Empresários avisam que é tempo de os partidos serem “os adultos na sala” e colocarem “a economia no centro do debate político”. A curto prazo, a governabilidade deve ser assegurada pelos socialistas.
Na ressaca das eleições legislativas que deram à AD uma maioria um bocadinho maior, afundaram a estratégia do PS de (ajudar a) precipitar uma crise política e devem conduzir o Chega ao estatuto de maior partido da oposição quando forem contabilizados os votos da emigração, os empresários portugueses ouvidos pelo ECO dramatizam que é tempo de os partidos serem “os adultos na sala” e colocarem “a economia no centro do debate político”.
A curto prazo, a governabilidade deve ser assegurada pelos socialistas em crise, mas durante a legislatura, que querem que dure quatro anos, Luís Montenegro deve “dialogar com todos” para executar as reformas estruturais com “sentido de urgência”.
Armindo Monteiro, presidente da CIP – Confederação Empresarial de Portugal, refere que “após o veredicto dos portugueses, é o momento dos partidos – todos os partidos sem exceção – levarem a cabo a sua parte da tarefa: serem os adultos da sala”. Visando sobretudo o PS, Armindo Monteiro sublinha que “o tempo dos moderados é hoje”. “Mais do que nunca, numa época pautada pelas disrupções, conflitos militares, deliberações unilaterais, movimentos populistas, guerras comerciais e políticas protecionistas, Portugal precisa que as forças políticas moderadas, responsáveis e comprometidas assumam as suas responsabilidades”.
O tempo dos moderados é hoje. (…) Portugal precisa que as forças políticas moderadas, responsáveis e comprometidas assumam as suas responsabilidades, pois são essas que melhor podem, devem e sabem separar o seu interesse partidário daquilo que é o basilar, fundamental e preponderante interesse nacional.
Para o patrão dos patrões, “são essas forças políticas que melhor podem, devem e sabem separar o seu interesse partidário daquilo que é o basilar, fundamental e preponderante interesse nacional”, exigindo à sua liderança “critério, sensatez, ponderação, compromisso, discernimento”. Até porque “a governabilidade do país é um imperativo” e “a economia não espera, os nossos concorrentes avançam e os cidadãos precisam de respostas imediatas aos seus problemas”. “Coloquemos a economia no centro da discussão política, num reforço claro da necessidade de as empresas assumirem um papel ativo na definição de uma agenda económica. As empresas não vão a eleições, mas garantem crescimento, emprego e criação de riqueza. Proporcione-se-lhes estabilidade, previsibilidade, segurança”, aponta.

Apesar de não ter saído das urnas uma maioria absoluta, João Vieira Lopes interpreta que o eleitorado mostrou uma “preferência clara” pela continuidade de Montenegro, pelo que até “existem condições para uma situação de estabilidade e governabilidade melhores do que no ciclo governativo anterior”, esperando a “rapidez possível” na posse do novo Executivo. O líder da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) adverte que “as empresas precisam do máximo de estabilidade e previsibilidade possíveis para desenvolveram as suas atividades, para em particular decidirem as opções de investimento que criam riqueza e postos de trabalho, e fazem crescer a economia portuguesa”.
“O essencial neste momento é que os líderes políticos encontrem formas de garantir o bom funcionamento do Governo e da Assembleia da República, de modo a que o país possa avançar com as reformas estruturais necessárias para crescer e competir a nível internacional. É imperativo agir com sentido de urgência. (…) Mais do que discutir nomes ou estratégias políticas, é fundamental garantir soluções sólidas, transparentes e com ambição transformadora, capazes de superar os entraves que têm travado o progresso de Portugal. O foco deve estar em propostas concretas que criem riqueza, valorizem e celebrem o sucesso de pessoas e empresas”, resume Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da Associação Business Roundtable Portugal (BRP).

