“Os empresários não precisam, não devem, nem merecem pedir ao Estado”

Gonçalo Regalado é o presidente do banco soberano do país. É assim que o gestor define o que é o Banco de Fomento. No podcast 'O Mistério das Finanças', detalha o novo plano de apoio às empresas.

O Governo anunciou um programa de apoio às empresas para responder à guerra comercial e às tarifas à importação dos EUA, um pacote de dez mil milhões de euros, divididos em quatro grandes gavetas, e o Banco Português de Fomento é o ator principal deste plano. Gonçalo Regalado, presidente do Banco de Fomento, é o convidado desta semana do podcast do ECO e da CNN Portugal, ‘O Mistério das Finanças’, e explica de onde vem este dinheiro e quem pode candidatar-se. Para o gestor, “filho e neto de empresários”, o Banco de Fomento é o “banco soberano do país”, que tem de trabalhar para todas as empresas.

As empresas estão preparadas para responder às novas tarifas americanas?

A maioria das empresas em Portugal está muitíssimo bem preparada para aquilo que é o seu mercado exportador. Veja-se o que aconteceu nos últimos dez anos, em que passámos de um PIB com as exportações a valerem 30% para 50%, e o Estado está a fazer o seu papel com o seu banco soberano, o Banco Português de Fomento, a apoiar neste momento, que é de indefinição, de alguma incerteza.

Nós, quando olhamos para aquilo que é o impacto das empresas portuguesas que exportam hoje para os Estados Unidos, sabemos que são cerca de 3.400 empresas, que representam cerca de 1% do tecido económico português, mas depois, quando vemos o impacto dessas empresas no resto dos grandes indicadores da economia, percebemos que temos aqui um efeito borboleta. Porquê? Porque essas empresas representam 9% do emprego, 14% do volume de negócios daquilo que são o volume de negócios de todas as empresas e quase 40% das exportações. Portanto é preciso dar a estas empresas a liquidez, a confiança e, sobretudo, os instrumentos que são necessários para procurarem novos mercados, diversificarem para novas geografias, reforçarem as geografias onde já estão e, se tudo correr bem, teremos efeitos mitigados por aquilo que é a gestão entre blocos, entre o bloco da Comissão Europeia e o bloco da Administração Americana. Portanto, temos que ter as empresas, a economia e os empresários preparados, para que na verdade eles saibam que têm no Banco de Fomento uma pedra sólida para ajudar este processo, para que saibam que tudo faremos para garantir competitividade, diversificação, internacionalização…

Já vamos detalhar o plano de apoio às empresas e o papel do Banco Português de Fomento. Mas o que é que os empresários, nomeadamente os que exportam diretamente para os Estados Unidos, lhe têm dito?

O que ouvimos das associações empresariais e comerciais é que o empresariado português está preparado para toda a tipologia de densidade deste conflito comercial. Nós vemos com dificuldade como é que parceiros e aliados de décadas, com relações comerciais sólidas, de um momento para o outro têm uma ativação de um conflito comercial que ninguém quer. Aquilo que sentimos na economia portuguesa é que os empresários foram sempre os heróis das últimas quatro crises que vivemos… inicialmente, a crise da dúvida soberana, a seguir vivemos a crise da troika, a seguir vivemos a crise do Covid e agora temos vivido a crise da inflação… foram sempre eles que nos ajudaram a trazer Portugal para um PIB superior, criando valor, distribuindo valor, contribuindo para aquilo que é o pagamento de impostos e, sobretudo, dando ao país uma melhor qualidade de vida. São sempre os empresários o motor da economia. E aquilo que sentimos é que estão preocupados, portanto, é preciso dar previsibilidade e estabilidade, porque estamos a falar não só destes 6,7% das exportações diretas para os Estados Unidos… Os Estados Unidos são o primeiro mercado extracomunitário na nossa balança comercial, mas temos que perceber que os outros três mercados que estão à frente são mercados para onde vendemos e que vendem [depois] para os Estados Unidos. É assim com a Espanha, é assim com a Alemanha, é assim com a França e depois, nos seguintes, é assim com o Reino Unido, é assim com a Itália. Portanto, nós temos um impacto direto de 6,7% das exportações, cerca de 3,3% do PIB, mas depois há o impacto indireto. E o impacto indireto são as nossas exportações para estes mercados tradicionais do nosso espaço económico, do espaço euro, que depois acabam por ser mercados que vendem para os Estados Unidos e que também vão ter as suas tarifas. Veja-se a Alemanha, veja-se a Itália…

…portanto, ainda há mercados disponíveis para descobrir?

