A fazerem-nos de parvos são uns génios

PSD e CDS perderam a coerência no discurso do rigor orçamental ao caírem no beijo da morte de Mário Nogueira.

Jefferson Smith é um pacato americano e homem bom do interior que alguns políticos decidem levar para Washington tornando-o em mais uma marionete do qual pretendiam pôr e dispor. Em pouco tempo apercebe-se do lamaçal em que está envolvido e, revoltando-se, lança um discurso que dura 24 horas e que é um panegírico dos valores do melhor que a nobre arte da política tem. Sabemos que os heróis de Frank Capra, como este em “Mr. Smith Goes to Washington”, ou de John Ford (em “Último Hurrah” ou no “Young Mr. Lincoln) são do campo do sonho, da utopia. Nas comunidades actuais reina o cepticismo sobre os que ocupam cargos no Estado ou na esfera das grandes decisões da Justiça e da banca.

Ninguém fica indiferente quando lê que os bancos a quem todos pagamos os seus dislates e má gestão, como se os bolsos dos portugueses fossem um poço sem fundo, perdoam 116 milhões ao “milionário” João Pereira Coutinho ou outro “milionário como Diogo Vaz Guedes pede um perdão fiscal de 67 milhões quando a dita autoridade tributária não perdoa um cêntimo a quem não é conhecido nem frequenta os suplementos de economia dos jornais. Também dá para rir quando a Comissão de Ética do Parlamento, em duas legislaturas envolvendo 52 pareceres não detectou qualquer incompatibilidade aos deputados quando todos sabemos que muitos que ali se sentam são os principais “lobistas” do País. Claro que é fácil ser juiz em causa própria, pois são os colegas parlamentares que anuem perante esses comportamentos e são incapazes de aplicar sanções a pretensos prevaricadores, tudo com uma palmadinha nas costas, protegendo-se uns aos outros como os melhores códigos de conduta napolitanos ensinam.

Com tudo isto, num bailado de bizarrias que marca a sociedade portuguesa, não podia faltar o divertimento de uma série de meninos à volta da fogueira, como cantaria o Paulo de Carvalho, com a questão do descongelamento da carreira dos professores, que merecem todo o respeito, mas pelo qual os restantes cidadãos vão perdendo simpatia muito por culpa de um Mário Nogueira que é uma figura que não os beneficia e só lhes traz má reputação, aliás, é tempo dessa corporação procurar um novo rosto que lhes sustente de maneira mais positiva as suas reivindicações. Estranho foi a coligação negativa que se gerou com PSD, CDS, PCP e BE criando uma crise que António Costa soube superar pois como diria a insuspeita “The Economist”, «a crise reforçou a imagem de rigor orçamental». É certo que Mário Centeno caiu no goto, ao contrário de Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque, que nunca mostraram um caminho de esperança para os esforços de austeridade a que obrigaram os portugueses, mas o que salta mais à vista é que sobretudo PSD e CDS perderam a coerência no discurso desse rigor orçamental ao caírem no beijo da morte de Mário Nogueira e logo a seguir recuaram da posição de tacticismo eleitoralista em que tencionaram entrar.

«A verdadeira verdade é sempre inverosímil, para lhe dar verosimilhança é preciso misturar-lhe um pouco de mentira», como escrevia Dostoievski em “Os Possessos”. Não sabemos a verdade da manobra de Costa no inédito anúncio da sua demissão a prazo no caso do diploma passar, porém, sabemos que Rui Rio é o melhor seguro de vida do líder do PS como provou em mais uma declaração infeliz – já são tantas que provam a sua impreparação para cargos para lá da ponte da Arrábida – quando afirmou que «se Sá Carneiro não tivesse feito um partido, eu se calhar tinha ido para o PS» ou quando desautorizou os deputados sociais-democratas neste processo que relembra uma ópera-bufa. O que todos vemos diariamente é que, na política portuguesa, a fazerem-nos de parvos são uns génios e com isso vão cavando a sua própria sepultura num regime que vai apodrecendo para nossa desgraça.

O autor escreve segundo a antiga ortografia

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