Como André Villas-Boas quer endireitar as contas do FC Porto

Com uma vitória esmagadora nas urnas, André Villas-Boas assume esta terça-feira a liderança do Dragão para colocar o FC Porto no caminho das "contas certas", sem perder a ambição desportiva.

Na recente eleição que determinou o novo rumo na liderança do Futebol Clube do Porto, André Villas-Boas emergiu não apenas como uma figura icónica, mas como o estandarte de uma nova era para os dragões que se inicia esta terça-feira com a sua tomada de posse, pelas 12 horas, como 34.º presidente da história do FC Porto.

Com uma vitória esmagadora sobre Jorge Nuno Pinto da Costa, arrecadando 79,96% dos votos, o ex-treinador e agora presidente traz consigo não apenas a esperança, mas um compromisso de rejuvenescer e estabilizar o clube que respira uma história centenária de conquistas e paixão.

“Hoje o FC Porto está livre de novo. Este é o FC Porto dos sócios e para os sócios, que vai ser competitivo, que lidera pelo exemplo, um FC Porto vencedor“, disse Villas-Boas no discurso na sua sede de candidatura após conhecimento dos resultados das eleições de 27 de abril, quebrando um ciclo de 15 mandatos e 42 anos de Pinto da Costa.

A reestruturação financeira, delineada como a espinha dorsal do seu programa eleitoral, reflete uma estratégia meticulosa destinada a recuperar e assegurar a estabilidade económica do clube, enquanto promete manter a competitividade desportiva ao mais alto nível.

Iremos realizar uma revisão completa das obrigações de dívida existentes no clube, incluindo taxas de juros, prazos de pagamento e passivo geral.

André Villas-Boas

Portista de coração e sócio n.º 7.616, a jornada de Villas-Boas até à presidência do clube azul e branco é marcada por um profundo conhecimento tanto dos sucessos passados quanto dos desafios que se avizinham no horizonte da sua presidência.

O novo presidente do FC Porto não é um novato nos corredores do Dragão. A sua conexão com o clube começou cedo, moldando-se nas arquibancadas e evoluindo para as linhas táticas como treinador onde, na época 2010/2011 venceu tudo o que havia para ganhar pelo seu clube.

Para o futuro, a visão de Villas-Boas para o FC Porto não é apenas uma questão de ambição, mas de necessidade urgente às exigências de um ambiente desportivo e financeiro cada vez mais competitivo, que o clube tem mostrado dificuldades em ultrapassar.

O novo presidente do FC Porto, André Villas-Boas, cumprimenta apoiantes após serem conhecidos os resultados das eleições para os órgãos sociais do clube, na sua sede de campanha, no Porto, 27 de abril de 2024. Ex-treinador do FC Porto, André Villas-Boas está prestes a tornar-se o 34.º presidente da história do clube, quebrando um ‘reinado’ de mais de quatro décadas de Pinto da Costa, na sequência do ato eleitoral mais participado de sempre, com cerca de 27 mil votantes. Fernando Veludo/LUSA 27 abril, 2024

Reduzir o passivo imediatamente

Confrontado com uma realidade onde o passivo do clube escalou para níveis preocupantes que colocaram a FC Porto SAD em falência técnica desde 2016, Villas-Boas coloca a reestruturação financeira no cerne das suas prioridades.

Até 31 de dezembro de 2023, o passivo total do clube era de 499 milhões de euros, com uma dívida financeira que ascendia a 310 milhões. Esta escalada da dívida representa um aumento significativo em comparação aos números registados uma década antes, quando o passivo total era de 202 milhões de euros e a dívida financeira fixava-se em 98 milhões de euros.

Este aumento substancial no passivo e na dívida financeira no espaço dos últimos dez anos não só complica a capacidade do clube de investir em novos jogadores e infraestruturas, mas também coloca uma pressão contínua sobre as suas operações diárias devido aos elevados custos financeiros que se traduzem numa fatura anual com juros de 23 milhões de euros por ano.

Além da reestruturação da dívida do clube, a nova administração do FC Porto pretende também implementar “medidas rigorosas de otimização de custos para reduzir despesas em todas as operações do clube”.

Diante deste cenário, Villas-Boas propõe uma série de medidas estratégicas para abordar o passivo do clube, mas sem prescindir do atual modelo de propriedade do clube e da SAD. Uma das primeiras ações que deverá tomar é a renegociação das condições de dívida, procurando termos mais favoráveis que possam aliviar o fardo financeiro.

“Iremos realizar uma revisão completa das obrigações de dívida existentes no clube, incluindo taxas de juros, prazos de pagamento e passivo geral”, que será acompanhado por “negociações construtivas com credores para explorar oportunidades de reestruturação da dívida”, refere Villas-Boas no seu programa eleitoral.

Há cerca de duas semanas, em declarações à Lusa, Villas-Boas revelou que os bancos de investimento JP Morgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs estão interessados em renegociar a dívida do FC Porto. “Sentámo-nos com três dos principais bancos do mundo e todos mostraram interesse em trabalhar com o FC Porto para a renegociação da dívida”.