Com certeza. Os empresários portugueses são os novos navegadores do século XXI. Eles encontram novos mercados e encontram novas formas, novos produtos e novos modelos para vender mais nos mercados onde já estão. E por isso é que passámos cerca de 30% do PIB em exportações para 50%. Os empresários estão preparados, têm que garantir as condições naturais de previsibilidade e estabilidade e vão dar novamente uma resposta positiva a este desafio.

Foi apresentado esta semana o programa Reforçar. Para já, é um powerpoint. Vamos tentar perceber se é mais do que isso ou apenas uma folha…

O programa Reforçar é um programa de muitas entidades, onde o Banco Português de Fomento também participa. É um programa que começa naquela que é a estruturação do Ministério da Economia, com a liderança conjunta pelo Banco de Fomento, pelo Compete, pela AIC, pelo IAPMEI, pela Direção-Geral das Atividades Económicas, por todos os parceiros do Ministério da Economia, pelas duas secretarias de Estado mais envolvidas, em particular a Secretaria de Estado da Economia e a Secretaria de Estado do Turismo, e depois com os ministérios que nos ajudam, a começar no Ministério das Finanças e também com uma co-liderança do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

O programa Reforçar anuncia mais dez mil milhões de euros. Que dinheiro é este? É dinheiro que já existia, ‘reempacotado’ com outro nome, ou é dinheiro novo?

Clarificando… Nós já tínhamos 2.640 milhões de euros que são agora acelerados… ‘Nós’, Banco de Fomento? Nós, Portugal. E é Portugal que temos que representar porque somos o Banco Soberano de Portugal. O país tinha 2.640 milhões de euros que já estavam programados e que são agora acelerados, em particular com instrumentos de aviso do Portugal 2030. Vamos dar maior força naquilo que são os programas tradicionais, da qualificação, da inovação produtiva, da descarbonização. Isso é a aceleração do que estava programada…

De que forma?

Com avisos mais rápidos, com processos mais ágeis e com modelos de aprovação muitíssimo mais céleres. Ou seja, aceleramos o calendário dos avisos. Mas, depois, vamos ao programa Reforçar. E no programa reforçado é tudo novo ‘money’, ou seja, é tudo dinheiro novo.

O programa Reforçar anuncia apoios de dez mil milhões de euros. Isto está partido aqui em quatro grandes fatias. A maior das fatias, cerca de 5,2 mil milhões de euros, as chamadas Linhas Banco Português de Fomento, InvestEU. Que dinheiro é este, e para quem?

É tudo dinheiro novo para todas as empresas em Portugal que são elegíveis ao programa BPF InvestEU e o exemplo mais fácil é simples: Nós recebemos nos últimos dez dias, 1.800 milhões de euros de seis mil empresas que se candidataram ao Banco Português de Fomento. Desses, 800 milhões de três mil empresas já têm a sua aprovação. O que é que vamos fazer? Tínhamos um plafond de 3.600 milhões de euros [de garantias], passamos a ter um plafond de 8.700 milhões. Portanto, é dinheiro novo…

…comunitário?

As garantias que estão hoje no Banco de Fomento, que eram com capital do PRR, e vamos colocar na economia mais 5.200 milhões de euros. Isto é o primeiro programa.

E é para quem?

É para todas as empresas, praticamente todas as empresas em Portugal, que queiram fazer investimento em PMEs, sustentabilidade, digitalização e o fundo de maneio. Uma PME que fature dez milhões de euros pode ter um fundo de maneio até dois milhões de euros, pode ter no investimento até cinco milhões de euros, e o que é que fizemos Simplificámos. Demos as garantias aos empresários, comunicámos-lhes essas garantias e dissemos-lhes que, com esta garantia digital, desconte a garantia no seu banco. E tivemos uma enormíssima procura, não só dos empresários como dos bancos comerciais, com uma procura ao crédito para investimento que foi muito superior à nossa expectativa inicial. Perceba-se o que é que são 1.800 milhões, fazer em dez dias mais do que tinha sido feito em 2022, 2023 e 2024.

Isso não é um grande elogio às suas antecessoras.

