A perigosa teia Socialista

Perante isto tudo, a máquina de propaganda do PS pode dizer o que bem entender. Os portugueses conhecem a verdade. Uma perigosa teia socialista apoderou-se de uma grande parte do país.

A operação de terça-feira da semana passada do Ministério Público, que levou à detenção do chefe de gabinete do Primeiro-Ministro, do Dr. Lacerda Machado e à constituição de vários arguidos, resultou no pedido de demissão do Dr. António Costa.

O Partido Socialista e a sua máquina de propaganda têm procurado convencer as pessoas de que a demissão do Primeiro-Ministro resulta do último parágrafo do comunicado do Ministério Público:

  • No decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido. Tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente.”

É preciso desmistificar toda esta narrativa, de tão falsa que é. Não é mais que uma “narrativa mal-amanhada”.

Há três razões principais que obrigavam o Primeiro-Ministro a pedir a demissão, face à enorme gravidade do que sucedeu.

A primeira razão, a mais importante e que dá título a este artigo, é a perigosa teia socialista. Desde o final do Guterrismo que se instalou no país uma teia socialista com os mesmos protagonistas, as mesmas práticas duvidosas e os mesmos resultados desastrosos.

Foi assim com José Sócrates. Muitos dos que se disseram “envergonhados” com Sócrates, quando este foi detido, defenderam-no no passado para além do razoável. João Galamba, Augusto Santos Silva, Pedro Adão e Silva e Mariana Vieira da Silva (tantos “Silvas” que foram “parolos” – palavras de Augusto Santos Silva [1] – e não viram o Carlos Santos Silva) são alguns exemplos. Foram politicamente coniventes e, pior do que isso, participaram durante anos numa campanha de encobrimento de todas as suspeitas sobre Sócrates. Durante esses anos, usaram o insulto e a arruaça para atacar aqueles que duvidaram da honestidade do “querido líder” (*).

Essa teia socialista sobreviveu a José Sócrates, destruiu a liderança de António José Seguro (um homem sério) e reinstalou-se no governo, em 2015, com António Costa, ele próprio um ex-ministro de Sócrates.

É uma teia socialista que procura controlar tudo do ponto de vista político, económico e mediático. Procura controlar os órgãos de soberania (tem-lhe escapado a Presidência da República), controlar a Justiça, os órgãos de comunicação social e também o poder financeiro e económico.

Essa teia socialista usa depois o Estado e o poder para influenciar não apenas a política e o espaço mediático, mas também para negócios obscuros e vantagens indevidas. Este PS confunde o Estado com o partido. Sócrates não foi um parêntesis nem uma exceção, mas o pináculo de uma cultura que continuou a dominar.

A segunda razão é que nenhum Primeiro-Ministro pode permanecer no lugar quando temos o seguinte rol de acontecimentos:

O seu chefe de gabinete detido, suspeito de corrupção, e com 75 mil euros em notas no próprio gabinete em São Bento!

O seu melhor amigo (razão invocada pelo Dr. António Costa para justificar a intervenção do Dr. Lacerda Machado em vários negócios do Estado – o que se diria de um Primeiro-Ministro do PSD que fizesse o mesmo?) também detido, igualmente por suspeitas de corrupção!

O Ministro das Infraestruturas, que o Primeiro-Ministro promoveu, já sabendo da investigação sobre o lítio e o hidrogénio, e que manteve, provocando uma grave crise institucional com o Presidente da República, arguido por crimes de corrupção.

Vários outros governantes e ex-governantes também constituídos arguidos ou, pelo menos, com suspeitas.

Perante isto, é razoável pensar que o Primeiro-Ministro tinha condições políticas para continuar, mesmo que o comunicado do Ministério Público não contivesse aquele último paragrafo? Todo este processo (bem como o que se passou nestes anos), tornaram inevitável a demissão de António Costa.

