O CEO da Fidelidade admite que a experiência do grupo na América Latina está a correr muito bem e que isso aumenta o interesse em fazer mais compras nessa região, possivelmente ainda este ano.
O ano está a correr bem à Fidelidade, acompanhando o ciclo económico de crescimento do País. Mas se Portugal está a crescer enquanto mercado, é do outro lado do Atlântico que está um novo motor para a empresa. Na América Latina, a maior seguradora portuguesa está presente no Peru, na Bolívia, no Chile e no Paraguai, mas promete não ficar por aí. Em entrevista ao ECO, Rogério Campos Henriques é claro: “a América Latina transformou-se numa área relevante para a Fidelidade nos últimos anos e, portanto, é preciso perceber que o nosso negócio internacional representa hoje em dia mais de um terço da nossa receita”. E, por isso, a estratégia é para avançar: “temos apetite, aliás, por continuar a crescer e por fazer mais aquisições e crescer para outros mercados na América Latina”.
Já na Luz Saúde, que chegou a estar de IPO marcado, a solução deverá ser a venda privada de uma participação minoritária, possivelmente ainda este ano. Quanto aos resultados ligados a investimentos financeiros, há ainda muita poeira no ar, devido à instabilidade nos mercados: “na área dos investimentos é uma incógnita”, mas o tom geral para a empresa é de otimismo.
Para o início do próximo ano está prevista a mudança da Fidelidade para a nova sede, na zona de Entrecampos onde era a Feira Popular de Lisboa, um movimento que Rogério Henriques define como “um marco internamente, porque vai marcar uma nova fase”.
Rogério Campos Henriques é um dos candidatos ao Prémio CEO na edição deste ano dos IRGAwards, iniciativa da Deloitte que tem o ECO como parceiro.
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O tema deste ano dos IRGAwards é bastante aberto, Embracing Evolution, Inspiring Change, no fundo tem a ver com evoluir, tem a ver com adaptação, tem a ver com grandes tendências. Como é que uma empresa como a Fidelidade navega as águas turbulentas que estamos a viver hoje em dia?
A Fidelidade é uma empresa bicentenária e nós costumamos dizer que já sobrevivemos a guerras, grandes crises económicas, questões climáticas, enfim, há toda uma panóplia de disrupções. E ainda cá estamos e bem. Portanto, isso dá nota um pouco da solidez do nosso modelo de negócio e, de certa forma, como a nossa visão de longo prazo e como nós olhamos para o negócio em si e para a sociedade, como isso afeta a nossa forma de pensar. Nós temos sistematicamente uma visão que é mais estrutural, isso é evidente, muito típica de uma seguradora. Mas não estamos naturalmente imunes às dinâmicas pontuais da evolução da economia e da sociedade.
É evidente que todas aquelas alterações que vão surgindo, e este ano tem sido muito pródigo em dinâmicas de grande volatilidade, vamos chamar assim, afeta o nosso modelo de negócio. Porque não só a atividade seguradora está muito ligada à atividade económica – e nós até costumamos dizer que o que é bom para o país e para a economia é bom para a Fidelidade, e o que é bom para a Fidelidade é bom para o país – naturalmente que sim, mas por outro lado, também os mercados financeiros, e é importante perceber que a Fidelidade é um grande investidor institucional, é uma parte substancial do nosso negócio que tem a ver com poupança e com investimentos, e portanto nós somos afetados pelas dinâmicas de taxa de juros, pela inflação e por aí fora. E isso tem um impacto significativo também na rentabilidade pontual. No longo prazo, se calhar, menos, mas no dia-a-dia tem, de facto, um impacto e nós temos de estar preparados para gerir esta volatilidade.
Este ano até tem sido marcado exatamente por movimentos com uma amplitude extraordinária.
É verdade. É impressionante verificar que estava toda a gente tão otimista sobre a evolução macroeconómica e dos mercados, até há bem pouco tempo. No último par de meses, digamos assim, até talvez menos, de facto as coisas começaram a complicar-se e, portanto, temos que estar preparados para todos os cenários. Isso faz parte da nossa visão. Temos que ter uma visão estrutural, mas ao mesmo tempo estar preparados para a volatilidade no curto prazo. Está inerente ao nosso negócio.
