seu posto de trabalho.
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“Objetivo da Paladin é chegar aos 1.000 euros como vencimento mínimo até ao final do ano”
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