Lamento, mas a “bússola moral” de António Costa é muito pouco confiável. Basta recordar como escolheu Miguel Alves para seu secretário de estado adjunto, sabendo que já era arguido por corrupção. Mas Miguel Alves, tal como a secretária de estado da Agricultura Carla Alves (que durou 26 horas), não foram demitidos por António Costa, tiveram eles de se demitir, porque o Primeiro-Ministro nunca foi capaz de perceber que não tinha condições para o cargo. Uma “bússola moral” avariada. O mesmo com Marco Capitão Ferreira na Defesa. E também Vítor Escária não foi demitido na sequência da sua detenção e constituição como arguido. Foi preciso descobrir-se 75 mil euros em notas no gabinete deste em São Bento para que o Dr. António Costa finalmente tivesse a coragem de o demitir. Uma “enorme” coragem de uma “bússola moral” muito avariada.

A terceira razão é que o governo ruiu por dentro. Desde março de 2022, depois de conquistar uma maioria absoluta, o governo e o Primeiro-Ministro foram totalmente incapazes de, por um lado, manter a estabilidade e a coesão interna do governo (foram 13 demissões no espaço de um ano e meio) e, por outro lado, empreender as reformas e mudanças que o país necessita e que os portugueses esperavam de um governo de maioria absoluta. Que estabilidade, credibilidade, confiança e competência davam este governo? O último ano e meio teve algo disso? O que se passou de escândalos e confusões não chegou?

Perante isto tudo, a máquina de propaganda do PS pode dizer o que bem entender. Os portugueses conhecem a verdade. Uma perigosa teia socialista apoderou-se de uma grande parte do país. As mesmas pessoas, as mesmas práticas e os mesmos resultados dos últimos 25 anos (2001, 2011, 2023).

(*)

Já em 2005 era difícil não ter algumas desconfianças sobre Sócrates. Afinal, já havia o Freeport, o caso da cova da Beira e uma vida de luxo acima do que os rendimentos permitiam. Mas, concedendo que ainda assim era possível dar o benefício da dúvida, os acontecimentos seguintes foram mais inequívocos.

Em 2009, já tínhamos o caso da licenciatura e do famoso Inglês técnico (sem esquecer que no CV de Sócrates aparecia uma pós-graduação que também se veio a descobrir ser um curso rápido, um mestrado no ISCTE que nunca foi concluído e que havia dúvidas sobre os registos no Parlamento); a compra da casa na Braamcamp, com um valor declarado muito abaixo dos restantes apartamentos; a fraude fiscal da empresa que produz os computadores Magalhães; um vídeo sobre o Freeport em que um Inglês diz que Sócrates era corrupto; ou o caso “Face oculta”.

E depois havia o caso da TVI e da PT e a tomada de poder no BCP, usando para esse efeito a CGD. Tudo configurava um plano de controlo do país e das suas instituições, que, no limite, tornaram-se uma ameaça à liberdade e à democracia. O condicionamento do jornalismo e da Justiça e as ligações perigosas com alguns magistrados.

Em 2009, ocorreu igualmente o caso das escutas de Belém, em que um governo procurou atacar a Presidência da República, violando correspondência de um jornal. Belém era, como a intervenção do Presidente Cavaco Silva no caso da compra da TVI mostrou, um dos poucos redutos não rendidos a Sócrates.

Convenhamos que era capaz de ser já evidente que Sócrates não era propriamente um tipo sério e honesto.

O que se passou depois, em 2011, não merece desculpa. Afinal, depois de ter conduzido Portugal à pré-bancarrota, ter em três anos duplicado a dívida pública e poucas semanas depois de chamar a Troika, Sócrates foi reeleito no PS com 94% dos votos. Assim mesmo, à albanesa.

Em 2014, quando a operação Marques desencadeou a prisão de Sócrates, ficámos a conhecer um conjunto de suspeitas. E ficámos também a saber, reconhecido pelo próprio, que um ex-Primeiro Ministro vivia de empréstimos de um amigo. Amigo esse que tinha feito fortuna através de contratos de obras públicas ganhos no tempo de Sócrates como Primeiro-ministro. E ganhos numa empresa que, antes de 2005, era uma empresa regional e que, passados seis anos, já estava em vários países.

[1] https://observador.pt/especiais/augusto-santos-silva-vejam-o-parolo-que-sou-era-do-nucleo-politico-de-socrates-e-nunca-dei-conta-da-existencia-de-outro-santos-silva/

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