Como é que está a correr este ano em termos de negócio da Fidelidade e qual é a expectativa? Conhecemos há pouco tempo os resultados do exercício anterior, de 2024, é de esperar que continue a aumentar o contributo internacional?
O mercado segurador nos últimos anos em Portugal tem crescido. Os seguros tradicionais têm crescido, têm crescido muitíssimo bem, aliás, acompanhando a dinâmica económica. Este ano estamos a ter outra vez um crescimento interessante. Aliás, a Fidelidade nos últimos anos tem sistematicamente ganho, paulatinamente, alguma quota de mercado nesta área dos seguros tradicionais, que toda a gente conhece, quer para as empresas, quer para as famílias. A dinâmica mantém-se este ano e, portanto, vemos bons níveis de crescimento e vamos ver se se mantém assim, com esta volatilidade macroeconómica. Mas há boas notícias desse ponto de vista.
Há uma realidade evidente para a qual nós temos que nos preparar. Tem havido em muitas áreas algum aumento do custo do preço dos seguros, porque há inflação nos custos, porque há, em alguns casos, aumentos de frequência e de sinistralidade. É o caso, por exemplo, da saúde, onde isso se nota de uma forma muitíssimo evidente. Há mais frequência, há muito mais utilização dos seguros de saúde do que havia há alguns anos. Os próprios atos médicos, hoje em dia, são mais caros. Todos nós vivemos e percebemos o que está a acontecer. E, portanto, isso faz com que o mercado cresça, não necessariamente a rentabilidade do mercado, mas que o mercado, o volume de prémios, cresça. Isso é bom, porque aumenta a proteção das pessoas. E, portanto, desse ponto de vista, nós vemos um ano que, correndo com esta dinâmica e não havendo grandes disrupções, vai correr bem. A volatilidade dos mercados financeiros este ano está-se a ver. Temos uma dinâmica positiva do lado da redução das taxas de juro, que tipicamente é positiva para nós, aí vai ser naturalmente benéfico, toda esta volatilidade também não era benéfica para ninguém.
Também não conseguimos dizer em abril ou maio como é que isto vai ser até final do ano….
É muito difícil. Nós, na Fidelidade, naturalmente somos muito fortes nas duas áreas, quer na área dos seguros não-vida, quer na área da poupança e dos seguros financeiros, temos esta dualidade. Com toda a franqueza, as coisas estão a correr relativamente bem, não vemos grandes problemas, mas temos que estar preparados, temos uma visão muito prudente para o que pode acontecer no resto do ano. Pode haver impactos na economia, todas estas dinâmicas que estamos a atravessar, e isso seria complicado, porque a verdade é que nos últimos anos Portugal tem tido uma resiliência assinalável. Tem crescido muito menos do que deveria, mas tem crescido, e portanto vemos aí alguma resiliência. Na área dos investimentos é uma incógnita. Temos que estar preparados para os melhores e os piores cenários, a redução das taxas de juros neste caso para nós é benéfica e portanto temos aqui uma postura moderadamente otimista, mas prudente.
É preciso escolher muito bem os mercados em que se está e os ativos em que se investe, mas estamos muito confiantes de que a área internacional vai continuar a ser um sustentáculo do crescimento e da rentabilidade
No universo Fidelidade, a América Latina hoje em dia é a nova estrela, digamos assim. Vai continuar a crescer?
É verdade. A América Latina transformou-se numa área relevante para a Fidelidade nos últimos anos e, portanto, é preciso perceber que o nosso negócio internacional representa hoje em dia mais de um terço da nossa receita. Apesar do crescimento fortíssimo que temos tido em Portugal, o negócio internacional representa mais de um terço, e ainda mais de um terço da rentabilidade. Tem sido uma aposta. Esta aposta na diversificação e no crescimento internacional tem-nos corrido verdadeiramente bem. Temos apetite, aliás, por continuar a crescer e por fazer mais aquisições e crescer para outros mercados na América Latina, porque acreditamos que temos as capacidades, temos o know-how, e já temos o track record que nos permite olhar para este tema com alguma confiança. Também somos prudentes, é preciso escolher muito bem os mercados em que se está e os ativos em que se investe, mas estamos muito confiantes de que a área internacional vai continuar a ser um sustentáculo do crescimento e da rentabilidade.
