A Jornada Mundial da Juventude e os seus efeitos
Mais importante do que os efeitos económicos são os efeitos estruturais qualitativos que a Jornada Mundial da Juventude poderá ter em Portugal.
A Jornada Mundial de Juventude é “o acontecimento” do ano em Portugal. Começa oficialmente na próxima segunda-feira, mas na realidade já começou há meses, pois os trabalhos preparativos foram muitos e intensos. A Jornada é um acontecimento ímpar, com um efeito a diferentes níveis que é muito difícil de avaliar. Em termos puramente económicos, o Instituto Superior de Economia e Gestão e a PwC fizeram uma primeira tentativa recorrendo à aplicação de matrizes input-output para a economia portuguesa.
As estimativas apontam para um efeito global de cerca de 500 milhões de euros em termos de valor acrescentado bruto (0,2% do PIB) e 1.000 milhões em produção. Estes valores resultam da visita de cerca de 700 mil estrangeiros e abrangem as suas despesas em alojamento, alimentação, transportes e outro consumo, e incluem efeitos indirectos relativos a empresas que fornecem os organizadores e os participantes, e induzidos resultantes da utilização do rendimento gerado em Lisboa pela Jornada.
O estudo não considera os efeitos relativos aos projetos de regeneração urbana no Parque Tejo e na frente ribeirinha do Concelho de Loures ou a valorização da imagem do país como destino turístico, nem outros efeitos de curto prazo associados à sobrelotação de serviços ou ao congestionamento do tráfego em algumas zonas da cidade.
Estes resultados podem ser comparados com a avaliação da Web Summit realizada em 2018 pelo Professor João Cerejeira, da Universidade do Minho, num trabalho que o Gabinete de Estudos do Ministério da Economia encomendou quando eu o dirigia.
Na altura foram avaliados os impactos directos, indirectos e induzidos da organização da Web Summit, e para os cerca de 70 mil participantes verificados em 2022 os valores estimados na produção foram de 150 milhões de euros e no VAB de 80 milhões de euros. Ou seja, seriam menos de um sexto dos que se esperam para as Jornadas.
Apesar de estes valores deverem ser considerados com algumas reservas – entre outras coisas porque a Web Summit é um evento anual em Portugal e a Jornada não – a sua existência mostra um dos contributos mais importantes da “troika” – do Fundo Monetário Internacional – que foi ter incentivado em Portugal uma cultura de avaliação das políticas públicas.
A prática de uma avaliação independente e rigorosa das políticas públicas há muito que é seguida no Reino Unido, nos Estados Unidos e nos países escandinavos, onde os governantes geralmente têm um respeito pelo dinheiro dos contribuintes que não se observa no resto da Europa.
Em Portugal houve uma tentativa para se implementar essa cultura de avaliação independente e rigorosa, e eu tenho orgulho de ter sido dos que nela participou. Infelizmente, a prática de avaliação perdeu independência e rigor. Basta comparar os valores dos multiplicadores usados na avaliação da Web Summit em 2018 – entre 0,7 e 1,5 – com os que foram associados ao PRR – inicialmente 9 (?) e, posteriormente, reduzido para 6 (?), sendo os dois totalmente irrealistas.
Efeitos estruturais
Mas mais importante do que os efeitos económicos são os efeitos estruturais qualitativos que a Jornada Mundial da Juventude poderá ter em Portugal. Uma cidade como Lisboa, com cerca de meio milhão de habitantes, vai receber 1 milhão de jovens durante mais de uma semana. O impacto que estes jovens vão trazer ao país será difícil de apreender e de descrever no imediato.
Os jovens “partem apressadamente” e “voam de todo o mundo para este lugar, e quando chegam” a Portugal trazem tudo o que está a desaparecer na nossa sociedade: o ideal de uma vida de alegria genuína que destaca num sorriso as virtudes mais nobres que uma pessoa pode ter e uma festa espontânea que expõe um sentido para a vida e a procura de ideais mais elevados.
As dezenas de milhar de voluntários e as centenas de milhar de peregrinos vão mostrar o que pode ser uma vida virtuosa, baseada no serviço, na humildade, na verdade e no conhecimento. Uma vida que não ignora as diferentes dimensões do ser humano – ódio e amor, ofensa e perdão, discórdia e união, dúvida e fé, erro e verdade, desespero e esperança, tristeza e alegria – mas que procura os outros e, neles, o que é bom. Procura consolar, compreender, amar, dar e perdoar. Procura, com inteligência e disciplina, a Luz onde estão as Trevas.
E “todos vão ouvir a sua voz”. Através destes jovens, as Jornadas vão sinalizar uma mudança para melhor porque baseada em comportamentos que negam o egoísmo individual e não fingem que a abnegação, o sacrifício, o esforço e a dedicação nada interessam, como manda a moda progressista. É o contrário do mudar pelo mudar que todos os dias enche televisões e jornais e que alimenta um relativismo que tudo subverte, que promove o que é fácil e imediato e que, por isso, não conhece a verdade.
Isto significa que a Jornada vai ser uma missão de cultura, da real e não da falsa, em que se junta a beleza de todo o conhecimento – a religião, a arte, a moral, a ciência, a lei e os costumes. Uma cultura onde rezar e cantar “com Maria ensaiam um Sim” e estarão no centro de todos os eventos. Uma missão que vai muito para além do extenso programa de concertos que estão previstos e onde sobressai a arte criativa e original em vez do experimentalismo e da cópia desenfreada que nas últimas décadas passaram por cultura.
A Jornada vai mudar muitas vidas através de uma redescoberta de valores e virtudes que vão marcar uma geração de portugueses para sempre, de vocações e conversões no meio de multidões, de caridade que põe o próximo em primeiro lugar, do “Pai, nosso Pai”. E ao mudar as nossas vidas pode ser um início para mudar Portugal e recolocá-lo no bom caminho. “Porque acreditaste, para sempre és feliz!”.
Boa Jornada!
P.S. Este foi o meu último artigo antes de férias. Regressarei após Agosto.
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