É uma constatação, são números. Há uma procura por investimento e por financiamento em Portugal que tem que ser uma procura positiva. E o que estamos a fazer é passar de uma linha que era de 3.600 milhões e que tinha pouco mais de 300 milhões colocados para uma linha que agora queremos esticar até 8.700 milhões. Mas a segunda medida é a mais importante de todas. Porquê? Porque é uma linha só para exportadores. São 3.500 milhões de euros de financiamento para empresas exportadoras que vão ter subvenção, isto é, vão ter fundo perdido. Destes 3.500 milhões, 400 milhões vão ser a fundo perdido. Portanto, os empresários que procurarem esta linha para financiamento, para procurarem novos mercados, para diversificar os seus produtos, para encontrar novos clientes… têm aqui uma linha para investimento também, com 2.500 milhões, e mil milhões de fundo de maneio…

Só para os Estados Unidos ou para todos os mercados?

Para todos os mercados. É uma linha para todos os exportadores, para PMEs, micros, pequenas, médias e grandes empresas. Nós fizemos a notificação à Comissão Europeia esta semana. A ampliação da primeira linha para os 8.700 milhões é praticamente automática. A notificação à Comissão Europeia, que já está feita precisa da confirmação, mas em maio estará no mercado e nós vamos trabalhar com a banca comercial e com os empresários e com as associações empresariais para rapidamente…

O que é que significa “rapidamente”?

Em maio queremos ter operações contratadas, financiadas e com o dinheiro na conta dos empresários. Rapidamente é isto.

Num mês consegue pôr o dinheiro nas contas das empresas?

Quando chegámos ao Banco de Fomento para fazer uma candidatura, eram precisos 27 documentos. E para esses 27 documentos eram necessários 49 dias úteis para ter o dinheiro na conta. Hoje só precisa de cinco documentos. Ligámos o banco às plataformas digitais do Estado e só precisa de cinco documentos. E temos a ambição de, em dois dias, concedermos as aprovação e em uma semana concedermos o financiamento. É isto que vai acontecer nestas linhas todas. Pré-aprovadas. Isto é, os empresários não pedem, não pedem nem à banca comercial nem ao Banco de Fomento. Os empresários não precisam, não devem, nem merecem pedir ao Estado. O Estado e as suas instituições, o Banco Soberano do país, tem que dizer aos empresários, estamos aqui, está aqui a sua garantia, porque as garantias são das empresas, invista por si, pelo seu país, pela sua região, invista, está aqui a garantia. Nós não estamos à espera que os empresários peçam nada ao Banco de Fomento, temos que ser proactivos, temos que estar à frente da necessidade, a responder às necessidades do mercado.

Como é que essas empresas são selecionadas, nomeadamente pelo Banco de Fomento e pelos bancos comerciais?

É muito simples. O Banco de Fomento olha para aquilo que são os limites de risco das empresas, tem a informação toda do Banco de Portugal, conhece os balanços das empresas e as demonstrações de resultados, define qual é que é o seu apetite de risco com exposição saudável para aquilo que é crédito em cada uma das empresas, e define com soluções de risco, como é feito em banca comercial, qual é o seu limite de garantia. A banca comercial faz exatamente o mesmo exercício. Quando o limite de garantia é igual ao limite de crédito, há o casamento entre o banco de fomento e o banco comercial e o empresário recebe o dinheiro na conta.

Já analisamos duas gavetas neste programa, há uma terceira gaveta, que são mais 1.200 milhões de euros em seguros de crédito à exportação. É dinheiro novo?

É dinheiro novo. Temos, com a nossa Agência de Crédito à Exportação Portuguesa, um acordo para reforçar em 1.200 milhões aquilo que é o valor dos seguros de crédito e das apólices que são necessários para todos os mercados. Para os mercados normalmente mais emergentes, não OCDE, onde a maioria das empresas pode procurar agora esse caminho, mas também para os mercados tradicionais, onde já fazemos as nossas exportações, para que os limites de crédito à exportação possam ser aumentados. O que é que vamos fazer? Em cima da parceria com a nossa agência de crédito à exportação, que será em 2026 já dentro da estrutura do Banco Português de Fomento, o que é que estamos a fazer? Parcerias com os bancos soberanos destas geografias. Parcerias com o Banco Soberano do Reino Unido, da Itália, da Alemanha, da França e da Espanha. É este o trabalho de um banco soberano. É fazer parcerias com as geografias e com as seguradoras de crédito para onde os nossos portugueses estão hoje a exportar, e garantir-lhes o seguro de crédito à exportação, para que saibam que há uma rede de suporte. Além disso, uma parte destes seguros de crédito e dos prémios serão bonificados. Ou seja, vamos dedicar bonificações para que os empresários tenham todos os instrumentos para continuarem a exportar mais, melhor, de uma forma mais competitiva e mais diversificada.