E podemos esperar alguma aquisição este ano?
Depende. Mas a verdade é que nós estamos a olhar para vários alvos.
Sempre na América Latina?
Neste momento estamos a olhar para vários alvos potenciais mas, como eu digo, é preciso fazer muito bem o nosso trabalho de casa, sermos muito prudentes, porque é sempre uma aposta. E tem que ser uma aposta segura, desse ponto de vista. Mas é possível que haja algumas novidades de aquisições este ano, pelo lado da Fidelidade.
E quanto à Luz Saúde, alguma novidade? O processo ficou um bocadinho em banho-maria. Qual é o ponto da situação?
Na Luz Saúde, o ano passado nós avançámos para a ideia de fazer um IPO, acabámos por não o concretizar porque as condições do mercado, entendemos nós, não eram propícias.
E às vezes os timings são completamente decisivos nesses processos.
Eu não me esqueço que na semana em que estávamos a fazer o IPO foi a semana em que houve aquele bombardeamento de Israel com mísseis vindos do Irão. Também não ajudou. E portanto, a verdade é que os mercados financeiros, com esta volatilidade, têm tido alguma responsabilidade nesse tema. Mas, de facto, nós não entendemos que, na altura, os valores que estavam em causa eram compatíveis com as nossas expectativas e, portanto, decidimos não avançar para a parte final do IPO. Estamos, neste momento, a estudar a hipótese de fazer uma venda minoritária, não num processo de IPO, mas numa venda privada, por exemplo, como uma hipótese que estamos claramente a considerar.
Para este ano ainda?
Temos que considerar que talvez este ano a coisa se possa propiciar, sim.

Vamos ter, provavelmente, em menos de um ano, a mudança da Fidelidade, das instalações, para uma coisa altamente badalada e marcante na cidade de Lisboa, ali para a nova sede em Entrecampos. Isto é uma mudança que tem alguma carga simbólica, é mais profundo?
Nós pensámos esta realidade há uns anos e posso dizer-vos que a ideia de mudarmos para um novo espaço tinha muito mais a ver com criarmos uma nova forma de trabalhar, juntarmos toda a gente, como é óbvio, que é uma tendência, mas não só isso. Ou seja, criarmos de facto um espaço de trabalho ainda mais funcional, onde as pessoas se sintam bem e onde aquela organização que precisa de aprender possa florescer da melhor forma. Para nós é muito marcante internamente porque vai fazer uma diferença substancial. Acreditamos que vai ser um marco internamente porque vai marcar uma nova fase. Mas vamos ser realistas, a empresa tem vindo a mudar enormemente e, portanto, não é porque mudamos para um novo espaço que de repente tudo muda. Acaba por ser, por um lado, um corolário do caminho que fizemos e por outro lado um de de partida para aquilo que ainda vamos fazer a seguir.
Nós estamos super entusiasmados internamente com isso, naturalmente, as pessoas estão ansiosas para mudar para aquele novo espaço mais moderno, mais funcional, mais acolhedor. Acreditamos que não é só a nossa sede, mas todo o projeto de intercâmbio vai criar uma nova centralidade em Lisboa, isso não temos dúvida nenhuma. A nossa sede está mais avançada e, portanto, nós, se tudo correr bem, mudamos no início de 2026 para o novo espaço, mas que pretende ser – quando ele depois estiver a funcionar vai-se perceber – um espaço muito aberto à comunidade. Não é um edifício fechado. É um edifício que permite fluidez e que quer também representar a nossa abertura à sociedade civil. Nós queremos estar cada vez mais perto das pessoas e dos nossos clientes e é um edifício que vai representar isso seguramente. Depois achamos que vai ser um projeto emblemático, que dentro do projeto de Entrecampos, que é muito mais amplo, vai ser um marco para a cidade, não temos dúvida nenhuma que sim. Portanto, estamos todos entusiasmados.
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“Temos apetite por continuar a crescer e fazer mais aquisições na América Latina”
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