Lendo nos resultados saídos das urnas que “o país não quer mais eleições”, José Eduardo Carvalho, presidente da Associação Industrial Portuguesa (AIP), concorda que o sucessor de Pedro Nuno Santos no PS deve assegurar a entrada em funções do Governo da AD e garantir também desde já a viabilização do primeiro Orçamento do Estado (OE) que for apresentado na próxima legislatura. Até porque acredita que “a oposição que viabilize o programa de Governo e o OE será valorizada”. Já sobre as consequências que terá o fim do bipartidarismo, responde que “a democracia liberal em Portugal está consolidada”, rejeita que esta reconfiguração partidária vá “criar maior instabilidade política e social do que a que vivemos nos últimos anos” e nota que “quanto maior for a integração internacional da nossa economia, menor será a influência de fatores internos no desenvolvimento económico do país”.
A Norte, a Associação Empresarial de Portugal (AEP) sublinha que “num contexto externo particularmente adverso, apenas com um cenário político estável será possível implementar medidas capazes de assegurar a robustez económica de que Portugal precisa”. Dizendo que “a prioridade dos dirigentes políticos, inclusive do Presidente da República, deve ser assegurar a estabilidade governativa por forma a que seja possível implementar as reformas que o país tanto necessita”, mesmo que destas eleições não tenha saído “um cenário ideal de estabilidade”, Luís Miguel Ribeiro apela à “convergência numa solução governativa capaz de assegurar previsibilidade às empresas e investidores, bem como a execução dos fundos europeus”.
Envolver o Chega nas reformas estruturais
Igual apelo à estabilidade para ‘deixar o Luís trabalhar’ (slogan da campanha do líder da AD) é deixado pelos setores mais exportadores do país. É o caso da AIMMAP, que representa metalurgia e metalomecânica, a indústria nacional que mais vende no exterior (23.492 milhões de euros em 2024). Espera que Marcelo Rebelo de Sousa, que esta terça-feira recebe em Belém as delegações do PSD, PS e Chega no Palácio de Belém, dê posse ao novo Executivo “com a maior brevidade possível”. Até porque, destaca Rafael Campos Pereira, “tendo mais deputados do que a esquerda toda junta, a AD tem obrigação de fazer mais e melhor no sentido de implementar as reformas de que o país precisa”.
E se no imediato o PS tem “a obrigação” de viabilizar o Governo da AD, apoiar a eleição do presidente da Assembleia da República e deixar passar o primeiro Orçamento – “mais do que isso, no imediato, ‘cheirará’ a bloco central, o que não é bom para a democracia”, adverte o porta-voz da AIMMAP -, para implementar reformas no decorrer da legislatura, Montenegro “não tem de ter parceiros privilegiados” e “deverá dialogar com todos e fazer com que todos assumam as suas responsabilidades, incluindo o Chega. Já sobre a reabilitação socialista, Campos Pereira acha que “o PS corre sérios riscos de erosão se não centrar o seu discurso e se não se libertar de uma vez por todas das heranças de Sócrates e António Costa”.
A AD deverá implementar o seu Governo e fazer as reformas a que se propõe. Não tem de ter parceiros privilegiados. Deverá dialogar com todos e fazer com que todos assumam as suas responsabilidades.
“Portugal tem andado aos trambolhões nestes últimos anos e isso cria um desconforto e um mal-estar às populações. É notório que não se conseguiu a estabilidade que o povo quer”, desabafa o líder dos industriais do vestuário e confeções (Anivec). Concorda que seja o PS a garantir já também a aprovação do próximo Orçamento, até para “não mergulhar o país noutra crise política” e “correr o risco de ter um pior resultado”. No entanto, daí para a frente, para negociar outros dossiês e até acordos de regime, César Araújo frisa igualmente que “cabe ao Governo decidir com quem deve fazer acordos e em que momentos”. “É irrelevante, o mais importante é a estabilidade do país”, completa.

O porta-voz da associação do calçado (Apiccaps), setor que viu as exportações crescerem 5,4% até março, mesmo com um recuo de 12,7% nas vendas para os EUA, adverte que “o país não pode enfrentar todos os anos novos ciclos eleitorais” e que no atual clima de “profunda incerteza” a nível mundial são ainda mais necessárias “condições de estabilidade e de governabilidade”. “É tempo de os partidos do arco da governação priorizarem os interesses do país, em vez dos interesses partidários”, aconselha Paulo Gonçalves.
Já o cluster que inclui indústrias como o mobiliário, colchoaria, têxteis-lar, cutelaria, cerâmica, iluminação e tapeçaria, representado pela APIMA e que exporta mais de dois mil milhões de euros por ano, sustenta que Luís Montenegro “deve procurar acordos de governabilidade com os restantes partidos, com todos os que possam garantir estabilidade democrática e que demonstrem sentido de Estado, procurando uma solução a quatro anos”. Gualter Morgado, diretor executivo desta associação empresarial, lembra igualmente que “o mundo está a atravessar uma conjuntura muito difícil e é necessária uma forte união para a superar: o coletivo é mais importante que o indivíduo”.
Esta segunda-feira, Marcelo Rebelo de Sousa disse acreditar que AD, PS e Chega vão “colaborar na governabilidade”, tendo em conta as incertezas internacionais, mas admitiu que o impasse se pode prolongar mais algumas semanas, atirando o feriado de 10 de junho como uma data indicativa para ter um Governo formado. O presidente da Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais (Assimagra) pede “celeridade” neste dossiê, pois “prolongar o atual cenário de um Executivo em gestão apenas alimenta a incerteza e paralisa decisões estratégicas para o país”.
Cabe ao PS evitar bloqueios que prejudiquem a governabilidade, assumindo uma postura crítica e construtiva, sempre colocando os interesses do país acima da lógica partidária.
Miguel Goulão, que lidera este setor constituído por cerca de 2.000 empresas e emprega mais de 14 mil pessoas, entende que “quem vence sem maioria absoluta tem a responsabilidade de construir pontes no Parlamento e garantir apoio, pelo menos, para os dois primeiros Orçamentos do Estado”. Algo que deve ser garantido pelo PS, “num espírito de responsabilidade institucional”, a quem diz caber “evitar bloqueios que prejudiquem a governabilidade, assumindo uma postura crítica e construtiva, sempre colocando os interesses do país acima da lógica partidária”.
“Os grandes acordos nacionais — como os Orçamentos e reformas estruturais — devem ser negociados com partidos que partilhem valores europeístas, democráticos e de responsabilidade orçamental. Nesse sentido, o PS surge como o interlocutor natural. Qualquer aproximação a forças mais radicais, como o Chega, deve ser analisada com cautela para não comprometer a imagem externa do país nem afetar a confiança dos investidores. Contudo, devemos manter o foco no interesse nacional: nenhum entendimento deve ser descartado à partida, desde que respeite os princípios democráticos e contribua para a estabilidade e o progresso de Portugal”, conclui.
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“A economia não espera.” Empresários pedem ao PS para ‘deixar o Luís trabalhar’
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