Além da reestruturação da dívida do clube, a nova administração do FC Porto pretende também implementar “medidas rigorosas de otimização de custos para reduzir despesas em todas as operações do clube, com especial enfoque na rubrica ‘fornecimentos e serviços externos’ e na rubrica ‘outros’ onde o FC Porto paga anualmente dezenas de milhões de euros, incluindo uma revisão das despesas de representação assim como dos custos com a administração”, lê-se no programa eleitoral do novo presidente do clube portista.

A diversificação das fontes de receita também desempenha um papel crucial no plano da equipa de Villas-Boas. Isto inclui o aumento da monetização de ativos não explorados, como direitos de imagem e parcerias estratégicas, bem como a exploração de novas oportunidades de mercado, tanto a nível nacional como internacional.

Associado a isso, o programa de Villas-Boas dá igualmente ênfase à inovação, um pilar para alcançar a sustentabilidade financeira do clube e da SAD. O seu plano inclui a modernização de infraestruturas e a adoção de tecnologias avançadas que podem reduzir custos operacionais e, ao mesmo tempo, aumentar a eficiência.

Projetos como a digitalização de serviços do clube e a melhoria das plataformas de envolvimento dos adeptos e sócios são vistas pela nova liderança como elementos capazes de otimizar os recursos, mas também de abrirem novos canais de receita através de merchandising e marketing digital.

Aposta desportiva e mais transparência

A saúde financeira de um clube de futebol está intrinsecamente ligada ao seu sucesso dentro de campo. Por essa razão, a reestruturação financeira planeada pela equipa de Villas-Boas para o FC Porto visa não apenas equilibrar as contas, mas também criar um ambiente onde o sucesso desportivo possa ser sustentado a longo prazo.

“A Academia CTFD do Olival e o Centro de Alto Rendimento serão a garantia de estabilidade económica e desportiva do clube e o eixo principal do projeto desportivo”, refere o programa eleitoral do novo presidente do FC Porto.

No plano de Villas-Boas está a construção de um Centro de Alto Rendimento para as equipas profissionais do FC Porto (A e B) no Olival em terreno adjacente ao atual CTFD onde se instalará a formação, lê-se no seu projeto eleitoral. No entanto, muito recentemente, sob a administração de Jorge Nuno Pinto da Costa, os dragões finalizaram a compra de uns terrenos na Maia para a construção da academia por 3,4 milhões de euros e cujas obras já tiveram início.

Esta situação deverá levar a nova administração do clube a rever os seus planos iniciais nesta matéria. “Provavelmente vou ter de ficar com a Academia na Maia”, referiu Villas-Boas em entrevista à SIC, poucos dias antes das eleições. No entanto, “o que queremos fazer é olhar para os contratos assinados, porque ninguém faz ideia quais são. Não posso é permitir que o F. C. Porto se atrase na construção das suas infraestruturas. Olharei para os contratos da Maia e estabelecer a melhor decisão para o FC Porto”.

A sua liderança vai para lá da conquista de resultados financeiros imediatos. Alarga-se à ambição de construir um legado de sucesso sustentável e de transparência, tanto dentro como fora das quatro linhas.

Reconhecendo a importância de ter um pipeline de talentos sustentável, Villas-Boas está também empenhado em fortalecer a academia de jovens do FC Porto. O novo líder dos dragões pretende adotar uma abordagem mais integrada, que conecta o desenvolvimento juvenil com a estratégia maior do clube.

Isso inclui o aumento dos investimentos em recrutamento e formação de jovens, com um enfoque especial em identificar e nutrir jovens talentos locais, com o intuito de “desenvolver um criterioso processo de prospeção, análise e seleção, visando dotar permanentemente as equipas do FC Porto com o melhor talento tanto a nível sénior como a nível formativo”.

Não menos relevante no plano de Villas-Boas está também a aposta de promover maior transparência e envolvimento dos sócios e adeptos do FC Porto na vida do clube. Para esse efeito, o novo presidente dos dragões pretende promover ações que visem manter uma relação transparente e aberta com os adeptos do clube, por via de uma comunicação aberta sobre as finanças e as estratégias que a sua administração pretende desenvolver.

Uma das iniciativas propostas para este efeito é a criação de fóruns e assembleias regulares onde os adeptos possam expressar as suas opiniões e preocupações. Estes encontros servirão como uma plataforma para a discussão de ideias e feedback direto, reforçando a sensação de pertença e influência sobre as direções tomadas pelo clube.

A visão de Villas-Boas para o “novo” FC Porto assenta num plano estratégico holístico que assenta os alicerces na reestruturação financeira clube ao mesmo tempo que promete uma gestão desportiva mais eficaz. A sua liderança vai para lá da conquista de resultados financeiros imediatos. Alarga-se à ambição de construir um legado de sucesso sustentável e de transparência, tanto dentro como fora das quatro linhas. Mas para isso ser visível, será preciso dar tempo à nova equipa que inicia funções esta terça-feira. O problema é que tempo e paciência são elementos que escasseiam cada vez mais no futebol português.

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