Lucros do PSI sobem 45% no melhor trimestre de sempre

As maiores cotadas nacionais tiveram lucros próximos de 2 mil milhões de euros no terceiro trimestre, o valor mais elevado de sempre, que foi alcançado à custa de uma melhoria substancial nas margens.

Os sinais de abrandamento na economia global intensificaram-se no terceiro trimestre, uma tendência também evidente em Portugal, mas as maiores cotadas portuguesas (ainda) não sentiram a pressão. Entre julho e setembro conseguiram entregar os lucros mais elevados de sempre num trimestre, tirando partido da melhoria substancial das margens.

As cotadas que integram o PSI consolidaram lucros de 1.822 milhões de euros no terceiro trimestre, que se traduz num aumento homólogo de 45% e suplanta por uma larga margem o anterior recorde (1.575 milhões de euros o segundo trimestre de 2022). Este valor acumulado não contempla ainda os números da Greenvolt e Ibersol (só apresentam contas esta semana) e incluem a Mota-Engil, que nos últimos anos não divulgou resultados trimestrais.

O forte crescimento dos lucros no terceiro trimestre denota uma melhoria significativa na atividade operacional das maiores cotadas portuguesas, sobretudo ao nível da evolução dos custos, tendo em conta que o EBITDA (resultados antes de juros, impostos, amortizações e depreciações) também evoluiu de forma muito favorável, apesar da descida das receitas.

As empresas do PSI consolidaram um EBITDA de 4.823 milhões de euros (segundo valor mais elevado de sempre num trimestre), o que traduz um crescimento de 22,6%. Já as receitas recuaram 6,2% para 23.864 milhões de euros — foi o segundo trimestre de variações negativas. Esta evolução permitiu uma melhoria considerável na margem EBITDA do PSI, com o peso do EBITDA nas receitas a subir para 20,2%, contra 17,5% no segundo trimestre.

O bom desempenho no terceiro trimestre permitiu compensar o declínio registado nos três meses anteriores, período em que os lucros e o EBITDA tinham registado quedas homólogas próximas de 30% (pior desempenho desde a pandemia) e as receitas sofrido a primeira descida desde 2021. No primeiro trimestre do ano, os lucros tinham mais do que duplicado.

Acima do esperado

Além de terem apresentado taxas de crescimento significativas, as cotadas portuguesas conseguiram superar as previsões dos analistas, que apontavam para subidas mais modestas dos resultados. Uma análise publicada pelo ECO no final de outubro, quando estava a arrancar a época de apresentação de resultados, apontava para descida de 10% das receitas, aumentos de 9% no EBITDA e subida de 29% nos lucros. As receitas baixaram quase metade do previsto, o EBITDA aumentou o dobro do esperado e o crescimento dos lucros foi bem superior.

Os resultados acima do esperado contribuíram para o desempenho positivo da bolsa portuguesa, que acentuou nas últimas semanas a tendência de alta que regista em 2023. O PSI acumula ganhos de 10% desde o arranque do ano, marcando uma valorização de 8% desde os mínimos fixados nas primeiras sessões de outubro.

Nas bolsas internacionais, o desempenho mais recente também tem sido muito positivo, com os investidores confiantes que os bancos centrais vão começar a reduzir os juros já no segundo trimestre, uma vez que a inflação está a aliviar e a economia a intensificar os sinais de abrandamento. O Stoxx 600, índice que agrupa as maiores cotadas europeias, valoriza 7,5% em 2023, abaixo do retorno do índice português.

As cotadas portuguesas do PSI transacionam atualmente a apenas 8,7 vezes os lucros alcançados nos últimos 12 meses, um PER (price earning ratio) substancialmente inferior ao do Stoxx 600 (12,45 vezes). Quando analisadas as estimativas de lucros para os próximos 12 meses, o PER do índice português (10,9 vezes) já está alinhado com o Stoxx 600 (10,3 vezes).

Contudo, se as empresas lusas estão a aumentar os lucros a um ritmo considerável, no Stoxx 600 a tendência é inversa. De acordo com os dados recolhidos pela LSEG, os lucros das companhias que integram o índice europeu desceram 11,4% no terceiro trimestre. Acresce que as previsões dos analistas apontam para mais dois trimestres de variações homólogas negativas nos lucros.

Lucros em nove meses acima de 2021 completo

No acumulado dos primeiros nove meses do ano, as cotadas do PSI consolidaram resultados líquidos de 4.224,9 milhões de euros, um crescimento de 30,1% face ao período homólogo e que confirma a evolução positiva das contas das empresas portuguesas, que a volatilidade de apenas um trimestre poderia esconder.

Os lucros alcançados entre janeiro e setembro ficam apenas a 11% do valor registado em todo o ano passado (4.567,4 milhões de euros), que já tinha sido o montante anual mais elevado de sempre para as empresas do índice. Parece assim garantido que 2023 será o terceiro ano seguido de lucros recorde nas empresas do PSI, um ciclo que surge depois de três anos de evoluções negativas (entre 2018 e 2020). Nota ainda para o facto de os lucros nos nove meses de 2023 serem já superiores ao registado em qualquer um dos anos completos anteriores a 2022.

O EBITDA conjunto situou-se em 12.993 milhões de euros, um crescimento homólogo de 6,5% para um valor que está perto do fixado em todo o ano 2021. As receitas baixaram 4,4% para perto de 70 mil milhões de euros, pelo que a margem EBITDA melhorou 1,3 pontos percentuais para 18,7%.

Mais lucros a cair do que a subir

O perigo de analisar apenas os grandes números é que pode esconder uma tendência que não é percetível nos valores agregados. No caso dos resultados do PSI, a evolução global é muito positiva, mas são menos as empresas que estão a aumentar os lucros do que as que apresentam uma variação negativa.

O crescimento de 45% nos lucros do terceiro trimestre para um valor recorde foi conseguido à custa do desempenho das maiores empresas: EDP, EDP Renováveis, BCP, Galp Energia e Jerónimo Martins obtiveram lucros superiores a 200 milhões de euros cada uma e, em conjunto, representam 83% dos resultados líquidos totais do PSI.

Acresce que estas cinco companhias foram as únicas a melhorar os lucros face ao período homólogo. As outras oito reduziram e no caso da Mota-Engil não é possível comparar (face à ausência dos resultados do ano passado).

As empresas do grupo EDP mais do que duplicaram os lucros e o BCP foi o grande destaque, com os resultados líquidos a multiplicarem quase oito vezes. Evoluções que demonstram o momento positivo dos setores da energia e da banca. Tendo em conta os números dos primeiros nove meses do ano, as empresas que baixaram os lucros (Navigator, Sonae, Nos, Altri e Semapa) já são menos do que as que aumentaram (oito cotadas).

Sendo certo que 2023 será mais um ano de lucros recorde no conjunto do PSI, a capacidade das empresas continuarem a lidar com os constrangimentos do abrandamento da atividade económica, juros elevados e outros “ventos contrários”, ditará se é possível manter este ritmo de crescimento dos resultados nos próximos trimestres.

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