Finalmente, a última gaveta tem 200 milhões de euros, que até parece pouco no meio deste mar de dinheiro, de apoio à internacionalização. Para quem se dirige?

Para os empresários, para as associações empresariais e para todos os promotores daquilo que é o universo do nosso processo de exportação e internacionalização. É dinheiro diretamente novo, de fundos europeus, também reprogramado, para as dimensões todas da internacionalização, como os projetos individuais de internacionalização de cada PME, os projetos conjuntos das PMEs e das associações comerciais e empresariais e ainda os SIACs, portanto, os sistemas de incentivos das ações coletivas. Ou seja, o que quisemos dar aos empresários com o programa Reforçar é claro. Quisemos dar-lhes as garantias para todas as empresas, fundo de maneio e investimento, para que não falte liquidez e investimento, quisemos dar garantias com financiamento e com fundo perdido para todos os exportadores, para que não lhes falte vontade e intensidade para procurarem novos mercados. Quisemos dar-lhes seguros de crédito para terem uma rede e uma segurança para procurarem no mundo inteiro e nos nossos espaços tradicionais e nos espaços emergentes mais e melhores exportações. E quisemos dar-lhes instrumentos para poderem participar em mais feiras, em mais mercados, em mais missões, e com melhores condições.

E o que garante que o dinheiro lhes vai chegar rapidamente?

O exemplo do que fizemos nos últimos 100 dias, O exemplo do que fizemos nos últimos 100 dias e daquela que é a responsabilidade que estamos a fazer desde o momento em que recebemos estas seis mil candidaturas e estes 1.800 milhões de euros, que é com factos, com resultados e com realidade que entregamos as palavras, está feito. Os empresários candidataram seis mil garantias, mas o Banco Português de Fomento deu 125 mil garantias, portanto há 119 mil que ainda aguardamos que se candidatem, e vamos ter vagas adicionais.

A pergunta que ressalta é porquê que todos estes fundos não foram utilizados antes? Estavam à espera de quê se, afinal, estes fundos estavam disponíveis?

Ninguém esteve à espera. Uma boa parte da estratégia do Banco Português de Fomento passaria sempre por aumentar as linhas de garantias, por criar novas soluções…

…Mas não foi feito antes.

Estamos aqui há 100 dias. Em 100 dias, o que podemos dizer aos empresários, às associações empresariais, a toda a nossa sociedade, é muito simples. Estas seis mil empresas que se candidataram ao Banco Português de Fomento representam mais de 100 mil postos de trabalho. Estas seis mil empresas têm hoje 1.800 milhões candidatados que, com grande probabilidade, serão aprovados nos próximos dias. 800 milhões já estão aprovados e em contratação. Portanto, estimamos que nos próximos 100 dias seja possível duplicar o Banco de Fomento

O que está a dizer é que houve um desperdício desses fundos, que estavam disponíveis. O Banco de Fomento acionou-os agora e afinal, havia capital disponível.

Em abril de 2024, o Banco Português de Fomento e o Governo de Portugal assinaram com a Comissão Europeia um pacote de 3.600 milhões de euros. Quando cheguei ao Banco Português de Fomento no dia dois de janeiro de 2025, estavam um pouco mais de 350 milhões executados, portanto, cerca de 10%. O que estamos agora a fazer é quase a triplicar o pacote original. Portanto, o que estamos a dizer aos empresários é: invistam, têm aqui instrumentos de investimento e de fundo de maneio para ter segurança. Quando olhamos para os instrumentos de capital, o Banco Português de Fomento tem hoje quase 1.700 milhões de instrumentos de capital. Estão hoje quase disponíveis mil milhões de euros desses instrumentos. Portanto, não falta nem garantias, nem seguros de crédito, nem instrumentos de capital, nem dinheiro ao Banco de Fomento. Aquilo que estamos a fazer hoje é gerir o Banco de Fomento como trabalhávamos na banca comercial, onde servimos mais de 15 anos, e onde explicámos como é que se fazia, num modelo de banca privada, [que é] aquilo que está hoje a ser feito no banco soberano.

