2025: Como reduzir o fosso entre a economia americana e a europeia?

Se compararmos as economias americana e da Zona Euro, observamos que em 1999 a americana era, em termos de paridade de poder de compra, 11% maior do que a da Zona do Euro.

O Presidente Trump, mesmo antes de tomar posse, já conseguiu hostilizar alguns dos seus aliados e parceiros económicos como o Canadá, a Dinamarca e o Panamá, enquanto manteve uma postura conciliadora em relação a países como China, Rússia e Irão — mas, ainda assim, é inegável que os Estados Unidos entram em 2025 com um ímpeto económico impressionante e com expectativas de crescimento. Os EUA são a única grande economia onde a produção está acima das tendências pré-pandemia, a taxa de desemprego está nos 4%, abaixo da média das últimas três décadas e a inflação está próxima da meta de 2% ao ano. Ou seja, nem será preciso que Trump torne a America “great again” porque (economicamente pelo menos) ela já o é!

Por outro lado, a Zona Euro, que celebra a 1 Janeiro 26 anos desde a criação do Euro em 1999, entra no ano novo numa desvantagem crescente em relação aos EUA. Recorde-se que o Euro, que passou a ser a moeda de mais de 300 milhões de pessoas na Europa, e cuja maioria dos objectivos foram atingidos, tinha também como um desses objectivos o fortalecimento da influência global da Europa.

Se compararmos as economias americana e da Zona Euro, observamos que em 1999 a americana era, em termos de paridade de poder de compra, 11% maior do que a da Zona do Euro. Esse fosso acentuou-se para cerca de 30% hoje. Também em termos de rendimentos per capita, os EUA deixaram a Europa para trás: em 2022, os rendimentos médios reais de um americano eram 35% superiores ao de um europeu médio em termos de paridade de poder de compra (um aumento face aos 27% no periodo anterior à crise financeira de 2008).

A superioridade económica dos EUA é hoje evidente. Os estados americanos possuem economias tão grandes quanto países inteiros: o Texas equivale à Itália (8ª maior economia do mundo), Nova Iorque ao Canadá (9ª maior), a Flórida à Espanha (15ª maior) e o Illinois à Arábia Saudita (19ª maior). Se analizarmos o PIB per capita, o PIB per capita da Alemanha é inferior ao do Mississipi, o estado americano com PIB per capita mais baixo, enquanto que o da Dinamarca fica abaixo do do Maine ou do Louisiana, e o da Noruega abaixo do de Nova Jersey ou Wyoming. Obviamente esta comparação também mostra as limitações de indicadores como PIB per capita para comparar países e bem estar das populações. Não restam muitas dúvidas, que independetemente do PIB per capita, a qualidade de vida é em média muito superior na Dinamarca ou Noruega do que no Lousiana ou Wyoming, só para dar alguns exemplos.

Mas focando a discussão no desempenho económico, entre outros fatores que favorecem a dominância dos EUA inclui-se a dominio das empresas tecnológicas americanas. Por exemplos, os vários rankings das empresas mais inovadoras do mundo são invariavelmente dominadas por empresas americanas. Nas top 5 mais inovadoras são todas americanas (Nvidia, Meta, Salesforce, Alphabet, Apple), entre top 25, 19 são americanas.

O mesmo acontece entre as maiores do mundo. As cinco maiores empresas do mundo em valor de mercado são todas americanas e tecnológicas (Apple, Microsoft, Nvidia, Alphabet e Amazon). Das vinte maiores empresas globais, dezassete são americanas, duas são asiáticas (Saudi Aramco, da Arábia Saudita, e Taiwan Semiconductor), e apenas uma é europeia: a dinamarquesa Novo Nordisk, que ocupa a 18ª posição. Mesmo alargando um pouco a análise, os EUA continuam a dominar, com empresas americanas representando 73% das 30 maiores empresas e mais da metade das 500 maiores.

A californiana de microchips Nvidia tornou-se a oitava empresa americana a valer mais de 1 trilião de dólares. Em contraste, na Europa, não houve uma única empresa fundada nos últimos 50 anos que atingisse o valor de 100 mil milhões de euros.

Na Europa o excesso de regulamentação e burocracia reduzem o crescimento da produtividade, e mercados de capitais fragmentados dificultam o financiamento eficiente. As regras, a burocracia desnecessária e as complicações fiscais tornam os negócios mais difíceis na Zona do Euro. Programas de apoio ao desenvolvimento económico na UE são complexos e ineficazes. São cadas vez mais as vozes que defendem que são precisas medidas drásticas para recuperar a competitividade, a UE deveria priorizar a redução da burocracia e a regulamentação excessiva. Mas são poucos os que acreditam que as instituições europeias vão ter capacidade de se reinventar.

Veja-se o caso da inteligência artificial, a qual tem um enorme potencial de acelerar a inovação em praticamente todas as indústrias e setores económicos. Enquanto EUA e China se têm afirmado pela implementação de estratégias para estimular o desenvolvimento e a aplicação da IA, a UE tem centrado a sua abordagem na ética e na regulamentação, sendo hoje líder na criação de políticas e diretrizes para o uso responsável da IA. A menos que a Europa consiga transformar a forma como investe e priorizar a inovação, o fosso em relação aos EUA continuará a crescer.

A União Europeia parece consciente do problema que voltou a ser realçado em vários relatórios recentes incluindo os preparados para a CE pelo ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Manuel Heitor, “Align, act, accelerate: Research, technology and innovation to boost European competitiveness”, e pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, “EU competitiveness: Looking ahead” que apontam para a necessidade de nos mobilizarmos e agirmos coletivamente com determinação. Agora temos de passar dos relatórios à prática!

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