Isso leva-nos para um dos mistérios desta semana. Depois de tantos anos de promessas por cumprir, com sucessivos ministros e sucessivos conselhos de administração, o Banco de Fomento serve para alguma coisa? Perante as promessas que já fez, estaremos aqui dentro de 100 dias para as avaliar…

Eu clarifico. É preciso fazer justiça a quem serviu no Banco Português de Fomento, a quem serviu no banco soberano de Portugal. Quando o país teve a última grande crise do Covid, o banco soberano de Portugal respondeu com 45 mil financiamentos e 9.300 milhões de euros. O banco soberano de Portugal, que é o Banco de Fomento, não falhou a ninguém. Os empresários, durante o Covid, tiveram dinheiro, financiamento e liquidez que foi graças ao Banco de Fomento e às suas sociedades, à Sociedade de Garantia Mútua, à Norgarante, à Lisgarante, à Garvale e à Galgarante. Está agora a fazer cinco anos, em abril de 2025, que esse tempo passou. Ou seja, o banco soberano de Portugal é um banco fortíssimo na tempestade. O problema é que temos vivido alguma bonança a partir daí. E quando se vive tempos de melhor bonança, aquilo que é o papel da banca soberana é menos relevante. O que nós vemos…

Portanto, só serve para crises.

Já lá vamos. Tem que servir para ter uma gestão corrente, normal, tradicional. Tem que servir para as fases da bonança e para as fases da tempestade. Eu só quero deixar claro que as equipas que servem hoje no Banco Português de Fomento já deram provas no tempo do Covid, que foi o tempo mais duro que tivemos no último século, que estavam prontas a ajudar as empresas com a banca comercial. Em cima disto, o que estou a dizer hoje é que temos que aplicar no Banco Português de Fomento aquilo que aplicámos na banca comercial, porque esta Comissão Executiva é uma Comissão Executiva privada, puramente privada, com administradores que vêm do HSBC, com administradores que vêm do BCP, da UNICRE… É uma administração privada, de gestores privados, que trabalharam toda a vida no privado. Ou seja, está no lado do Estado, mas conhece os segredos da banca privada. Com responsabilidade pública, com trabalho de soberania, com independência e autonomia para que o país e os empresários saibam que têm no Banco de Fomento um aliado, um parceiro para todos os momentos. E como é que fazemos a gestão privada? Ligamos o banco à estrutura da administração pública e deixámos de pedir aos empresários tudo o que estava a ser pedido. Simplificámos o processo de aprovação, dizendo aos empresários “está pré-aprovado, avance”. Garantimos processos de risco, em parceria com a banca comercial e dizendo que o que estiverem a analisar no que diz respeito à documentação dos clientes, para nós, é prova suficiente.

Está a criar uma pressão sobre a banca comercial. Eu não estou a criar uma pressão, estamos a dar aos empresários as garantias que lhes permitem consultar e informar os seus bancos comerciais e criar uma competição positiva, que lhes permitirá ter uma competitividade positiva e melhores condições de financiamento.

Usa uma expressão que nunca tínhamos ouvido sobre o Banco de Fomento, um banco banco soberano. Está a assumir uma posição preponderante, na economia e no sistema financeiro português. Portanto, o que está a dizer é que a partir de agora contam. O banco soberano contou sempre. Vamos entender as coisas de uma forma simples… Contou pouco… Vamos entender as coisas de uma forma simples para que todos entendam. Os bancos comerciais são a primeira liga de futebol. Cada clube tem o seu banco, fazem a sua disputa, jogam o campeonato. O Banco Português de Fomento é a seleção nacional, é o banco soberano, o banco do país. Os melhores da banca comercial devem servir no banco soberano. É assim que tem que ser. Nos outros países, o banco soberano é o banco mais importante do sistema. É assim na Alemanha, é assim na Itália, é assim na maioria dos países. Os países desenvolvidos têm bancos soberanos ou têm fundos soberanos. Só nós em Portugal é que achamos, por ter uma infraestrutura, uma estrutura, uma equipa, uma solução que não estava a entregar os resultados que eram uma ambição da sociedade, que o podíamos desfazer, alterar ou adulterar. Não é isso que queremos. O que queremos é que os portugueses e os empresários compreendam que ser banco soberano é ter uma responsabilidade pelo país, pela autonomia, pela independência, que está acima daquilo que é o processo tradicional. Todas as empresas em Portugal São minha responsabilidade e da equipe executiva que aqui serve. Nós temos que dar uma resposta a todas as empresas, enquanto os bancos comerciais dão uma resposta às empresas que são suas clientes. Nós temos que dar uma resposta a todas as empresas. E em cima disso, em parceria, em união, em solidariedade, em grande coesão, também temos de trabalhar com a banca comercial para que essa resposta possa ter mais braços, mais capilaridade e mais proximidade. Não podemos é substituir os processos. Porquê? Porque hoje é desafiante darmos às empresas o dobro do prazo, o dobro do montante, e à metade do preço. E é isso que o banco soberano faz. Quando damos uma garantia ao empresário, o que lhe estamos a dizer é que pode ter acesso ao dobro do financiamento. O banco soberano é absolutamente essencial para o desenvolvimento, para o investimento e para a capacitação económica do país.

A banca privada convive bem com esse ativismo comercial que leva até a querer falar diretamente com todos os clientes.

Entenda-se uma coisa, a banca comercial tem um papel essencial. A banca comercial tem a relação do dia-a-dia com os empresários, tem a relação de liquidez, tem a relação de depósitos, tem um papel essencial. O banco soberano tem três grandes desafios. Primeiro, é o colateral do país inteiro. É o banco soberano que emite as garantias que permitem o financiamento e que simplifica a vida aos empresários e à banca comercial. Segundo papel, é o banco soberano de Portugal que tem o maior instrumento de capital do país, com quase dois mil milhões de euros para capitalizar as empresas onde a banca comercial não tem papel. E tem um terceiro grande papel, que é o de financiar as operações onde a banca comercial não tem a sua natureza. A natureza da banca comercial é financiar operações até dez anos, normalmente de forma estruturada, mesmo em grandes grupos, até cem milhões de euros, e para médios e bons riscos. O papel do banco soberano é permitir duplicar o financiamento a metade do preço pelo dobro do prazo. É esse o nosso papel.

Chegou a presidente do Banco Português de Fomento do BCP, da banca comercial, e é de uma família de empresários. Uma grande parte dos empresários, o que se queixa, é de encontrar sempre um Estado que coloca demasiados entraves e bancos que pedem, precisamente, como colateral para os empréstimos, avales pessoais. O Banco de Fomento é para uma elite empresarial ou vai falar com todas as empresas?

Começando pelo enquadramento pessoal e depois vamos ao detalhe. Todas as minhas relações familiares são com empresários. Eu sou filho, neto, sobrinho, irmão, primo de empresários. Toda a minha família é de empresários. Sou nascido e criado dentro das empresas, numa família que tem mais de 60 anos de vida empresarial em Portugal. O banco soberano tem hoje à frente da liderança um empresário nascido e criado, que teve uma experiência bancária no BCP, onde tenho um enorme orgulho pelo que foi feito, e que nos momentos certos deu a resposta certa ao país. Aquilo que o Banco de Fomento vai fazer é muito simples, é trabalhar com todas as empresas, com todos os empresários. Não há nem um banco de elites, nem um banco de minorias. Há um banco de todos, para todos, com todos. O nosso trabalho é permitir que as micros, as pequenas, as médias e as grandes empresas têm acesso a financiamento, a capital, a seguros de crédito, a fundos de investimento que lhes permitam crescer, que lhes permitam aumentar os seus ativos, aumentar o seu volume de negócios, aumentar o emprego qualificado, aumentar o emprego total, garantir exportações e ter um país mais próspero, mais rico e, sobretudo, criar mais valor.

Não terá sido seguramente pelo salário que saiu do BCP para o Banco de Fomento. O que é que motivou a sua saída para o Banco de Fomento?

Com 41 anos, considero que este é o momento, a idade e o tempo de servir o meu país. Esta é a maior honra da minha carreira pessoal e profissional. A equipa que me acompanha tem uma média de idade de 44 anos. Ou seja, a minha geração, a geração dos 40 aos 50, está hoje a liderar o banco soberano. E isso faz muita diferença. Porquê? Porque a energia, a intensidade, o sentido de serviço, a capacidade de fazer, de liderar pelo exemplo, de entregar aos empresários aquilo que é o nosso compromisso, que é um banco ao serviço de todos, na verdade faz muita diferença. Os dias são longos, as horas são intermináveis, os sábados e os fins de semana, os feriados não existem, mas estamos muitíssimo determinados em entregar ao país o que o país merece.

Ao fim de três anos de mandato, como é que vai medir o seu sucesso?

Queremos que o Banco Português de Fomento seja responsável por 1% do PIB em Portugal. É isto que queremos. Este é o plano estratégico que o banco tem e, portanto, queremos que o banco soberano seja o banco das empresas e dos empresários, esteja ao seu lado para todos os investimentos, que esteja agora nestas alturas de incerteza e de alguma mini tempestade, mas também esteja na bonança, para que tenhamos a proximidade, o respeito, aquilo que é o sentido de serviço, para que os empresários não precisem de nos chamar.

 

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